Reestruturar o complexo petroquímico do nordeste – Waldeck Ornélas
FONTE: Bahia Econômica
O Complexo Petroquímico do Nordeste, sediado em Camaçari, vive uma fase crítica, marcada pela perda de escala e defasagem tecnológica, carente de investimentos e enfrentando problemas de governança. Os ciclos naturalmente se esgotam e, por isto mesmo, as indústrias requerem constante atualização. O que há pouco foi vanguarda, hoje, 46 anos depois da entrada em operação da sua central de matérias primas, enfrenta enormes desafios.
Embora cumpra, ainda, seu importante papel no modelo de “desconcentração concentrada” da industrialização brasileira para o Nordeste – conceito para aqui trazido por Rômulo Almeida – e continue sendo o maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul, o COPEC corre o sério risco de, não apenas perder relevância mas, sobretudo, esvair-se.
Tendo transformado Camaçari na capital industrial do Nordeste, a área que o abriga tornou-se um diversificado parque industrial, fortalecendo, com o passar do tempo, a condição local de principal base industrial da região.
Além de indústrias químicas e petroquímicas, aí encontram-se plantas de celulose solúvel, metalurgia do cobre, automobilística – com a BYD, chegando para substituir a Ford –, pneus, equipamentos de energia eólica, fertilizantes, químicas, fármacos, bebidas, além de uma diversificada oferta de serviços. O mais recente movimento de expansão deu-se com o complexo acrílico da Basf. O seu núcleo – a petroquímica – está, no entanto, comprometido.
O planeta conta, todavia, com vários exemplos de complexos petroquímicos, ainda mais antigos que o de Camaçari, que vêm sendo renovados e modernizados ao longo do tempo, para se atualizarem e continuarem competitivos.
Podendo até ser visto como um dos seus efeitos indiretos a jusante, a presença do Cimatec – Campus Integrado de Manufatura e Tecnologia, no atual cenário econômico da Bahia, constitui suporte local de fundamental importância para trabalho dessa natureza e magnitude, inclusive tendo em conta as suas inúmeras parcerias internacionais. Em duas décadas, esta unidade do SENAI, dedicada à temática da indústria 4.0, tornou-se uma das maiores, mais importantes e qualificadas instituições de PD&I do país.
Mas, como se não bastassem as questões tecnológicas e econômicas, o Complexo Petroquímico enfrenta graves problemas na sua governança. Tendo sido implantado sob a égide do engenhoso modelo tripartite – em que o capital estatal, representado pela Petroquisa, subsidiária da Petrobras, assegurava o equilíbrio e exercia a liderança, o capital estrangeiro fornecia a tecnologia, e o capital nacional se incorporava, para ganhar experiência e expandir-se – a Copene, Companhia Petroquímica do Nordeste, terminou migrando para a liderança da Norquisa, dando origem, posteriormente, à Braskem.
Desde que assumiu a liderança do Polo, a Braskem voltou-se para sua própria expansão e internacionalização, abandonando a base industrial que lhe deu origem e suporte. Ainda agora, embora não esteja investindo aqui, a Braskem continua fazendo investimentos em outras bases territoriais, de que é exemplo o acordo com a Shell, para produzir polipropileno a partir de resíduos plásticos… na Alemanha, onde inova em economia circular.
A Braskem posta à venda expõe o Complexo Petroquímico de Camaçari como um ativo que se deprecia, sem contar com os investimentos necessários e indispensáveis à sua reestruturação e modernização. É óbvio que todas as empresas do Polo precisam ser mobilizadas e estarem envolvidas no projeto e processo de reestruturação do complexo industrial, mas a Braskem é a peça-chave, por abranger as primeiras gerações da cadeia produtiva.
Novamente o papel da Petrobras – a depender das posições que adote – volta a ser determinante para a retomada e a sustentabilidade do Complexo Petroquímico do Nordeste. Sócia da Novonor (ex-Odebrecht) no controle acionário da Braskem, a Petrobras pode e deve, até para preservar este seu ativo, construir solução que permita a retomada imediata dos investimentos na petroquímica de Camaçari.
Neste momento, o Polo Petroquímico precisa ser reestruturado. Se algo não for feito de imediato, o futuro é nebuloso. Na Bahia, vivenciamos o fechamento da fábrica da Ford, e não aprendemos nada?
Neste momento, para a Bahia, mais importante do que a Petrobras reassumir o controle de Mataripe é resgatar o Complexo Petroquímico, que substituiu o cacau como principal suporte da economia baiana. Em caso de colapso da petroquímica, a Bahia não desenvolveu, desde então, outro pilar para a sua economia.
Já é passada a hora de uma grande mobilização, com o governo do Estado, em articulação local com a Fieb e o Cofic, e nacional, com o Mdic, Bndes e Finep, outra vez sob a liderança executiva da Petrobras, para reestruturar o Complexo Petroquímico do Nordeste, ao abrigo da política nacional de neoindustrialização, resgatando e atualizando este que é um dos esteios da indústria nacional.
Ainda que o setor petroquímico nacional enfrente, neste momento, grandes dificuldades, por razões de competitividade, a solução para o COPEC é urgente e independe da resolução desse problema de política econômica.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.