Consultoria sugere oito ações no setor elétrico para enfrentar curtailment

Consultoria sugere oito ações no setor elétrico para enfrentar curtailment
22 de setembro de 2025

Cortes de geração chegaram, em agosto, a 36% do potencial de energia solar e a 21% de energia eólica; perda no setor é de R$ 3,2 bi em 2025

Por Daniel Rittner

Os cortes obrigatórios de geração de energia solar e eólica, por excesso de oferta ou limitações na infraestrutura responsável pelo escoamento de eletricidade, já causaram perdas no setor de R$ 3,2 bilhões apenas em 2025.

estimativa foi divulgada nesta segunda-feira (22) pela Volt Robotics, consultoria especializada no setor elétrico, a partir de dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

A Volt calcula que os cortes, conhecidos como “curtailment” no jargão do mercado, atingiram 17,2% do potencial de geração das fontes renováveis entre janeiro e agosto.

No mês de agosto, segundo relatório da consultoria, foi derrubada 36% da capacidade de geração solar e 21% da eólica.

Desde 2021, diz a Volt, o prejuízo provocado pelo “curtailment” alcança R$ 6 bilhões. “A situação é insustentável e coloca em risco o segmento de geração renovável no Brasil”, afirma o relatório.

Os cortes ocorrem pelo crescimento desordenado, principalmente da micro e minigeração distribuída, com painéis fotovoltaicos espalhados pelos tetos de residências país afora.

Existem, porém, outros motivos. Um deles é a falta de linhas de transmissão suficientes para escoar a eletricidade gerada em algumas localidades do país, sobretudo na região Nordeste, onde estão concentrados parques eólicos.

Tudo isso leva a um desequilíbrio estrutural do setor elétrico. Há uma oferta relevante de energia no período da manhã, que acaba não sendo alocada no sistema por falta de sistemas de transmissão (rede elétrica) ou por falta de consumo no mesmo nível da oferta.

As usinas que sofrem o “curtailment” têm sido proibidas de gerar energia durante o dia, sobretudo durante as manhãs, quando a geração solar é intensa.

O problema tem aumentado ano após ano:

  • Em 2022, os cortes de janeiro a agosto somaram 51 MWm (megawatts médios).
  • Em 2023, foram 150 MWm. Nesse ano, um blecaute causado pelo desequilíbrio entre oferta e demanda fez o ONS adotar com mais força a prática do “curtailment”.
  • Em 2024, os cortes subiram para 987 MWm, um crescimento de 557% em relação ao ano anterior.
  • Em 2025, chegaram ao recorde 3.256 MWm, elevando os prejuízos dos geradores.

Diante disso, a Volt Robotics elaborou um roteiro com oito medidas emergenciais para atenuar o problema:

1) Aceleração das obras de transmissão: concessão de incentivos, como crédito a taxas reduzidas, para quem conseguir antecipar a entrada em operação de “linhões” em pelo menos 18 meses. Pode haver, ainda, aceleração de trâmites regulatórios e legais.

2) Leilões de corte de geração renovável: incentivo ao consumo de energia pelas manhãs, a partir de preços mais baixos, em que geradores poderiam até pagar os consumidores. O custo seria inferior ao dos cortes, em uma solução ganha-ganha.

3) Ressarcimento dos cortes: há um volume significativo de recursos que os geradores de energia renovável devem pagar a título de ressarcimento de contratos regulados de energia de reserva e de contratos regulados na modalidade por disponibilidade. Um terço dos valores, aproximadamente, refere-se a pagamentos devido à não geração devido aos cortes. Esta parcela, obviamente, não deve ser cobrada desses geradores. Afinal, foram contratados para elevar a segurança sistêmica e para estarem disponíveis.

4) Aceleração da implementação das tarifas inteligentes: instalar mais rapidamente sistemas de medição inteligente, com incentivos para as distribuidoras, e a massificação da oferta de tarifas diferenciadas para os consumidores que reduzirem o consumo no fim da tarde e elevarem o consumo durante as manhãs.

5) Flexibilização da geração hidrelétrica: mudar o sistema de remuneração das usinas hidrelétricas para que elas possam reduzir a geração pelas manhãs, abrindo mais espaço para as fontes renováveis atenderem ao consumo, diminuindo o “curtailment”.

6) Flexibilização da micro e minigeração distribuída (MMGD): obrigação de ser no rateio dos cortes das demais usinas renováveis, de forma proporcional. Os cortes teriam uma base maior de pagantes, aliviando as usinas solares descentralizadas e as usinas eólicas.

7) Flexibilização da geração termelétrica: se essas fontes puderem ser mais flexíveis, elas podem reduzir a geração no horário dos cortes e, assim, elevar a carga de energia a seguir atendida pelas usinas renováveis, reduzindo os cortes de geração renovável.

8) Aceleração da tecnologia V2G: permite que os veículos elétricos funcionem como baterias para a rede elétrica, absorvendo e injetando energia na rede, de acordo com sinais de preço ou mesmo para atender necessidades sistêmicas durante uma falha ou um blecaute. O Brasil tem hoje uma frota de 520 mil veículos elétricos. Proposta de acelerar a instalação de postos de recarga V2G e criar regulação específica.

Fonte: CNN Brasil.
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