Novonor troca CEO da Braskem e traz nome que já ajudou grupo em desinvestimento

Substituição ocorre dias depois de a Polícia Federal indiciar a companhia e 19 pessoas pelo desastre em Maceió

FONTE: Pipeline.

Depois de algumas negociações frustradas para vender sua participação na Braskem, a Novonor (ex-Odebrecht), controladora e maior acionista da empresa do setor petroquímico, decidiu trocar o CEO do negócio. E para comandar a companhia contratou um executivo que já a ajudou em outro desinvestimento, Roberto Prisco Paraíso Ramos, ex-CEO da Ocyan (antiga Odebrecht Óleo e Gás), vendida para investidores institucionais americanos no fim de 2023.

Ramos vai entrar no lugar do seu xará Roberto Bischoff, que ficará até o fim deste mês, depois de quase dois anos no cargo. Esta é a segunda vez que Ramos substitui Bischoff no comando de um negócio. No início de 2023, quando assumiu pela segunda e última vez a Ocyan, ainda pertencente à Novonor, também foi em substituição a Bischoff, que estava de saída para comandar a Braskem, no lugar do também xará Roberto Simões.

Na segunda passagem pela Ocyan, o principal legado de Ramos foi concluir o processo de venda da companhia pela Novonor para o fundo americano EIG, especializado em ativos de energia e infraestrutura, e para a gestora de private equity Lake Capital Investimentos, também dos Estados Unidos. A transação foi anunciada no fim de 2023, por um valor total de US$ 390 milhões.

Roberto Prisco Paraíso Ramos, novo CEO da Braskem — Foto: Divulgação
Roberto Prisco Paraíso Ramos, novo CEO da Braskem — Foto: Divulgação

Formado em engenharia mecânica, Ramos também já teve uma longa passagem pela Braskem, entre 2002 e 2010, tendo liderando a implantação do Projeto Etileno XXI no México. Ele saiu da empresa em 2010 para ter a sua primeira passagem como CEO da então Odebrecht Óleo e Gás, que durou até 2014, quando a Operação Lava Jato estava dando seus primeiros passos. O executivo, aliás, chegou a ser preso temporariamente, em 2016, no âmbito da Operação Xepa, na 26ª fase da Lava Jato. Ele foi investigado, mas não chegou a sofrer uma acusação formal.

Já Bischoff, nos dois anos à frente da Braskem, tem, entre suas realizações, o acordo com a SCG Chemicals na Tailândia, a ampliação da planta de eteno verde no Brasil e a construção de 88% do Terminal de Recebimento de Etano no México (TQPM).

Foi também na gestão de Bischoff que ocorreu um dos episódios mais lamentáveis da história da empresa, o colapso de uma mina de sal-gema em Maceió, em dezembro de 2023, levando ao afundamento de cinco bairros e obrigando mais de 50 mil pessoas a deixarem suas casas.

Na semana passada, a Polícia Federal indiciou a companhia e mais 19 pessoas por crimes relacionados à tragédia, entre funcionários da empresa, do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) e da Stop Serviços Topográficos. Bischoff não está entre os indiciados.

O episódio em Maceió, além dos estragos ambientais e sociais, acabou também atrapalhando a tentativa de venda da fatia da Novonor na Braskem. Desde o ano passado, pelo menos cinco empresas demonstraram interesse na participação de 38%: Unipar, J&F, Adnoc, de Abu Dhabi, a saudita Sabic e a PIC, do Kuwait. Uma venda para a Petrobras, dona de 36% da Braskem, também foi cogitada. A Adnoc chegou a fazer uma oferta não vinculante e a começar a due diligence, mas o passivo ambiental contribuiu para interromper as conversas.