Os possíveis efeitos do novo contra-ataque da Petrobras no mercado de gás natural
Estatal faz sua 2ª mudança na política de preços em 2024 e deve baixar marginalmente o preço, mas com efeitos sobre o mercado
FONTE: Eixos.com.
PIPELINE. Petrobras responde concorrentes com 2ª mudança na política de preços do gás em 2024. Movimento deve baixar marginalmente o preço, mas com efeitos sobre a dinâmica do mercado.
Bolívia define preço para enviar gás argentino ao Brasil. Voqen prepara estreia no mercado livre. Alpek monta comercializadora. TAG testa novas condições contratuais para termelétricas. Deputados aprovam Profert e mais. Confira:
A Petrobras anunciou novas condições comerciais para as distribuidoras estaduais com uma política de incentivo à demanda que promete baixar – ainda que marginalmente – o preço do gás natural.
É mais uma reacomodação da estatal (a 2ª no ano), de olho em seu market share. Nas palavras da presidente Magda Chambriard, a Petrobras pretende ocupar “o mercado que puder ocupar”.
As distribuidoras ainda aguardam as propostas formais, para entenderem melhor as novas condições e os seus reais impactos.
Numa avaliação preliminar de agentes consultados pela agência eixos, porém, já é possível identificar alguns possíveis efeitos da nova política de preços da estatal. Entenda aqui como ela vai funcionar
A seguir, a gas week se dedica a analisar algumas dessas tendências.
Mas antes: em meio ao novo contra-ataque da Petrobras, o senador Laércio Oliveira (PP/SE) introduziu no relatório do PL 327/2021, o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), um capítulo específico para tratar do fomento à indústria de gás natural.
E apresentou uma proposta de gas release (o programa de desconcentração compulsória da oferta), para limitar a posição dominante da estatal no mercado, conforme antecipado pelo eixos pro, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias)
De fora das medidas anunciadas até aqui pelo governo federal, no Gás para Empregar, o gas release volta à pauta agora no Congresso. Para ficar de olho.
Formadora de preços
A nova estratégia da estatal contempla um mix de precificação que varia conforme o volume retirado e que, na média, deve puxar o fator Brent (percentual do preço do petróleo ao qual o gás é indexado) para mais próximo de 11%.
Para efeitos de comparação, o preço de referência com que a petroleira vem trabalhando desde o ano passado é de 11,7% a 11,9% nos acordos de suprimento de longo prazo – embora, no primeiro semestre, a companhia já tenha feito um primeiro movimento de repactuação de contratos vigentes.
É, portanto, mais uma redução marginal nos preços, mas que volta a pressionar a concorrência a ajustar suas ofertas.
Como agente dominante do mercado, a Petrobras é também formadora de preços: e se a estatal baixa os seus preços, também pressiona os preços da concorrência para baixo.
Na primeira janela de abertura do mercado, em 2022, os fornecedores privados entraram com preços abaixo – com certa folga – dos preços praticados pela estatal – que, naquele ano, em meio à escalada da cotação do GNL no mercado internacional, chegou a adotar um fator Brent de 16,75%.
Aos poucos, porém, o mercado foi se reacomodando e alguns agentes foram aumentando gradualmente o fator Brent, ao mesmo tempo em que a Petrobras foi baixando os seus preços.
Para ficar em dois exemplos:
- o preço médio de comercialização de molécula da Petroreconcav subiu de 7,7% em 2022 para 9,2% em 2023, conforme a companhia foi fechando novos contratos com condições mais rentáveis;
- e a 3R Petroleum (agora Brava Energia), que em 2022 se manteve abaixo dos 10% de fator Brent, vem operando com percentuais acima de 11% desde o ano passado
Incentivo à demanda
Uma das novidades da nova posição comercial da Petrobras é o prêmio de incentivo à demanda.
A agência eixos apurou que, dentro de seu novo mix de precificação, a petroleira tem sinalizado um desconto maior para todo o gás que ultrapassar o limite do take-or-pay (compromissos de retirada mínima), usualmente de 90%.
Nesses casos, o fator Brent será da ordem de 10%. E as concessionárias poderão retirar até 15% a mais que a quantidade diária contratada com esse desconto.
Esse tipo de abordagem não chega a ser novidade, mas o grau do incentivo mudou.
Este ano, a petroleira, num primeiro contra-ataque aos concorrentes, já havia anunciado uma nova política que previa um mix de preços por volume retirado. Na ocasião, a Petrobras deu um desconto (menor que o atual) que incentivava os clientes a retirar até 5% a mais da QDC.
Ao permitir retiradas superiores ao volume contratado, sem penalidades (ao contrário, com incentivos), a Petrobras incentiva a demanda por volumes adicionais, num momento em que a empresa amplia a oferta com a entrada em operação da nova UPGN do Complexo Boaventura (antigo Comperj).
A unidade tem capacidade para processar 21 milhões de m3/dia, mas a oferta líquida ao mercado será menor que isso.
Parte do gás processado se transforma em líquidos. Sem contar que parte do volume substituirá importações e o declínio dos campos do pós-sal.
O estímulo à demanda, vale lembrar, será oferecido pela petroleira de acordo com a disponibilidade de gás e é temporário – segundo fontes, o desconto vale até o fim de 2026.
Procurada, a Petrobras não respondeu aos questionamentos sobre a nova precificação.
Proteção contra concorrentes
Ao mesmo tempo em que o prêmio de incentivo à demanda estimula o consumo, o mecanismo tende a proteger a estatal contra a concorrência.
Isso porque a nova política de preços da companhia passa a adotar um fator Brent competitivo (10%) para todo o volume que ultrapassa o take-or-pay – que é, justamente, o volume mais sensível a arbitragens.
Em outras palavras: o cliente, eventualmente, pode reduzir a sua retirada até o compromisso mínimo, sem penalidades, e substituir esse volume por contratos de curto prazo, em geral oferecidos com descontos.
O desconto pressiona a competitividade do gás de oportunidade oferecido pela concorrência.
A estratégia vem em linha com as falas recentes de Magda Chambriard:
“A gente não está querendo abrir mão de mercado para ninguém, não. O mercado que pudermos ocupar, nós vamos ocupar”, afirmou, em conversa com jornalistas na segunda (14/10).
GÁS NA SEMANA
Mais barato. Petrobras vai reduzir em 1,41%, na média, o preço do gás para as distribuidoras em novembro, no próximo reajuste trimestral.
Gás argentino. O serviço de trânsito internacional da YPFB, que permitirá o envio de gás de Vaca Muerta rumo ao Brasil, custará entre US$ 1,4 e US$ 2 o milhão de BTU, dependendo do tipo de contrato.
Harmonização. TAG está testando novas condições contratuais, para facilitar despacho emergencial de usinas. Empresa enxerga oportunidade de aproximação com setor elétrico.
Mercado livre. A Voqen, comercializadora da Braskem, lançou concorrência para aquisição de até 1,6 milhão de m3/dia. A empresa quer comprar molécula tanto para consumo das unidades industriais do grupo quanto para terceiros.
– ANP autoriza NEG, do grupo petroquímico Alpek, a comercializar gás.
– Biogás e biometano podem ser “instrumentos de passagem” da indústria petroquímica para base renovável, avalia CEO da Gás Orgânico, Giovane Rosa.
Fertilizantes. A Comissão de Minas e Energia na Câmara dos Deputados aprovou o projeto que cria o Profert, com desoneração para o gás utilizado como matéria-prima no setor.
Flare. Emissões da indústria global de óleo e gás pela queima de gases aumentaram 7% em 2023, segundo a Rystad.
Biometano. Nenhum dos 11 candidatos que venceram no 1º turno das eleições municipais em capitais brasileiras mencionou o aproveitamento energético dos resíduos urbanos em seus programas de governo apresentados ao TSE.
– O desenvolvimento do biometano em SP tende a se dar pela via do mercado livre, acredita a superintendente de Regulação de Gás da Arsesp, Carina Couto.
– O crescimento do mercado de biometano passa pela necessidade de planejamento setorial, com inteligência territorial para casar oferta e demanda, defende a Amplum Biogás.
– Para que a produção do biometano alcance patamares ainda maiores será preciso estimular a criação de novas demandas, avalia o diretor da Abegás, Marcelo Mendonça.
– Combustível do Futuro deve ajudar a impulsionar o uso do biometano na substituição de gás de origem fóssil no segmento industrial e do diesel no setor de transporte, na visão da presidente da MDC Energia, Manuela Kayath.
Reforma tributária. Concentrar no produtor de biometano o regime monofásico dos combustíveis pode ter efeitos contrários ao desejado, de coibir a sonegação fiscal, defende a presidente da ABiogás, Renata Isfer.