Apagão na Europa evidenciou urgência de investimentos em redes e baterias, diz diretora da Elecpor

Apagão na Europa evidenciou urgência de investimentos em redes e baterias, diz diretora da Elecpor
10 de outubro de 2025

Apagão na Península Ibérica expôs fragilidades; Maria João Coelho defende mais investimento em infraestrutura e armazenamento para garantir segurança e flexibilidade ao sistema

LISBOA — O apagão de grandes proporções que atingiu a Península Ibérica em abril expôs as fragilidades da rede elétrica e reforçou a urgência de investir em infraestrutura e armazenamento de energia, avalia a diretora-geral da Associação Portuguesa das Empresas do Setor Elétrico (Elecpor), Maria João Coelho.

Em entrevista ao estúdio eixos, durante o EVEx Lisboa 2025, ela destacou que o episódio, iniciado na Espanha e que se estendeu a Portugal, evidenciou as novas complexidades do sistema elétrico europeu, cada vez mais dependente de fontes renováveis. Assista na íntegra acima.

Segundo Coelho, a gestão da rede se tornou mais desafiadora à medida que cresce a autogeração. E e o equilíbrio entre oferta e demanda exigirá novas soluções de backup e armazenamento.

“O apagão de 28 de abril, no fundo originado na Espanha e que toda a Península Ibérica sofreu com ele, e Portugal também, mostrou que, efetivamente, com grande penetração de renovável, a gestão da rede e a gestão do sistema torna-se muito mais complexa e, efetivamente, precisamos de outras soluções que sirvam de backup”, afirmou.

Ela citou a necessidade de ampliar investimentos em baterias e em barragens com hidrelétricas de bombeamento (ou hidrelétricas reversíveis), capazes de garantir armazenamento de longa duração e maior estabilidade do sistema diante de eventos extremos, como secas e ondas de calor.

Rede elétrica é prioridade na transição energética

O investimento nas redes elétricas, segundo Coelho, deve ser visto como uma prioridade estratégica para a transição energética e para a integração das novas fontes de geração. A executiva alertou que os investimentos atuais são insuficientes para acompanhar o ritmo das metas climáticas.

“A rede é um grande enabler [potencializador], é muito relevante neste processo. É, talvez hoje, um constrangimento, no sentido em que não se têm feito os investimentos que eram necessários fazer ao nível da rede. E, portanto, uma das necessidades e prioridades”, afirmou.

Ela defendeu a modernização das infraestruturas elétricas, tornando-as mais digitais, ativas e bidirecionais, capazes tanto de distribuir quanto de receber energia.

O desafio, explica, é adaptar a rede a um sistema descentralizado, em que consumidores também produzem eletricidade.

Europa terá de duplicar investimentos até 2050

Maria João Coelho cita que a Europa precisará dobrar os investimentos anuais em redes elétricas para cumprir as metas de descarbonização até 2050.

“Num estudo feito a nível europeu pela Associação Euroelétrica, o que se estima é que é necessário duplicar o investimento anualmente, entre 2025 e 2050, isto a nível europeu, para conseguir capacitar a rede e ter rede para dar resposta às metas (…) Para dar uma estimativa do valor anual, é 67 bilhões de euros.”

A diretora da Elecpor destacou que o reforço das redes deve ocorrer em paralelo à expansão de projetos de armazenamento, considerados essenciais para garantir flexibilidade e segurança de abastecimento.

Principais pontos da entrevista

  • Apagão de abril mostrou a vulnerabilidade da Península Ibérica e a necessidade de ampliar o armazenamento de energia.
  • Investimentos em redes elétricas devem ser prioridade na transição energética e na integração de fontes renováveis.
  • Europa precisará dobrar investimentos em redes, de acordo com estimativas da Associação Euroelétrica, chegando a € 67 bilhões/ano até 2050.
  • Modernização da rede deve torná-la digital, ativa e bidirecional, permitindo gestão mais eficiente entre geração e consumo.
  • Armazenamento em baterias e barragens é visto como peça-chave para garantir estabilidade do sistema em períodos de seca ou picos de demanda.
  • Metas europeias de eletrificação apontam para atingir 40% a 50% até 2030, mas ainda não são vinculativas.
  • COP no Brasil é vista como oportunidade para recolocar a descarbonização no centro da agenda internacional.
Fonte: Eixos.com.
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