Além de projetos da Petrobras, Grupo TSPI, ex-Toyo Setal, está de olho em geração de energia e soluções com baixo carbono

FONTE: Revista OE.

Segundo o relatório quadrimestral elaborado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), pelo ONS (Operador Nacional do Sistema) e pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), em agosto deste ano, o consumo de energia no Brasil deve crescer a uma média de 3,4% até 2028. Pensando em atender essa demanda e as mudanças por soluções de menor impacto ambiental, a TS Participações e Investimentos S.A. (TSPI), Joint Venture formada entre a Setal e Toyo, responsável pela TSE (Total Sustainable Engineering) e Estaleiros do Brasil Ltda (EBR), anunciou que irá focar em projetos de geração de energia e de baixo carbono, como a produção de hidrogênio em matéria-prima para biocombustíveis.
O grupo conta hoje, como EPCista, com quatro principais projetos em execução: dois deles para a Petrobras, que é a construção do casco da P-79 e da maior refinaria de petróleo, a Refinaria Planalto de Paulínia (Replan), em Paulínia (SP); e o processamento de gás do Rota 3 e a sua UPGN (Unidade de Processamento de Gás Natural) no Complexo de Energias Boaventura, localizado no Polo GasLub (antigo Comperj), em Itaboraí (RJ). Os outros dois, mais recentes, são em geração de energia, sendo um para a Eneva, na usina termelétrica do Complexo Parnaíba, em Santo Antônio dos Lopes (MA), e o outro para a New Fortress Energy, no terminal de importação de gás natural liquefeito (GNL), localizado no município de Barcarena (PA).

Sobre os projetos em execução

Em entrevista à revista O Empreiteiro, os diretores Rafael Ribeiro, do setor comercial da TSE, e Marcelo Ribeiro, de Governança e Integridade da TSE e EBR, relataram os serviços que estão em andamento e os projetos do grupo para o futuro.
Segundo Rafael, na Replan em Paulínia (SP), está sendo construída uma unidade nova de HDT (Hidrotratamento de diesel), cujo papel é de reduzir o nível de enxofre no produto final, resultando em um combustível com menor volume de emissões.
Em setembro deste ano, a Replan recebeu o prêmio de “Refinaria do Ano de 2024” concedida pela World Refining Association, por iniciativas em inovação, modernização, segurança e sustentabilidade. A cerimônia foi realizada em Cartagena, na Colômbia. A unidade pode produzir 69 mil m³ de petróleo por dia (69 milhões de litros), o equivalente a 434 mil barris, e atende a aproximadamente 30% de todo refino do Brasil.

Já no segundo projeto para a Petrobras, no Complexo Boaventura, situado no Polo Gaslub (antigo Comperj), a TSE executa a construção da UPGN (Unidade de Processamento de Gás Natural), projeto em que a empresa é a terceira EPCista. “Este nós assumimos após uma nova licitação da Petrobras, devido a falhas de consórcios anteriores, e desde que a TSE está executando, já foi entregue o primeiro trem de processo e o segundo deve ser entregue até o final deste ano”, explicou.
O polo industrial do Complexo Boaventura é composto pela maior UPGN do país e receberá gás do pré-sal da Bacia de Santos, transportado por meio do gasoduto Rota 3, que também iniciará a operação. O Projeto Integrado Rota 3 vai viabilizar o escoamento de até 18 milhões de m³/dia e o processamento, pela UPGN, de até 21 milhões de m³/dia de gás natural e, com isso, aumentar a oferta para o mercado nacional, reduzindo a dependência de importações.
Em energia, na UTE Parnaíba (MA), Rafael explicou que é um fechamento de ciclo, ou seja, onde antes na termelétrica havia uma turbina somente a gás, com o fechamento, instala-se uma caldeira de recuperação de calor e coloca-se uma a vapor, adicionando a capacidade de geração de 92 Megawatts na planta a gás existente.
Já em Barcarena (PA), para a New Fortress Energy, o diretor comercial detalha que é um projeto greenfield, com 600 Megawatts de capacidade. “No terminal em Barcarena já é em ciclo combinado, ou seja, a turbina a gás, caldeira e turbina a vapor fechando o ciclo. Nesse processo a planta tem uma capacidade muito mais alta, chegando em até 65% de eficiência”, destacou.

O terminal, inaugurado em fevereiro deste ano já está operando e oferecendo gás natural para a refinaria de alumina da Alunorte, da Hydro, que substituiu o óleo BPF por gás natural em todas as suas operações. A partir do 2º semestre de 2025, a instalação também abastecerá a termelétrica Novo Tempo, em Barcarena.

Cenário atual e futuro

Desde a fundação da holding formada em 2012, a TS Participações e Investimentos S.A. (TSPI), já tinha seis grandes projetos desenvolvidos em conjunto, sendo a maioria para a Petrobras. No entanto, com o passar dos anos a Joint Venture diversificou seu portfólio. “Em 2014 e 2015 fizemos uma revisão estratégica de diversificação na companhia, pois estávamos com uma carteira muito baseada no setor de óleo e gás e nos projetos da Petrobras, que é o nosso carro-chefe, mas resolvemos então focar também no de geração de energia. Nesse período ganhamos grandes contratos, desses os principais foram o da New Fortress, em Barcarena, e o da Eneva, na UTE Parnaíba. Além desses, destacamos os projetos da Petrobrás que ganhamos em pouco tempo, como esses do HDT na Replan em Paulínia e da UPGN, em Itaboraí”, justificou.
Para o futuro, o grupo diz focar no desenvolvimento de projetos de baixo carbono. “Estamos com tecnologias próprias e outras em parceria, incluindo Sistemas Agroflorestais (SAFs), biocombustíveis e produção de hidrogênio para amônia verde. Nosso intuito é agregar, focando no hidrogênio para amônia ou etanol, produtos de baixo carbono”, revelou Rafael, que complementou: “Na área de amônia e ureia a Toyo já é líder global, possui na carteira 87 plantas de amônia no mundo e para ureia já fez mais 120. Em amônia tem parceria com a KBR, principal licenciador de amônia, e para ureia possui tecnologia própria, inclusive é licenciadora de várias plantas que ela nem é epcista, só vende a licença”, ressaltou.
Para os próximos anos, o diretor ressalta que irão manter o foco em geração de energia e óleo e gás: “Os planos de investimentos da Petrobras inclui uma previsão de um pacote grande de obras a serem contratadas para o Complexo Boaventura, além do processo de ampliação da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), que a Petrobras colocou no mercado e não conseguiu contratar, e por isso esse deve voltar para o mercado a curto prazo, fora outros projetos de seu plano. Além desse setor, temos a perspectiva na área de baixo carbono, que é usar o hidrogênio verde como base para outros produtos, e a de energia, que só tende a crescer, pois as fontes solar e eólica são intermitentes, fazendo com que as termelétricas, que possuem uma emissão de gás baixíssima, também sejam importantes para atender essa demanda crescente”.

ESG: primeiro estaleiro no País a receber certificação internacional de
responsabilidade social

Além da TSE para a construção de complexos industriais terrestres, a TSPI é gestora do Estaleiros do Brasil Ltda (EBR), voltada à implantação de instalações marítimas de prospecção, exploração, produção, tratamento e transporte de petróleo e gás.
Localizado na cidade de São José do Norte, no Rio Grande do Sul, o Estaleiro contempla uma área de aproximadamente 1,7 milhão de m², com instalações amplas e infraestrutura própria, e foi o primeiro no Brasil a receber a certificação da SA8000, uma Norma Internacional de Responsabilidade Social.

A norma assegura melhorias nas condições de trabalho nas organizações com base nos preceitos da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Com validade de três anos, a norma certifica que a companhia cumpre requisitos como a erradicação da mão-de-obra escrava e infantil, o direito à livre associação e o pagamento de salários para a subsistência do profissional, que atenda às necessidades incluindo saúde, educação e lazer.
Dentre as ações de responsabilidade social do Estaleiro, estão: o Projeto Semente da Esperança, que promove acesso à arte cênica de crianças e adolescentes através do Encena-tchê, elaborado e mantido pelo EBR. Há parceria também nos projetos como o Fio de Esperança, que capacita mulheres socialmente vulneráveis na área de costura e confecção e o Tri Massa, que visa formar moradores locais na arte em panificação e confeitaria.

“Hoje as pessoas que treinamos já geram renda sozinhos. Em Barcarena (PA), por exemplo, formamos 60 alunos em parceria com o SENAI e foi muito emocionante! Turmas de secretariado, técnicas administrativas e oratória. Temos o Caia na Rede também, que é de educação tecnológica para Terceira Idade e outros”, contou o diretor de Governança e Integridade, Marcelo Ribeiro.
Antes de realizar os projetos, o diretor do EBR ressaltou que a empresa faz um levantamento das comunidades. Os projetos sociais estão distribuídos onde o Estaleiro atua, em São José do Norte (RS) e em Barcarena (PA). Somando todas as iniciativas, o grupo diz ultrapassar o atendimento a mais de 500 famílias nas duas cidades.

“O impacto social nessas pequenas comunidades é muito grande. A satisfação é imensa em ver que deixamos um legado como a qualificação de jovens para o mercado de trabalho. Em Barcarena, durante a formatura de cursos profissionalizantes, vimos as famílias emocionadas. Isso é gratificante, não queremos deixar somente a obra na cidade, mas um legado fazendo a diferença naquele lugar”, concluiu Marcelo.