Por Flávia Rosso
O Brasil é uma referência mundial quando se fala em energias renováveis. A matriz elétrica brasileira é composta majoritariamente por fontes renováveis, com quase 90% da energia sendo gerada por fontes limpas, como a hídrica, a eólica, biomassa e a solar.
Nosso país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e é líder no G20 (fórum de cooperação econômica internacional) em energia renovável. Falando especificamente de energia solar, o Brasil ganha destaque, ocupando o 6º lugar no ranking mundial de geração. Sobre a energia eólica, o país também tem destaque: esta é a segunda maior fonte de geração de energia, com o Nordeste sendo o líder na produção.
E mais: o Brasil tem um enorme potencial para se tornar ainda mais referência mundial na produção de energias renováveis. Contudo, do que adianta tudo isso se o sistema elétrico ainda não é utilizado da melhor forma? Se parques eólicos e solares precisam parar suas produções em vários momentos, dando lugar à ativação de usinas termelétricas? Este é um paradoxo operacional que falaremos melhor abaixo.
O paradoxo operacional surge quando essa abundância de energia renovável se transforma em um desafio para a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN). Três pontos principais explicam isso:
Primeiro, o crescimento acelerado das energias solar e eólica, que são fontes intermitentes (variam com o sol e o vento), está sobrecarregando o sistema elétrico.
Usina termelétrica a gás GNA II, a maior termoelétrica do Brasil, no complexo portuário do Açu, no Rio de Janeiro. Crédito: Divulgação/GNA.
Segundo, a sobra de energia durante o dia e risco de noite. Em alguns momentos, há excesso de energia limpa (principalmente durante o pico de sol), o que pode levar a um desequilíbrio. Contudo, o SIN ainda enfrenta risco crescente de apagões à noite ou em momentos de baixa incidência solar/eólica, evidenciando a necessidade de maior capacidade de armazenamento ou de geração firme (constante).
E terceiro, problemas de infraestrutura. A infraestrutura de transmissão e distribuição de energia renovável não acompanhou o ritmo da sua expansão, especialmente em regiões com muitos parques eólicos e solares, como o Nordeste e o Sul do país. E isso em específico leva a cortes de geração de energia, os chamados ‘curtailment’.
Para evitar apagão, o país é forçado a parar compulsoriamente as usinas eólicas e solares para evitar sobrecarga e instabilidade na rede. Infelizmente, isso resulta no desperdício de energia limpa que já foi gerada (ou que poderia ser gerada).
O apagão mais tradicional acontece quando falta energia, mas o inverso — quando há excesso — também pode sobrecarregar o sistema e fazê-lo falhar.
O sistema elétrico precisa sempre estar em equilíbrio, ou seja, só pode gerar energia se houver consumo para absorvê-la. Logo, quando há energia sobrando, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) precisa fazer os cortes de geração.
E estes cortes para parar a geração de energia já causam prejuízos bilionários aos setores (eólico e solar). E não é só isso… os cortes estão cada vez mais frequentes e a previsão do ONS é de que eles aumentem.
A principal solução para este problema, apontada tanto pelo ONS quanto por especialistas do setor, é o armazenamento de energia gerada pelo sol e pelo vento. A tendência global tem sido o investimento em baterias capazes de guardar eletricidade nos momentos de excesso.