Por Karlon Aredes
A entrada crescente de aços importados, principalmente da China, tem afetado o setor siderúrgico brasileiro a ponto de levar à revisão dos planos de investimentos e impactar a remuneração dos acionistas.
É o caso da ArcelorMittal, que finaliza em 2025 um ciclo de R$ 25 bilhões aportados no Brasil desde 2022 e que previa aplicar mais R$ 10 bilhões em um novo ciclo, com término em 2030.
O CEO da ArcelorMittal Aços Longos Latam e Mineração no Brasil, Everton Guimarães Negresiolo, explica que o crescimento dos importados chineses no Brasil tem impactado as operações da empresa e, consequentemente, os planos para o país. Ele explica que a demanda afetada pela China reduz a produção e prolonga o tempo para remunerar os acionistas. Nos planos futuros, que incluem os outros R$ 10 bilhões, pode haver um impacto de cerca de R$ 5 bilhões em intenções de aumento de produção.
“O certo é que iremos investir R$ 1 bilhão por ano em modernização, automação, melhoria de eficiência, produtividade e tecnologia. Quanto aos novos projetos, vamos aguardar o comportamento do mercado e a reação contra a entrada de produtos chineses”, completou.
Durante a Alacero Summit 2025, em Cartagena, Negresiolo ressaltou que os impactos das importações chinesas são sentidos em diversos países da América Latina e foram temas recorrentes no evento. “Não é um problema exclusivo do Brasil. É uma situação. E não é um problema exclusivo de empresa e nem de país. É um problema global das cadeias produtivas, de um modelo econômico asiático, principalmente da China, que prejudica nossas operações”, disse.
Segundo ele, a empresa tem discutido com o governo federal a adoção de defesas do mercado interno, com sistemas de cota e tarifas, iguais às que são adotadas em outros países, citando especificamente a Europa, com aumento de tarifas para 50%. “Vimos também os Estados Unidos protegendo seu mercado, assim como Canadá e México, que também discutem o que vão fazer, mais em linha com os Estados Unidos. Enfim, a gente quer proteção ao mercado brasileiro”, analisa, completando que investimentos futuros dependem do que será feito para diminuir os efeitos do impacto das importações chinesas no Brasil.
A ArcelorMittal encerra neste ano o ciclo de investimentos de cerca de R$ 25 bilhões iniciado em 2022. Os aportes são para todas as operações do Brasil. Em Minas Gerais, houve a ampliação das atividades de trefilaria na planta de Sabará, a primeira da companhia, na região metropolitana de Belo Horizonte, que deve resultar em uma alta de 35% na produção de aço para a indústria automotiva. Também foi investido na expansão da Mina de Serra Azul, que entrou em operação em outubro. A expectativa é fazer o primeiro embarque de minério da planta nova ainda em dezembro deste ano, revela o executivo.
Também houve aportes em energia renovável: cerca de R$ 5,8 bilhões em parque eólico e dois parques solares, sendo um deles em Minas Gerais, com expectativa de entrar em operação entre o final deste ano e o início do próximo ano.
“Foram investimentos mantidos, feitos, executados, entrando em fase de condicionamento. Além dos aportes em Minas Gerais, tem também um novo laminador no Rio de Janeiro, em Barra Mansa, entrando em operação até o final do ano. Também em Santa Catarina, tudo concluído e em operação ou entrando. Fizemos nossa parte, agora esperamos ter um mercado favorável”, disse. E completa: “A nossa grande preocupação agora é em função de toda essa complexidade de mercado, dessa importação predatória. Então esse é o grande desafio e a grande preocupação nesse momento para esse ciclo de investimento: ter retorno. É retornar aos acionistas. Hoje, a gente tem um impacto muito importante no plano de retorno desses investimentos para os acionistas”.
Quanto aos novos investimentos, previstos entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões até 2030, ele também condiciona à reação do país às importações predatórias da china. “Os projetos vinculados a crescimento, novas capacidades produtivas, esses projetos acabam ficando em stand-by até entender como é que esse cenário vai acontecer. E claramente, se não houver uma melhora do cenário, um incremento da defesa comercial, da defesa da indústria nacional, existe sim um risco de que esses projetos não venham a se realizar”, conclui.
O executivo disse ainda que, caso as importações de aço voltassem a patamares históricos, controláveis, os investimentos no setor siderúrgico poderiam crescer no país, gerando mais divisas e emprego.