Parques eólicos e solares parados: o paradoxo da energia no país que é referência em fontes renováveis

Parques eólicos e solares parados: o paradoxo da energia no país que é referência em fontes renováveis
16 de outubro de 2025

Paradoxo operacional do sistema elétrico brasileiro: em alguns momentos de excesso de energia, o país precisa cortar a geração de energias renováveis; em outros, acionar termelétricas, que são mais caras e poluentes.

Por Flávia Rosso

Brasil é uma referência mundial quando se fala em energias renováveis. A matriz elétrica brasileira é composta majoritariamente por fontes renováveis, com quase 90% da energia sendo gerada por fontes limpas, como a hídrica, a eólica, biomassa e a solar.

Nosso país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e é líder no G20 (fórum de cooperação econômica internacional) em energia renovável. Falando especificamente de energia solar, o Brasil ganha destaque, ocupando o 6º lugar no ranking mundial de geração. Sobre a energia eólica, o país também tem destaque: esta é a segunda maior fonte de geração de energia, com o Nordeste sendo o líder na produção.

E mais: o Brasil tem um enorme potencial para se tornar ainda mais referência mundial na produção de energias renováveis. Contudo, do que adianta tudo isso se o sistema elétrico ainda não é utilizado da melhor forma? Se parques eólicos e solares precisam parar suas produções em vários momentos, dando lugar à ativação de usinas termelétricas? Este é um paradoxo operacional que falaremos melhor abaixo.

Abundância de renováveis versus desperdício e instabilidade

paradoxo operacional surge quando essa abundância de energia renovável se transforma em um desafio para a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN). Três pontos principais explicam isso:

Primeiro, o crescimento acelerado das energias solar e eólica, que são fontes intermitentes (variam com o sol e o vento), está sobrecarregando o sistema elétrico.

Usina termelétrica a gás GNA II, a maior termoelétrica do Brasil, no complexo portuário do Açu, no Rio de Janeiro. Crédito: Divulgação/GNA.

Segundo, a sobra de energia durante o dia e risco de noite. Em alguns momentos, há excesso de energia limpa (principalmente durante o pico de sol), o que pode levar a um desequilíbrio. Contudo, o SIN ainda enfrenta risco crescente de apagões à noite ou em momentos de baixa incidência solar/eólica, evidenciando a necessidade de maior capacidade de armazenamento ou de geração firme (constante).

E terceiro, problemas de infraestrutura. A infraestrutura de transmissão e distribuição de energia renovável não acompanhou o ritmo da sua expansão, especialmente em regiões com muitos parques eólicos e solares, como o Nordeste e o Sul do país. E isso em específico leva a cortes de geração de energia, os chamados ‘curtailment.

Mas por que acontece os cortes de geração de energia?

Para evitar apagão, o país é forçado a parar compulsoriamente as usinas eólicas e solares para evitar sobrecarga e instabilidade na rede. Infelizmente, isso resulta no desperdício de energia limpa que já foi gerada (ou que poderia ser gerada).

O apagão mais tradicional acontece quando falta energia, mas o inverso — quando há excesso — também pode sobrecarregar o sistema e fazê-lo falhar.

O sistema elétrico precisa sempre estar em equilíbrio, ou seja, só pode gerar energia se houver consumo para absorvê-la. Logo, quando há energia sobrando, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONSprecisa fazer os cortes de geração.

E estes cortes para parar a geração de energia já causam prejuízos bilionários aos setores (eólico e solar). E não é só isso… os cortes estão cada vez mais frequentes e a previsão do ONS é de que eles aumentem.

E como resolver este problema?

principal solução para este problema, apontada tanto pelo ONS quanto por especialistas do setor, é o armazenamento de energia gerada pelo sol e pelo vento. A tendência global tem sido o investimento em baterias capazes de guardar eletricidade nos momentos de excesso.

Fonte: MeteoRed Tempo.com.
Voltar