Em Pecém (CE), o sonho de liderar a transição energética dá lugar ao realismo: rotas para a China, mais cabotagem e uma aposta na ferrovia Transnordestina. Maximiliano Quintino, um típico cearense que gosta de boas piadas mesmo em momentos ruins, não pôde esconder o pessimismo poucas semanas após assumir a presidência do Complexo do Porto de Pecém, um dos principais vetores de crescimento econômico do Ceará.
Mal havia assumido o cargo, no começo deste ano chegou a notícia de que o Operador Nacional do Sistema (ONS) não iria autorizar o envio da energia necessária para transformar o complexo no maior produtor de hidrogênio verde (H2V) do mundo.
Com a Europa sob o impacto da invasão russa à Ucrânia aliada às pressões ambientais, o H2V havia se transformado na panaceia aos problemas globais de energia no início da década. Empresas de todo o mundo anunciaram investimentos em Pecém, assinaram contratos de reserva de terrenos e planejavam inundar a Europa com o combustível mais verde de planeta.
“Eu ainda acredito no projeto, mas acho que talvez tenha havido um otimismo um pouco exagerado por conta do contexto do momento”, avalia o executivo.
Max, como é chamado, percebeu que o encontro das esperanças com a realidade não traria resultados rápidos. “É claro que foi duro perceber que a energia não ia chegar, que os custos de produção eram muito altos e que os compradores potenciais já não estavam tão animados como antes com o hidrogênio verde”, diz. “Mas Pecém é tão grande que eu sempre pensei que o nosso caminho era diversificar nossa operação”.
Neste seu primeiro ano de gestão, Max considera como um dos seus maiores trunfos a expansão das rotas de longa distância, ligando o porto a destinos como o extremo oriente, o subcontinente asiático e os Estados Unidos. “Mais de 60% das nossas cargas são cabotagem e nós podemos usar isso a nosso favor por conta da nossa localização”, diz. A ideia era encurtar as rotas longas e transformar Pecém numa espécie de hub, para dali muita coisa ser distribuída Brasil afora.
No primeiro semestre, Pecém ampliou em 37% o volume de movimentação de contêineres; a movimentação de carga geral subiu 7%. O crescimento se deu graças a uma nova rota ligando a China ao Ceará, o que permitiu uma redução de 50% no tempo de transportes. E com a experiência da cabotagem, boa parte que chega em contêineires em Pecém segue para portos menores brasileiros.
O porto também se prepara para ver a sua movimentação de granéis sólidos crescer de forma exponencial nos próximos anos. Por isso, está investindo mais de R$ 1,2 bilhão para expandir terminal, totalmente offshore, já no próximo ano, aguardando a entrada em operação da Transnordestina. A expectativa da CSN – a concessionária constrói e vai operar a ferrovia – é que partir de 2027 a movimentação no porto aumente em ao menos 6 milhões de toneladas, o equivalente a 30% de tudo que Pecém movimentou no ano passado.
“Antes de 2040 imaginamos que estaremos movimentando 20 milhões de toneladas pelo porto”, afirma o presidente da Transnordestina, Tufi Daher Filho.
Max diz estar empolgado com projetos como esse e outros que estão surgindo por conta da localização do porto e sua vasta área de expansão para unidades industriais, como os projetos de construção de mega datacenters para atender o mercado americano. “Mas nós ainda acreditamos no hidrogênio verde. Estamos prontos para que esse projeto vingue de verdade”, afirma.
Publicação: 12/11/2025
Fonte: Valor Econômico