Mandacaru Energia quer unir biomassa à produção de óleo e gás terrestre no semi-árido nordestino

FONTE: EPBR

VITÓRIA – A Mandacaru Energia estuda o desenvolvimento de culturas de biomassa em blocos de produção de petróleo e gás terrestres a partir da água produzida nos poços no semi-árido nordestino, disse o CEO da companhia, Caetano Machado, em entrevista à agência epbr durante a Vitória PetroShow nesta quinta-feira (04/4). A ideia é eventualmente gerar créditos de carbono.

A companhia tem uma parceria com a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) em Mossoró (RN) e avalia a produção de biomassa a partir do eucalipto, mamona e moringa nos blocos que opera na Bacia Potiguar.

“Não precisa ter vergonha de ser produtor de petróleo, dá para produzir petróleo com respeito ao meio ambiente, à sociedade, à governança, com muita responsabilidade na questão social”, disse.


Parte do grupo Ubuntu, a Mandacaru hoje produz cerca de 500 barris/dia em cinco campos terrestres. A holding brasileira opera quatro sondas terrestres. O braço de exploração e produção nasceu em 2016, a partir da compra dos campos Urutau e Rio Mariricu, na Bacia Potiguar. Em 2021, comprou os ativos da Partex, que incluíam uma participação de 50% nos campos de Cardeal e Colibri, operados pela PetroRecôncavo na mesma bacia. A empresa tem ainda uma fatia de 50% no campo de Dó-Ré-Mi, na Bacia de Sergipe-Alagoas, em parceria com a Central Resources.

“A nossa história é produzir em poços que já existiam, com a cultura de entender o que é um campo maduro, entender as pessoas, a região, localidade, o social, criar mão de obra local, desenvolvimento de riqueza local,” disse.

A companhia tem acordos de confidencialidade assinados para a negociação da entrada em novos campos. Segundo Machado, o foco é continuar a expandir o portfólio com operações de baixo custo. Algumas opções incluem, por exemplo, a compra de ativos de empresas que precisam se desfazer de áreas menores para ganhar fôlego financeiro ou de outras petroleiras independentes que adquiriram grandes polos nos desinvestimentos da Petrobras e não conseguem dar atenção para aumentar a produtividade nos campos menores.

“Eu tenho uma vantagem competitiva maior do que quem tem mais dificuldade em resolver problemas. Lugares remotos, que têm problema de licenciamento ambiental, produção de muita água… eu não tenho problema nenhum em tratar água, muito pelo contrário, eu estou utilizando para fazer irrigação de mata nativa”, disse.

O executivo deixou claro que a Mandacaru não tem intenção de competir com outras petroleiras independentes maiores, e disse, inclusive, que quer fechar parcerias com essas empresas. O Brasil viu uma grande expansão no número de petroleiras pequenas e médias nos últimos anos, com a venda de ativos da Petrobras e incentivos à produção em campos maduros.

“Chegamos até aqui com capital próprio. Para andar muito mais, comprar ativos maiores, não vai dar pra fazer assim, vamos ter que fazer parcerias”, afirmou.


O CEO da Mandacaru ressaltou que é importante que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) continue a incentivar a atuação de companhias menores no país. Entre medidas que podem ser positivas para estes operadores ele citou, por exemplo, a redução na cobrança de royalties e de garantias para a aquisição de novas áreas, além de menores custos para o licenciamento ambiental junto aos órgãos estaduais. Outra medida positiva, afirmou, seriam parcerias com as agências de fomento do governo,

“Se eu conseguir reduzir o custo operacional num poço que produz cinco barris, ele vai produzir por mais tempo, e aí tenho segurança operacional, pago royalty, gero emprego e riqueza por muito mais tempo”, disse.

A Ubuntu tem também um braço de operações offshore, a Aquamarine, que tem participação de 23,5% no bloco ES-M-525, onde ocorreram as descobertas do Parque dos Doces na Bacia do Espírito Santo. O bloco é operado pela BW Offshore e foi vendido para as companhias independentes no processo de desinvestimento da Petrobras. No momento, as empresas avaliam a possibilidade de viabilizar a produção na área por meio de uma conexão (tieback) a uma plataforma existente em um campo vizinho.

Segundo Machado, a Mandacaru não tem intenção de operar ativos marítimos e pretende seguir com participação minoritária nessas áreas. “Nós não temos operação no mar e não pretendemos ter nesse momento, mas foi uma oportunidade e a gente acredita que ali tem coisa para acontecer”, disse.

Parceria em CCS

O grupo Ubuntu tem ainda uma subsidiária de captura e estocagem de carbono (CCS), a Manacá, que avalia um projeto para capturar 2 milhões de CO2 por ano em reservatórios salinos em dois blocos na Bacia do Paraná localizados no estado de São Paulo. A companhia negocia no momento uma parceria com uma empresa de comercialização de créditos de carbono.

A ideia é que a iniciativa tenha “captura negativa”, a partir do plantio de cana-de-açúcar associado ao serviço de injeção de carbono nos reservatórios.

A vice-presidente executiva da Manacá, Nathália Weber, explica que o principal entrave hoje para essa iniciativas no país é a falta de regulação, mas que a ideia da companhia é estar pronta para seguir adiante com o projeto no momento em que a regulação sair. Ela lembra que até o momento só é possível injetar carbono nos reservatórios brasileiros em projetos de produção de petróleo e gás.

Nathália Weber, vice-presidente executiva da Manacá, subsidiária de CCS do Grupo Ubuntu (Foto: Divulgação)
Nathália Weber, vice-presidente executiva da Manacá, subsidiária de CCS do Grupo Ubuntu (Foto: Divulgação)

O Brasil ainda não tem um marco regulatório para essa atividade, mas o tema entrou no debate do projeto de lei Combustível do Futuro (PL 4.516/2023). A Petrobras conduz um projeto-piloto para capturar 100 mil toneladas de CO2 por ano em Macaé (RJ).

“A primeira coisa fundamental a qualquer projeto de armazenamento dedicado no Brasil é a aprovação de um marco regulatório. Nós precisamos de regras de segurança geofísica para essa nova atividade, que não tem relação com a atividade petrolífera”, disse Weber.

Segundo ela, depois da aprovação do marco regulatório vai ser necessário ainda equacionar os processos de licenciamento ambiental.

“Uma vez que tenha um marco regulatório, a próxima etapa é entrar com os pedidos de licença e não temos, em nenhum estado brasileiro ainda, um processo bem estabelecido de licenciamento ambiental para o poço injetor de CO2 no propósito do armazenamento dedicado”, afirmou a executiva.