Hidrogênio verde: conheça 16 projetos promissores em desenvolvimento no Brasil
Mais de US$ 30 bilhões em investimentos estão previstos para a fonte, em dezenas de usinas ao redor do país
FONTE: Eixos.com
Nos últimos anos, dezenas de projetos para produção de hidrogênio verde (H2V) no Brasil foram anunciados. Estima-se que juntos eles somem mais US$ 30 bilhões em investimentos, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Energia Limpa (Inel).
A maior parte ainda está em estudo de viabilidade, com apenas memorandos de entendimento assinados com portos e governos estaduais. Entretanto, o Brasil já começa a ver alguns empreendimentos saírem do papel, entre pilotos e plantas de escala industrial.
Os projetos estão concentrados nos portos-indústria do Brasil, que agregam algumas características importantes.
Além de contarem com a infraestrutura para exportação do hidrogênio, os portos possuem potenciais consumidores domésticos e estão próximos a grandes projetos de eólicas offshore, com enorme capacidade de produção de energia renovável.
O que é o hidrogênio verde?
Ainda há uma discussão sobre a nomenclatura do hidrogênio em relação à intensidade de sua emissão de carbono.
Mas o critério mais aceito é que o hidrogênio verde é produzido através da eletrólise da água — separação das moléculas de oxigênio e hidrogênio — com o uso de energia renovável, como hidrelétrica, eólica, solar, biomassa ou biogás.
Também é considerado verde o hidrogênio produzido a partir de reforma e gaseificação de biomassa e biogás, alimentado por resíduos agroindustriais.
Como é usado o hidrogênio verde?
O hidrogênio verde é apontado como alternativa para a descarbonização de setores com alta intensidade de emissões de carbono, como transporte, petroquímico, siderurgia e mineração.
Pode substituir os combustíveis fósseis em veículos leves, caminhões, trens e navios; atuar como energético industrial nas indústrias de cimentos, aço e papel e celulose; e servir de matéria-prima na siderurgia, produção de fertilizantes e refino de petróleo.
Não há consenso sobre melhor forma de transporte do hidrogênio em larga escala. Entre elas, estão a injeção de hidrogênio na malha de gasodutos existentes, ou a construção de gasodutos dedicados.
Outra aposta é a conversão do hidrogênio em amônia para viabilizar o transporte de longas distâncias em navios. Em geral, dez toneladas de hidrogênio podem ser convertidas em aproximadamente em 60 toneladas de amônia.
Veja abaixo 16 das principais iniciativas para produção de hidrogênio verde no Brasil, listados de acordo com o andamento dos projetos.
São doze usinas comerciais e quatro projetos-piloto.
Fortescue (Ceará)
A usina de hidrogênio verde, projetada pela gigante australiana da mineração, Fortescue, deve ser instalada no Complexo do Pecém com aporte estimado em R$ 17, 5 bilhões, de acordo com o MDIC.
O projeto espera produzir cerca de 500 toneladas diárias de hidrogênio a partir da eletrólise da água, utilizando 1,2 gigawatts de energia renovável.
A empresa foi uma das primeiras a assinar um memorando de entendimento com o Ceará, em 2021, para integrarem o hub de hidrogênio verde do Pecém.
Em julho de 2024, a Fortescue chegou à decisão antecipada de investimento (EID, na sigla em inglês) para o projeto. A EID é a etapa que antecede a decisão final de investimento (FID), prevista para 2025.
Em outubro de 2024, a companhia recebeu do Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE) sinal verde para a instalação do projeto no Setor 2 da ZPE do Complexo do Pecém, além da Licença de Instalação da autoridade ambiental do Estado do Ceará, a Semace, para que possa iniciar as obras de preparação do terreno até o final do ano.
O projeto de hidrogênio da Fortescue é um dos onze que já possuem pedido de conexão à rede elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN), conforme informações do Ministério de Minas e Energia.
Além disso, ele também integra a lista de projetos selecionados pelo governo para captar investimentos internacionais na Plataforma de Investimentos em Transformação Climática e Ecológica do Brasil (BIP).
- Investimento: incialmente de US$ 6 bilhões/ atualizado em outubro de 2024 para cerca de US$ 3,5 bilhões
- Produção de hidrogênio verde: 180 mil de toneladas/ano
- Capacidade de eletrólise: 1.2 GW
- Início previsto: 2025
- Operação plena: 2027
Atlas Agro (Minas Gerais)
A Atlas Agro desenvolve uma planta de hidrogênio verde para produção de fertilizantes em Minas Gerais. É um dos poucos projetos de hidrogênio verde no Brasil que olham para o mercado doméstico, e não para exportação.
A fábrica que será construída em Uberaba (MG), faz parte do projeto Uberaba Green Fertilizer (UGF) e prevê investimentos de R$ 4,3 bilhões. A planta já concluiu a fase de pré-engenharia e se prepara para iniciar o projeto executivo.
O projeto prevê a utilização de energia solar e eólica para produzir hidrogênio e amônia verdes, com capacidade de 530 mil toneladas por ano, atendendo à demanda regional de fertilizantes e reduzindo a pegada de carbono nas lavouras em até 50%.
Contrariando as previsões do mercado, o fertilizante feito a partir do hidrogênio verde será vendido no mercado brasileiro ao mesmo preço que o convencional, produzido com gás natural, segundo disse Rodrigo Santana, diretor de operações da Atlas Agro, em entrevista à eixos.
A empresa com sede na Suíça, conta com um escritório em Madrid, na Espanha, e além do Brasil, tem um projeto similar de produção de fertilizantes a partir de hidrogênio verde no estado de Washington, Estados Unidos.
O projeto já possui pedido de conexão à rede de transmissão, e também foi escolhido pelo governo para captar investimentos internacionais por meio da Plataforma de Investimentos em Transformação Climática e Ecológica do Brasil (BIP).
- Investimento: R$ 4,3 bilhões
- Produção de amônia verde: 530 mil de toneladas/ano
- Capacidade de eletrólise: 2.5 GW
- Início previsto: 2028
Green Energy Park (Piauí)
A Green Energy Park (GEP) desenvolve um dos maiores projetos de hidrogênio verde do mundo, no Piauí.
No ano passado, a presidente da Comissão Europeia confirmou o aporte de 2 bilhões de euros para financiar a produção de hidrogênio verde no Brasil. Parte dos recursos serão destinados ao projeto da GEP.
O projeto terá capacidade de produzir 10 GW de hidrogênio limpo e amônia que, a princípio, seriam enviados para a ilha de Krk, na Croácia.
A partir daí, o hidrogênio poderia abastecer consumidores industriais no Sudeste da Europa.
O projeto Green Energy Park Piauí deve ser instalado na ZPE de Parnaíba, e terá uma conexão com o futuro Porto de Luís Correia — ainda em construção.
A produção está programada para começar já em janeiro de 2028. Há possibilidade também de atendimento à demanda nacional.
O projeto será implementado em 6 etapas, que devem durar 10 anos, com um investimento que deve superar R$200 bilhões. O objetivo do projeto é produzir 2,8 milhões de toneladas de hidrogênio verde e 15 milhões de toneladas de amônia anualmente.
A produção de hidrogênio será alimentada pelo parque de geração de energia solar fotovoltaica que será desenvolvido no interior do estado. Os projetos de usinas fotovoltaicas devem ter 30GW.
Em outubro de 2024, a empresa anunciou uma parceria com a Vale para estudar a construção de um mega hub de hot-briquetted iron (HBI ou ferro-esponja) no Brasil, alimentado por hidrogênio renovável.
- Investimento: incialmente de US$ 200 bilhões pelo período de 10 anos
- Produção de hidrogênio e amônia verde: 2,8 milhões de toneladas de hidrogênio verde e 15 milhões de toneladas de amônia por ano
- Capacidade de eletrólise: 10 GW
- Início previsto: 2028
Solatio (Piauí)
O grupo espera desenvolver uma planta de hidrogênio verde e amônia, com capacidade produtiva de 11,4 GW na Zona de Processamento para Exportação em Parnaíba, Piauí.
A expectativa é produzir anualmente 1,7 milhões de toneladas de hidrogênio verde e 9,6 milhões de toneladas de amônia verde.
O projeto já conta com licença prévia da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e segue avançando no projeto básico e de Engenharia FrontEnd (FEED), com a expectativa de conclusão do projeto executivo ainda em 2024.
Cerca de 25 GWp de usinas fotovoltaicas irão garantir o suprimento energético da planta. Este portfólio representa apenas 50% das necessidades do projeto.
O planejamento está divido em seis fases, cada uma com a capacidade de 1,9 GW. A primeira fase, prevista para iniciar a produção em janeiro de 2028.
A companhia calcula cerca de 42 bilhões de euros de investimentos nos próximos 13 anos, maioritariamente no Piauí.
- Investimento: 42 bilhões de euros pelo período de 13 anos
- Produção de hidrogênio e amônia verde: 1,7 milhões de toneladas de hidrogênio verde e 9,6 milhões de toneladas de amônia verde
- Capacidade de eletrólise: 11,4 GW
- Início previsto: 2028
European Energy (Pernambuco)
A dimarquesa European Energy possui um acordo com o Governo do Estado de Pernambuco para instalação de uma indústria de produção de e-metanol no Complexo Industrial Portuário de Suape. A Petrobras estuda sociedade no projeto.
O e-metanol é produzido por meio da junção do hidrogênio verde, obtido a partir de fontes renováveis, como solar e eólica, e do dióxido de carbono de origem biogênica. É um combustível de baixo carbono com aplicações em processos industriais ou usado como combustível, especialmente no transporte marítimo.
O empreendimento deve ocupar uma área de 10 hectares, com estimativa de R$ 2 bilhões em investimentos e geração de 250 empregos diretos e mais 15 mil indiretos.
De acordo com o cronograma da European Energy, o projeto básico será apresentado até 30 de abril de 2025, e as obras terão início em outubro, com a concessão das licenças ambientais.
A previsão é que a unidade comece a funcionar em julho de 2028 no terreno localizado nas proximidades do Estaleiro Atlântico Sul.
O projeto idealizado pela European Energy para Suape seguirá o modelo de uma planta que está sendo comissionada na Dinamarca para abastecer os navios da Maersk. Parceria que deve se estender ao combustível produzido no Brasil.
- Investimento: R$ 2 bilhões
- Produção de e-metanol: 100 mil toneladas de e-metanol
- Início previsto: 2028
Fuella (Rio de Janeiro)
A Norueguesa Fuella fechou em agosto de 2024 o primeiro contrato de reserva de área para o hub de hidrogênio do Porto de Açu, no Rio de Janeiro.