Suzano dribla preço baixo e tem sinergia maior com Fibria

FONTE: Valor Econômico

Companhia também deu sequência aos esforços de preparação do balanço para novo ciclo de crescimento em celulose

Maior produtora mundial de celulose de eucalipto, a Suzano driblou os baixos preços da matéria-prima e encerrou 2020 com resultados bem acima dos vistos no exercício anterior. A companhia deu ainda sequência aos esforços de preparação de seu balanço para um novo ciclo de crescimento em celulose, que deve ser iniciado com a construção de uma fábrica em Mato Grosso do Sul – no mercado, crescem as apostas de que o anúncio pode ocorrer já no primeiro semestre -, e concluiu a curva de captura de sinergias com a Fibria, que ficaram acima do estimado.

Em entrevista ao Valor, o presidente da companhia, Walter Schalka, exaltou o desempenho no ano passado, período que foi marcado também pelos impactos da pandemia de covid-19, mas reconheceu que o retorno sobre o capital empregado ainda não foi o adequado por causa dos preços da celulose. “A Suzano teve uma performance excelente”, disse o executivo. “Mas é preciso olhar o filme, e não só a foto”, acrescentou.

De outubro a dezembro, a companhia teve receita líquida de R$ 8 bilhões, com alta de 14% na comparação anual. No acumulado de 2020, o crescimento foi de 17%, para R$ 30,5 bilhões. O resultado operacional, medido pelo Ebitda, saltou 61% no trimestre, para R$ 3,97 bilhões, com margem Ebitda de 49%. O lucro líquido chegou a R$ 5,9 bilhões, impulsionado também pelo resultado financeiro. No acumulado do ano, contudo, o impacto da variação cambial na dívida em moeda estrangeira levou a companhia a registrar prejuízo líquido de R$ 10,7 bilhões – o resultado financeiro, que é mais penalizado nessas circunstâncias, foi negativo em R$ 26 bilhões.

Conforme Schalka, diferentes áreas contribuíram para que as sinergias decorrentes da fusão com a Fibria ficassem acima do esperado. A companhia, que sacramentou a compra da concorrente no início de 2019, estimava ganhos de R$ 1,1 bilhão a R$ 1,2 bilhão inicialmente, mas encerrou a curva de sinergias em 2020 com ganhos estimados em US$ 1,3 bilhão ao ano, em bases recorrentes.

No ano passado, a companhia vendeu 10,8 milhões de toneladas de celulose, alta de 15% na comparação anual, e reduziu em cerca de 1 milhão de toneladas os estoques da fibra. Foi o maior volume de vendas desde a fusão, resultando na forte queda nos estoques, que hoje estão abaixo dos níveis vistos no momento da incorporação da Fibria. Do lado dos custos, a Suzano reduziu em 1% o custo caixa de produção de celulose, sem considerar paradas para manutenção e na comparação anual, para R$ 622 por tonelada. O menor custo da madeira e a redução do raio médio tiveram contribuição importante para esse desempenho.

Diante da nova redução dos estoques de celulose da maior produtora do mundo, os preços começaram a se recuperar mais rapidamente do que o esperado, comentou Schalka. “As condições de demanda parecem favoráveis para 2021”, acrescentou. No quarto trimestre, as vendas de celulose ficaram em 2,67 milhões de toneladas, com recuo de 9% na comparação anual. As vendas de papel, por sua vez, somaram 354 mil toneladas, queda de 4%.

Em 2020, a Suzano implementou todo o seu plano de desalavancagem financeira e seguirá atenta às oportunidades para melhorar as condições do balanço para investir em novo ciclo de expansão, de acordo com o diretor de Finanças e de Relações com Investidores da companhia, Marcelo Bacci.

Em dezembro, a alavancagem financeira medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda estava em 4,3 vezes em dólar, contra 4,9 vezes um ano antes e 4,4 vezes em setembro. Para retomar investimentos, esse índice deve estar em até 3,5 vezes, segundo a política financeira da empresa.

Segundo Bacci, a Suzano acaba de fechar duas operações que trazem ainda mais conforto para o balanço. A companhia está pré-pagando dívida de cerca de R$ 1,5 bilhão com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com reflexo também em redução da dívida bruta, e rolou de 2023 para 2026, com o mesmo custo, US$ 1,6 bilhão que faziam parte do financiamento de compra da Fibria.