Cesar Meireles – Um plano logístico para a Bahia

FONTE: Bahia Econômica.

Este artigo convida a ver a Bahia como um estado dotado de infraestrutura de transportes vanguardista e com logística integrada e multimodal essenciais para o desenvolvimento econômico sustentável da Bahia.

O Nordeste ocupa 20% do território brasileiro e abriga cerca de 27% da população do país. Comparativamente, a região abrange um território semelhante aos da França, Espanha e Suécia somados, com uma população equivalente à da Itália. A Bahia, o maior estado nordestino, tem uma área equivalente à da França e uma população igual à soma da Bolívia e do Uruguai. Fazendo fronteira com oito estados, representa um locus estratégico de oportunidades.

A Bahia abriga a segunda maior baía do mundo, com impressionantes profundidades que chegam a 70 metros, superando muitos portos globais. A Bahia também tem o maior litoral do país, com 1.200 km. A Baía de Todos os Santos, abriga a capital oficial da Amazônia Azul, oferecendo inúmeras possibilidades para a economia do mar.

Diante dessa relevância, a Bahia necessita de uma infraestrutura logística e de transportes de excelência para dar vazão à sua produção mineral e agroindustrial, servindo como uma plataforma logística para o trânsito, entreposto e distribuição de carga para o Nordeste e o país, dada à sua localização estratégica e equidistante das demais regiões.

Em “Notas sobre o Enigma Baiano” (1958), o economista baiano Manoel Pinto de Aguiar (1910 – 1991), buscava investigar as razões que levaram a Bahia à decadência econômica, a partir de meados do século XIX até a primeira metade do século XX. Pinto de Aguiar, Octavio Mangabeira e Rômulo de Almeida, fizeram parte do elenco de luminares baianos que pensaram e planejaram o estado numa dimensão futurista, desenvolvimentista.

Quando no mestrado da UFBA (2021), o professor Marcos Alban voltava a falar sobre o Enigma Baiano, trazendo questões urbanas e regionais para discussão em outras perspectivas, mostrando-nos que ainda carregamos os graves problemas de sempre.

Diante de tantas evidências, formulo a seguinte questão. Seria a anacrônica e fragmentada infraestrutura logística de transportes baiana, que isola o estado da Bahia dos demais estados do Nordeste e do resto do Brasil, condenando nossos portos ao isolamento multimodal, impondo baixas taxas de crescimento e custos logísticos elevados, o “Novo Enigma Baiano”?

Os ofensores reais no campo da infraestrutura logística ao longo das últimas três décadas condenaram a Bahia a um tímido crescimento. Erros como o abandono da malha ferroviária baiana, a fracassada concessão da BR-324 e da BR-116, e o descaso com o Rio São Francisco para escoamento de parte da produção do Oeste Baiano contribuíram para isso.

Outras questões, como a modelagem fragmentada da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que termina por trazer graves impedâncias, inclusive na definição do Porto Sul, são exemplos de problemas que impedem o desenvolvimento da Bahia. Projetos como o MTC Porto Caravelas S.A., que visa ligar Araçuaí (MG) a Caravelas (BA) para escoamento mineral, também se encontram fora do alcance dos planos atuais.

Diante da iminente operação da BYD, a expansão da energia fotovoltaica, eólica e do hidrogênio verde, do crescimento do agronegócio e mineração, torna-se imperativa uma logística inteligente, integrada, multimodal e competitiva.

Diante do exposto, surge o Plano Estratégico de Logística Multimodal Integrado da Bahia (PELMI-BA), o qual visa aumentar a competitividade da economia baiana trazendo eficiência e crescimento sustentado e sustentável através da concepção de uma infraestrutura logística moderna, especialmente no transporte multimodal em conexão com os portos e plataformas logísticas integradas, promovendo o surgimento de instrumentos vivos de desenvolvimento econômico.

O PELMI-BA busca formular planos estratégicos e políticas públicas para investimentos em infraestrutura logística e de transporte para os próximos 50 anos, analisando as demandas e projeções de carga nas rodovias, ferrovias, hidrovias e aeroportos do estado.

O estudo deverá basear-se em diagnóstico (cenário atual) e prognóstico (cenários futuros) da rede de transporte rodoviária, ferroviária, aeroviária e hidroviária, com simulações avançadas em ambiente computacional, analisando conexões regionais, nacionais e internacionais, além de avaliações econômico-financeiras dos projetos, sugerindo a priorização de investimentos públicos e privados conforme o impacto potencial.

A análise deve considerar a conectividade da Bahia com estados do Nordeste e outras regiões do Brasil, a exemplo do ecossistema do Matopiba (MA, TO, PI e BA), fronteira agrícola com os maiores indicadores de crescimento do agronegócio brasileiro.

Quanto aos portos, é essencial a integração destes com rodovias e ferrovias com áreas interiores (hinterland) e destes, com a extensão marítima de além-mar (foreland), conectando portos de origem e destino das cargas de importação e exportação através de linhas de transporte marítimo, em sincronia com serviços feeders e cabotagem.

O plano também incluirá estudos sobre corredores logísticos e plataformas multimodais, promovendo o crescimento e a conectividade estratégica, além de identificar locais para implantação de clusters logísticos e centros de distribuição, com foco em geração de emprego e renda, e dinamização do comércio internacional.

Por fim, o plano deve considerar o espectro de funding para os projetos identificados e recomendar parcerias estratégicas com fundos de investimento, bancos de fomento e parcerias público-privadas.

Aproveitar trabalhos já realizados, suas lições e estudos recentes é essencial para evitar o desperdício de esforços e garantir que a Bahia seja beneficiada em setores como indústria, comércio, agronegócio, mineração, turismo e a neoindustrialização.

*Carlos Cesar Meireles Vieira Filho é mestre em Administração pela UFBA/BA, tem formação em Conselho pela FDC/MG e MBA em Economia e Relações Governamentais pela FGV/SP.  Co-fundador e CEO da ABOL – Associação Brasileira de Operadores Logísticos (2012 a 2021), é conselheiro do COMEX da FIEB, conselheiro-tecnico do ILC/Mastermind, conselheiro do Brasil Export, Painel pela Infraestrutura do iBESC e sócio-diretor da TALENTLOG – Consultoria e Planejamento Empresarial Ltda.