O Brasil já alcançou a transição energética há alguns anos, diz diretor-geral da Aneel

Durante a CEO Conference, do BTG Pactual, sócio do banco conversa sobre a liberalização do mercado de energia no Brasil com diretores da Energisa, Equatorial e Eneva em painel

FONTE: Exame

Quando o assunto é transição energética, o Brasil tem vantagens competitivas devido à matriz e pode se destacar dentro do contexto global – ao se transformar em um verdadeiro vetor de investimentos para a economia. “O Brasil é um país naturalmente vocacionado para a transformação energética. Estamos falando de transformação energética porque o Brasil já alcançou a transição há alguns anos”, afirma Sandoval Feitosa, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que auxilia na regulamentação do setor.

Na década de 1970, o governo brasileiro criou programas para a exploração hidrelétrica e termelétrica. Mas foi em meados de 2001 que foi identificada a vulnerabilidade do setor elétrico por causa da dependência em seus reservatórios. Então, decidido investir em fontes renováveis. Esse foi o contexto que presidiu no país antes da redução de barreiras para o uso da forma descentralizada de negociações do Mercado Livre de Energia Elétrica e, segundo Feitosa, 35% do consumo energético provém da modalidade.

Com a liberalização recente do setor, todos os consumidores com contas de energia elétrica em torno de R$ 10 mil são elegíveis para consumir no Mercado Livre. “Se não estamos com 90 milhões de consumidores globais no Brasil, estamos muito perto disso. Dessa forma, abre-se um oceano de oportunidades não apenas para as distribuidoras mas também para as comercializadoras de energia elétrica”, diz Feitosa.

Para Feitosa, o Mercado Livre de Energia Elétrica tem alguns benefícios aos consumidores, sendo eles: a eficiência no preço uma vez que é desonerado de pagamentos setoriais ao entrar no regime livre, além dos critérios de ESG (do inglês, environmental, social and governance).

Mas as empresas têm grandes desafios no setor, um deles é entender as necessidades de cada cliente. A Energisa, negócio que conta com opções descentralizadas no oferecimento de energia, tem criado ecossistemas personalizados para lidar com as questões dos clientes. “O cliente é colocado no centro para desenvolvermos soluções únicas”, afirma Ricardo Botelho, diretor presidente da companhia.

Com plantas em Goiás, Maranhão, Pará, Piauí e Rio Grande do Sul, a Equatorial Energia, que atua com transmissão e distribuição, se debruça no seu portfólio “multi-utilities” para criar uma plataforma com soluções. “A transição já é uma realidade, mas precisamos ter uma preocupação de como isso irá acontecer num contexto com contratos de longo prazo no mercado liberalizado. Como faremos a transição de uma forma responsável e que a conta não fique com o cliente?”, disse Augusto Miranda, presidente da companhia.

Já a Eneva contribui para a descarbonização com o fornecimento de gás para ramos industriais, de transportes e sistemas isolados, com a usina em Roraima. “A Eneva está lidando com o problema da transição e as oportunidades por meio da diversificação da oferta para além da monetização do gás via para energia elétrica, mas estamos olhando para outras oportunidades do uso do gás natural como no caso de sistemas isolados, na substituição de diesel e óleo combustível no Maranhão e no setor de transporte rodoviário pesado tentando implantar o primeiro corredor azul no Brasil”, afirma Lino Cançado, diretor presidente da Eneva.

As seguintes declarações foram feitas durante o painel Transição Energética: Fontes, Infraestrutura e o Papel do Consumidor Final do CEO Conference mediado por Vittorio Perona, sócio do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME). O evento, que contava com uma plateia de investidores e transmissão online ao vivo, ocorreu na tarde desta quarta-feira, 7.

A monetização sobre o gás natural

Segundo Cançado, existem duas possibilidades dentro da estrutura de monetização de gás no Brasil: a atuação conectada ao grid, ao pequeno grid que é o gasoduto que vai até a Bolívia e a opção off-grid, ou seja, com distribuição de GNL (gás natural liquefeito) em pequena escala no Norte e uma parcela do Centro-Oeste do país – onde a empresa atua desde 2018. Mas o mercado on-grid pode crescer por conta da flexibilidade.

“O gás natural é o elemento que tem um papel muito importante nesse curto prazo. Se fala do combustível de transição, mas eu acho que tem uma transição longa pela frente. Aqui no Brasil podemos considerar uma benécia essa diversidade e ampla disponibilização de fontes energéticas. E o gás natural vai ajudar a fazer essa maravilhosa engrenagem do sistema integrado nacional funcionar melhor”, disse Botelho.

Outra opção seria a exploração do “pré-sal caipira”, para aproveitar o volume de matéria orgânica brasileira proveniente da produção agrícola e transformar esse material em biometano.