O planejamento do setor elétrico brasileiro, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com suporte do Ministério das Minas e Energia (MME), tem o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) como documento-chave. Em sua versão 2034, o relatório é claro em apontar dois requerimentos importantes: o país vai precisar de ofertas adicionais de potência (a partir de 2027) e de energia (a partir de 2028).
Lembrando que potência e energia estão relacionadas pela seguinte fórmula: Energia = Potência x Tempo. Ou seja, a quantidade de energia gasta depende da potência e do tempo de uso de determinado dispositivo. No caso do Brasil, estamos falando de dispositivos significativos como usinas hidrelétricas e plantas solares, citando dois exemplos. Em termos de potência, o valor adicional estimado deverá ser de 5.500 MW em 2028.
Para chegar à conclusão da necessidade de ofertas adicionais, a EPE considerou a singularidade do parque gerador integrado ao Sistema Interligado Nacional (SIN).O parque gerador brasileiro tem passado por transformações significativas, impulsionadas principalmente pelo crescimento das fontes renováveis intermitentes, como eólica e solar, e pela inserção cada vez maior da micro e mini geração distribuída (MMGD).
De acordo com o PDE 2034, a geração hidráulica será 46,7% do total de energia produzida em 2034, uma redução de quase dez pontos percentuais em relação à participação dela em 2024, que foi de 55,8%. Por outro lado, a fonte eólica vai passar de 15% para 17,2% no período. São apenas duas movimentações que confirmam essa transição.
O peso da MMGD é outro componente crítico e atingiu 15% da capacidade instalada de geração em fevereiro de 2025, um salto de 37% de crescimento em 12 meses (fevereiro de 2024 a fevereiro de 2025). A velocidade de crescimento, segundo o site Canal Solar superou o de outras fontes consolidadas.
Com a mudança na matriz, as metodologias de cálculo de suprimento para atender a demanda de energia do país mudaram. Até 2019, os critérios de garantia eram baseados principalmente no risco de insuficiência da oferta de energia elétrica (limitado a 5% em qualquer subsistema) e na igualdade entre Custo Marginal de Operação (CMO) e Custo Marginal de Expansão (CME).
Esses critérios eram suficientes quando a participação das hidrelétricas era predominante na matriz de geração, pois a garantia do suprimento de energia resultava, em grande parte, na garantia de potência como um subproduto.
Devido às mudanças, a EPE incorporou novas dimensões no planejamento da expansão para um balanço mais ajustado entre oferta e demanda de eletricidade, buscando o menor custo.
Além da mudança na matriz, as análises da EPE consideram atualmente as restrições operativas de usinas hidrelétricas, o despacho antecipado de termelétricas a Gás Natural Liquefeito (GNL), e a retirada de oferta termelétrica existente devido ao final de contratos ou perda de benefícios.