Diferentes reações no mercado diante dos vetos da lei da reforma do setor elétrico, publicada hoje (25) no Diário Oficial da União. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) vê com preocupação a redação dada à norma. Para a entidade, a retirada do artigo que tratava da compensação às usinas solares e eólicas afetadas pelos cortes de geração renovável representa “grave risco aos projetos existentes e pode levar à perda de credibilidade, fuga de capital, fechamento de empresas, perda de empregos e retrocesso na transição energética no País”.
A associação avalia que o veto ao artigo 1º-A da Lei nº 10.848/2004, que trazia solução estrutural aos prejuízos causados pelos cortes de geração renovável (o chamado curtailment), “mina drasticamente a confiança dos investidores nacionais e internacionais no País e prejudica a atratividade do Brasil em energia limpa, ameaçando inviabilizar novos investimentos em grandes usinas solares e eólicas“.
A ABSOLAR considera que o veto transfere relevantes custos dos cortes – realizados em benefício do sistema elétrico – aos geradores renováveis, violando regras vigentes quando estas usinas foram contratadas, projetadas e construídas. Para o presidente executivo da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia, o veto desajusta profundamente a estabilidade de todos os investimentos em grandes usinas solares fotovoltaicas realizados no Brasil desde 2013, que não contavam com estas restrições e custos quando foram implantados.
“Os empreendedores e investidores que acreditaram no Brasil estão sendo duplamente prejudicados pelos cortes de geração. Além de serem impedidos de entregar sua energia limpa e competitiva, sofrendo inclusive penalidades contratuais por isso, ainda foram obrigados a arcar com os custos dos cortes, feitos em benefício do sistema e em prol de todos os consumidores”, pontua. A ABSOLAR avalia, junto aos seus associados, próximos passos em busca da recomposição do equilíbrio econômico-financeiro dos geradores solares afetados pela decisão.
Pelo lado do setor produtivo, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) considera que a lei moderniza o marco regulatório do setor elétrico brasileiro. A entidade defendeu alguns dos principais vetos, incluindo a exclusão da garantia de compensações financeiras por cortes de geração eólica e solar (curtailment) e a mudança no preço de referência do petróleo.
Contudo, segundo a federação, foram mantidos no texto outros pontos controversos, como a prorrogação de contratos de usinas a carvão mineral até 2040 e a contratação compulsória de pequenas centrais hidrelétricas (PCH).
“A Firjan fez uma intensa mobilização junto ao poder público para defender os pleitos em benefício da ampliação do mercado livre e fortalecimento da eficiência econômica do setor. A entidade vai continuar atuando para que o Congresso Nacional mantenha os vetos do Poder Executivo e vai buscar alternativas para modificar os pontos controversos mantidos na sanção presidencial”, afirmou a federação.
Por fim, a FIRJAN disse que atua há muitos anos na agenda de modernização do setor elétrico e defende uma abertura gradual, com previsibilidade, competitividade e transparência, garantindo melhores condições de escolha para consumidores residenciais, comerciais e industriais.
Já a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (ABRACE Energia) avaliou que os vetos aplicados pelo governo federal à MP 1.304/2025 impediram aumentos de custos no setor elétrico e no preço final dos produtos no país. Apesar do reconhecimento aos vetos, a entidade avalia que o texto final “traz ainda um conjunto de problemas que vai exigir novas intervenções sobre o setor”.
Para a entidade, alguns dos pontos preservados representam riscos que precisarão ser revisados. Ainda assim, a associação afirma que a decisão do governo incorpora avanços, como “a melhoria do sinal de preço da energia, ajuste em regras ruins que criariam reserva de mercado, redução de subsídios e de modelos oportunistas praticados no mercado, e a contenção de mais custos desnecessários aos consumidores”.
Na avaliação da ABRACE, essas mudanças podem ampliar previsibilidade e dar mais segurança para a operação do setor elétrico. A entidade reforçou que segue disposta a participar das discussões sobre um novo marco para o setor, afirmando que “reitera seu compromisso e disposição para colaborar com as mudanças necessárias”.
“Só o crescimento do consumo criará novos mercados para a energia e permitirá a diluição de custos para todos. Os interesses do setor precisam estar alinhados aos interesses do país. Após a COP ficou claro que não podemos estragar nossa vantagem competitiva para que possamos reindustrializar o Brasil e descarbonizar nossa produção para competir com produtos verdes. Com energia limpa, barata e segura, o Brasil pode, de fato, liderar o processo de transição energética, transformando sua sociedade numa sociedade menos desigual”, concluiu a ABRACE.