ArcelorMittal retoma projeto de R$ 1,9 bi

FONTE: Valor Econômico

Investimento vai ampliar a unidade de laminação de aço plano revestido, localizada em Santa Catarina, com início de operação previsto até fim de 2023

Passado um ano do início da pandemia de covid-19, o grupo ArcelorMittal, gigante mundial do aço, está descongelando um projeto de US$ 350 milhões (o equivalente a R$ 1,95 bilhão) em São Francisco do Sul (SC). A retomada da obra de expansão foi autorizada recentemente pela direção mundial da companhia, que tem sede em Londres.

O investimento é voltado à instalação de uma nova linha de chapas de aço para uso principalmente na fabricação de automóveis. Desde 2014, o projeto vinha sofrendo adiamentos por causa da crise econômica do país. No início do ano passado foi suspenso outra vez devido à pandemia.

As perspectivas de demanda desse tipo de aço no mercado brasileiro nos próximos anos encorajaram o grupo a reativar a obra, que tem prazo para ser concluída e entrar em operação no terceiro trimestre de 2023.

Em entrevista ao Valor, o presidente da ArcelorMittal Brasil, Benjamin Baptista Filho, informou que a contratação dos equipamentos da nova linha deverá ser fechada até o final deste mês.

Com essa expansão, a unidade de aço galvanizado Vega do Sul, como é conhecida, vai ampliar sua capacidade de produção para 2,2 milhões de toneladas por ano, em vários tipos de produtos. Atualmente, já existem no local duas linhas de produção desse material, aptas a ofertar 1,6 milhão de toneladas ao ano. O aço laminado é destinado aos mercados automotivo, eletrodoméstico (linha branca), construção civil, tubos e de embalagens.

Desde a concepção original, a nova linha teve sua tecnologia atualizada, diz o executivo. O projeto prevê 600 mil toneladas ao ano de material laminado a frio, galvanizado e um produto chamado Magnelis, usado em painéis para gerar energia solar e em material da construção civil. Desde 2016, o Magnelis é fabricado pela ArcelorMittal na Europa.

Inaugurada em 2004, a unidade de Vega do Sul, que se abastece com aço produzido em Serra (ES) pela ArcelorMittal Tubarão, já recebeu investimentos superiores a US$ 500 milhões, entre expansões, diversificação de produtos e atualização tecnológica.

Disputando mercado no país com CSN e Usiminas, além de material importado, com a nova linha a ArcelorMittal passa a contar com um portfólio em Vega de aços mais nobres – 1,45 milhão de toneladas serão produtos galvanizados e 700 mil de laminados a frio, sendo 200 mil na tecnologia Combline, com alta resistência e para linha automotiva.

Outros dois projetos para o Brasil, no negócio de aços longos, continuam em espera (“on hold”, na informação do grupo). Um deles em Juiz de Fora e outro em João Monlevade, em Minas Gerais. A empresa vai esperar o momento econômico mais propício do país para retirá-los da gaveta, disse Baptista, sem apontar data.

Todavia, diz o executivo, a crise não impediu a conclusão de dois projetos importantes na usina de aço plano, em Serra – um de construção da nova bateria de coque (insumo usado para alimentar o alto-forno com minério de ferro). Essa sexta unidade custou R$ 523 milhões, recebendo moderna tecnologia para reduzir emissão CO2. O outro, de dessalinização de água do mar, para utilização nas operações da usina, de R$ 50 milhões.

Baptista relata que no auge da pandemia -abril e maio -, a demanda por aço sofreu colapso, obrigando a paralisação de várias unidades e redução da produção de outras. “No auge, paramos um alto-forno [já havia um menor paralisado desde 2019 devido ao impacto do desastre de Brumadinho, que levou à falta de matéria-prima] e várias aciarias elétricas de aços longos”, informou. As exportações caíram fortemente.

As aciarias de aços longos foram religadas gradualmente e os dois altos-fornos reativados ao longo do segundo semestre, conforme a demanda foi voltando. “Desde o fim de outubro, estamos operando à plena capacidade, com os três altos-fornos ligados e as linhas de aços longos cheias.”

No ano passado, no país, a multinacional do aço produziu e vendeu 9,5 milhões de toneladas – queda de 15% em relação a 2019. Mas, descontadas as exportações, no mercado interno a retração foi menor – ficou em 7%.

Segundo Baptista, o auxílio emergencial do governo alavancou o consumo a partir de junho, tanto na venda direta, na autoconstrução e o agronegócio se manteve firme, adquirindo mais máquinas e implementos. “No quarto trimestre, a demanda de aço no mercado doméstico teve alta na faixa de 20%. Para atender todos os nossos clientes, reduzimos as exportações”, disse.

Sobre o cenário para este ano, ele avalia que os setores industriais vivem, ainda, um período de atividade forte, mas questiona se isso será sustentável. “Vai haver uma estabilização, e até ajustes, à medida que os estoques chegarem ao seu ponto de equilíbrio, pois a produção não teve a mesma velocidade da redução de estoque e alta da demanda”, diz.

Com a retomada da nova linha de galvanização, e, talvez, de outros projetos, a empresa prevê investimento alto no país este ano. Em 2020, apesar da crise, foi maior do que o ano anterior.

A receita líquida consolidada da empresa no ano passado será divulgada em abril. Apesar da crise, estima-se lucro líquido para o ano na faixa de R$ 1,2 bilhão. Em 2019, a receita somou R$ 32,45 bilhões e lucro de R$ 1,23 bilhão. Mundialmente, o grupo vendeu 69 milhões de toneladas em 2020 e alcançou receita de US$ 53,3 bilhões.

A ArcelorMittal é a maior produtora de aço no Brasil, seguida por Gerdau, sua maior rival em aço para construção. Outros fabricantes são CSN, Usiminas, Simec, AVB, Sinobras e Ternium (dedicada a semiacabado). A disputa interna é por um mercado de 21 milhões de toneladas, além de exportação.