Dez grupos disputam terminal de GNL

FONTE: Valor Econômico

Petrobras vai arrendar unidade de regaseificação da Bahia em licitação marcada para setembro

Dez grupos estão na disputa pelo arrendamento do terminal de gás natural liquefeito (GNL) da Petrobras, na Bahia. A estatal brasileira vai licitar a unidade de regaseificação no dia 30 de setembro, numa concorrência que sedimenta o caminho para a abertura do mercado brasileiro de gás, já que permitirá ao novo operador entrar com cargas importadas na malha interligada de gasodutos do país.

Grandes multinacionais manifestaram interesse no ativo, que será arrendado até o fim de 2023. A lista de pré-qualificados para a licitação inclui desde grandes fornecedoras globais de gás, como a BP, Shell, Total e Repsol até empresas com expertise na infraestrutura de GNL – casos da Golar Power, Excelerate Energy e Naturgy (por meio da Gás Natural do Brasil ). Já entre as brasileiras estão a comercializadora Compass (Cosan), a Eneva e a distribuidora local Bahiagás.

O arrendamento do terminal é parte do compromisso assumido pela Petrobras junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), para abertura do mercado brasileiro de gás natural. A unidade tem capacidade para importar até 20 milhões de metros cúbicos diários (m3 /dia) de gás, o equivalente a 25% do mercado.

O presidente da consultoria Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto, destaca que a licitação é representativa para a abertura do setor, já que o terminal baiano passará a ser o primeiro do tipo, com acesso à malha de gasodutos do país, a ser operado pela iniciativa privada. As unidades da Celse (Golar/EBrasil Energia), no Sergipe, e da GNA (Prumo Logística / Siemens /BP), no Porto do Açu, em São João da Barra (RJ), embora construídas por empresas privadas, ainda não estão conectadas ao sistema nacional.

“O arrendamento representa uma janela de oportunidade para que o Brasil possa beber da competitividade global do GNL. Existe, hoje, um cenário de sobreoferta global, os preços estão muito baixos e o país pode se tornar, nesse contexto, um mercado atraente para os grandes fornecedores de gás no mundo. Mesmo com a redução dos preços do gás nacional [a Petrobras já baixou em 35% os preços para as distribuidoras em 2020], o GNL tem boas chances de chegar competitivo”, afirma.

A abertura do terminal baiano ocorre num momento em que a crise desencadeada pela pandemia da covid-19 pressiona para baixo a demanda do mercado, o que pode tornar mais difícil a vida do novo operador da unidade de GNL. Moreira Neto não acredita, contudo, que este seja um entrave para a concorrência, uma vez que as indústrias apostam, justamente nesse momento de crise, em oportunidades para reduzir seus custos com energia por meio do mercado livre. “As indústrias não perderam o interesse pela abertura do mercado durante a pandemia”, disse.

Ele ressalva, porém, que os candidatos ao terminal baiano ainda esbarram na falta de previsibilidade sobre quando serão realizadas as chamadas públicas para contratação de capacidade dos gasodutos. Por isso, o consultor acredita que, no curto prazo, o gás importado possa ser escoado via caminhões, a exemplo de projetos em desenvolvimento no país.

A Golar Power, por exemplo, possui uma parceria com a BR Distribuidora para desenvolver o negócio de distribuição de GNL de pequena escala e fechou, no mês passado, um contrato para fornecer 40 mil m3 /dia para a distribuidora Copergás (PE). Já a Eneva está construindo uma térmica em Roraima que será abastecida pelo gás do campo de Azulão, no Amazonas, por meio de carretas de GNL.

“Falta uma previsibilidade para as empresas de quando elas poderiam acessar a malha de gasodutos, mas eventualmente os novos operadores do terminal da Bahia podem vislumbrar, no curto prazo, uma logística com base em caminhões. Esse tipo de solução guarda sinergias com as estratégias da Eneva e da Golar. Isso coloca essas empresas no jogo, em condições de competir com as grandes multinacionais”, comentou.

A concorrência pode representar, para algumas empresas, uma porta de entrada para o Brasil. Moreira Neto cita o caso da BP, que é sócia da GNA, no Açu, mas que ainda não tem condições de colocar o seu gás na malha. “Já a Shell precisa vender o gás dela do pré-sal e o GNL pode ajudá-la a montar um portfólio mais flexível”, afirma.