O professor Charles Chelala, da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e vice-líder do Grupo de Pesquisas e Estudos Avançados em Petróleo e Sustentabilidade (FOES), da Bacia do Amazonas, detalhou em entrevista à TV 247 as razões pelas quais considera segura a exploração petrolífera na Margem Equatorial, a chamada Foz do Amazonas, e por que ela representa uma oportunidade estratégica para o Brasil no contexto da transição energética.
“A produção petrolífera, especialmente a offshore, é de baixíssimo impacto. Ela é de alto risco, mas impacto e risco são coisas diferentes. O impacto tende a ocorrer com a atividade; o risco só em caso de acidente. E mesmo assim, a Petrobrás tem histórico de atuação segura, sem acidentes consideráveis”, explicou Chelala.
O professor esclareceu que o bloco exploratório fica a cerca de 500 quilômetros da costa do Amapá, muito distante da Foz propriamente dita. “O nome da bacia é Foz do Amazonas, mas o local da perfuração está muito longe da costa. É um equívoco imaginar que se está perfurando dentro da foz do rio”, afirmou.
Chelala destacou que as correntes marítimas da região empurram qualquer eventual vazamento de óleo para o alto-mar, e não para o litoral.
“As simulações mostram que a força das águas do rio Amazonas empurra qualquer dispersão para o oceano. Encontram-se até sedimentos do rio na costa da África. Mesmo o Greenpeace, quando soltou boias com GPS, verificou que nenhuma tocou a margem”, pontuou.
Ele lembrou ainda que o Amapá possui uma das costas mais ricas em manguezais do planeta, e que os estudos realizados demonstram impacto praticamente nulo em caso de vazamento.
Chelala também disse que não haveria ameaça a corais na área de exploração. “Nunca foram observados corais vivos naquela região. O que há são formações geológicas sem forte presença de vida. Essa desinformação surgiu de interpretações equivocadas e acabou sendo explorada politicamente”, explicou.
Segundo o professor, a confusão sobre “corais da Foz do Amazonas” e a nomenclatura da bacia alimentaram a oposição à exploração, mesmo sem base científica.
O especialista lembrou que o bloco exploratório foi leiloado em 2013 e que o processo de licenciamento ambiental se estendeu por anos devido a falhas nas análises iniciais feitas por empresas estrangeiras.
“Quando a Petrobrás assumiu 100% da operação, refez tudo com profundidade, inclusive criando um hospital de fauna no Oiapoque”, contou.
A simulação de acidente, chamada Avaliação Pré-Operacional (APO), envolveu a dispersão de líquidos inertes e boias representando animais para testar o plano de emergência da estatal.
“Foi o estudo mais profundo já feito naquela região. A Petrobrás criou ciência. Ainda bem que é a Petrobrás, porque se fossem outras empresas, eu não estaria tão seguro”, afirmou Chelala.
Transição energética e soberania nacional
Para o pesquisador, a exploração da margem equatorial é essencial para manter a segurança energética do país até a consolidação da transição para fontes renováveis.
“O Brasil produz 3,6 milhões de barris por dia e consome quase três milhões. O pré-sal vai começar a declinar a partir de 2030. Se não explorarmos novas reservas, teremos de importar petróleo mais caro e mais poluente”, alertou.
Chelala ressaltou que o petróleo brasileiro está entre os que menos emitem gases de efeito estufa e que a Petrobras é pioneira no sequestro e reinjeção de carbono nos poços.
Ele também destacou que parte dos royalties e tributos, que podem chegar a R$ 2,3 bilhões anuais apenas no Amapá, deve ser direcionada a populações ribeirinhas, quilombolas e indígenas, além de investimentos em energias alternativas.
“O Amapá é uma potência em energia solar, eólica e hidrelétrica. Temos potencial para produzir hidrogênio verde. A renda do petróleo pode ser o impulso para esse salto energético”, disse.
Desenvolvimento e riscos socioeconômicos
O professor alertou, no entanto, para os impactos sociais e urbanos que o novo ciclo econômico pode trazer ao estado.
“O PIB do Amapá é pequeno e dependente do poder público. Essa atividade vai mudar nossa matriz econômica, mas também atrair migração, especulação imobiliária e pressão sobre infraestrutura e serviços públicos”, observou.
Ele defendeu a preparação antecipada dos municípios e investimentos em educação, saneamento e qualificação profissional.
“Estou muito mais preocupado com o lixão de Oiapoque e com a falta de saneamento do que com a fauna petrolizada. Se nos prepararmos bem, podemos transformar essa oportunidade em desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Chelala confirmou que a Petrobrás é hoje a única operadora do bloco exploratório, após comprar as partes da Total e da British Petroleum.
“Isso é fundamental. A Petrobrás tem o conhecimento e a responsabilidade necessários para atuar com segurança. O Brasil domina a tecnologia de exploração em águas profundas como poucos países no mundo”, concluiu.
Fonte(s) / Referência(s): Brasil 247