Lobby europeu influencia debate climático e é preciso manter petróleo nos planos do Brasil, defende Magda Chambriard
Disputa comercial global influencia o debate climático no Brasil, segundo a presidente da Petrobras, Magda Chambriard
FONTE: Eixos.com.
RIO – A disputa comercial em torno do suprimento global de energia influencia o debate climático no Brasil, defendeu a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, nesta quarta (25/9).
Em sua primeira entrevista exclusiva desde que assumiu a gigante brasileira, Chambriard explorou um argumento que ganha força no governo brasileiro e é repetido pelas petroleiras que atuam no país: não produzir, mas consumir petróleo estrangeiro terá um efeito na contramão das metas climáticas, elevando as emissões domésticas.
Na sua visão, o debate está contaminado pela disputa comercial, em que países ricos tentam influenciar nas decisões globais, em razão de vantagens comerciais.
Magda Chambriard falou ao estúdio eixos, na Rog.e. (Assista na íntegra acima)
Na entrevista, defendeu a necessidade de o país continuar explorando petróleo, além de como a companhia será protagonista na redução dos preços do gás natural, o retorno das plantas de fertilizantes e novos investimentos, até mesmo em etanol.
Chambriard argumentou que a crescente oferta de bioenergia no mercado brasileiro, inclusive pela companhia sob sua liderança, “mostra a responsabilidade da Petrobras em relação ao meio ambiente e como nós estamos levando a sério o net zero em 2050”.
Há, contudo, um “lobby exacerbado do primeiro mundo”, afirmou.
“A Europa é um espelho do mundo. O petróleo da Europa já acabou faz tempo, o que eles têm lá é resíduo, eles já não têm mais isso. Ou [têm] em antigas colônias”.
Com a “franqueza de uma engenheira de petróleo”, a executiva foi direta ao afirmar que, no fundo, uma rota de transição que abandone os combustíveis líquidos — fósseis e renováveis — interessa a países que não detém esses recursos ou teriam que pagar mais caro por eles.
“Então, se eu fosse europeia, eu ia estar dizendo a mesma coisa: ‘Olha, eu quero transição energética porque eu não tenho petróleo, não me interessa esverdear o meu combustível porque eu vou pagar caro por ele, mas eu tenho tecnologia e quero vender para quem compre [essa] transição energética”.
Enquanto restaria aos países em desenvolvimento a despesa de adaptar toda a infraestrutura existente.
“Quando a gente fala de ‘transição energética justa’, estamos falando de uma [outra] transição energética, que é cara, que exige uma troca brutal e uma construção brutal de infraestrutura. Que tem que ser paga e não pode ser feita de uma hora para a outra”.