Orizon mira em biometano para elevar receitas em aterros
Para 2024, a empresa analisa a possibilidade de adquirir mais oito aterros
FONTE: Valor Econômico
A Orizon Valorização de Resíduos planeja ampliar a transformação de seus aterros em ecoparques, uma espécie de hub de transformação de resíduos com centrais de reciclagem, captação de biogás, produção de combustível, planta de fertilizante e um aterro. Este modelo tem algumas linhas de negócios, como destinação correta de resíduos, economia circular e plantas de biogás e biometano. Desde que promoveu o seu IPO, em 2021, a companhia vem desenvolvendo outras aplicações para o lixo recebido, e aponta o gás natural renovável como o principal vetor de crescimento.
Hoje a Orizon faz o manejo de 9 milhões de toneladas por ano, pouco mais de 11% do lixo produzido no Brasil. Para 2024, a empresa analisa a possibilidade de adquirir oito aterros. Caso essas compras se concretizem, a empresa deve adicionar 2 milhões de toneladas de resíduos por ano à sua gestão, além da possibilidade de novos projetos de biometano.
“Os investimentos principais da companhia estão voltados ao biometano. Nos últimos dois anos, nós saímos de cinco ecoparques para 16. Destes, 11 eu tenho que fazer investimento em plantas de biometano. É um tempo de 18 meses para ficar pronto, as plantas já foram adquiridas no segundo semestre de 2023 e entram em operação no primeiro semestre de 2025”, afirma o CEO da empresa, Milton Pilão.
O executivo não revela a produção atual de biometano, mas sabe-se que ainda é pequena e ocorre apenas na planta de Paulínia (SP). No entanto, há potencial para escalar. Recentemente a empresa estabeleceu uma joint venture com a Compass para produzir 180 mil metros cúbicos por dia a partir de 2025. Outro contrato importante foi com a Copergás, para fornecimento de biometano a partir do aterro de Jaboatão dos Guararapes (PE) a partir do último quadrimestre de 2024.
O biometano, ou gás natural renovável, é obtido a partir da purificação do biogás, uma mistura de gases que têm como origem o processo de decomposição de resíduos orgânicos em ambientes onde não há troca de ar – a digestão anaeróbica. O mercado de gás pode trazer oportunidades com incremento de receita de vendas e na mitigação de emissões. “O Brasil poderia aproveitar seu DNA de país das energias renováveis também através do lixo”, diz.
Por substituir o gás natural com preços próximos, a demanda pelo biometano é maior do que a oferta. Segundo Pilão, o gás renovável se viabiliza a partir do momento em que as empresas estabelecem metas de descarbonização. No plano de negócios da Orizon há a projeção de investimentos de R$ 1,2 bilhão. Com isso, a previsão é que em 2025 a capacidade da empresa varie de 700 mil metros cúbicos a 1 milhão de metros cúbicos.
A companhia tem se posicionado nos debates sobre o energético e aproveitado a parceria com a International Solid Waste Association (ISWA, da sigla em inglês) e o Global Methane Hub para desenvolver estudo sobre o Mecanismo de Mitigação do Metano, participando de um acordo global para aprimorar metodologias e fomentar o mercado.
No Brasil existem cerca de 3 mil lixões em que as emissões de gases de efeito estufa estão fora do controle. No caso dos aterros, segundo Pilão, o poder público não tem recursos para fazer a gestão adequada e os processos de concessão se arrastam por anos. Ele acredita na maior eficiência dos modelos de gestão privada, em que o ente público remunera as empresas pelo tratamento do material e permite que o setor privado tenha receitas adicionais com outras aplicações do lixo. “As prefeituras pagam o básico pelo aterramento e temos a oportunidade de buscar receita do modo privado, vendendo biometano com atributo ambiental” exemplifica.
Outras receitas podem vir da produção de fertilizantes orgânicos a partir do lodo recebido nos aterros. O investimento feito em parceria com a Tera Ambiental na planta de Paulínia (SP) ainda é tímido, de R$ 10 milhões, e a empresa ainda aguarda confirmar a viabilidade do negócio para depois replicá-lo.
Outra linha de negócios para a empresa é o processo conhecido como recuperação energética (waste to energy, como é chamado em inglês), que são usinas de incineração. Após vencer o leilão para a primeira termelétrica deste tipo no Brasil, a companhia está investindo R$ 500 milhões na unidade de 20 MW que ficará em Barueri (SP).
Apesar de ser a primeira usina deste tipo no Brasil, essa energia ainda é considerada cara para a realidade do país e será comercializada a R$ 549,35 por megawatt-hora (MWh). Decisões de novas unidades não estão tomadas pela Orizon e vão depender de o governo promover novos certames no futuro.
“Pretendemos continuar investindo [em recuperação energética], mas entendemos que essa tecnologia vai atender um percentual do mercado menor do que outras formas de geração. Isso porque para o Brasil é uma alternativa ainda muito cara”, afirmou o executivo.