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Waldeck Ornélas – Bitola larga na Bahia
FONTE: Bahia Econômica
Estabelecido o consenso em torno da integração entre as ferrovias FICO e FIOL, que se engatarão em Mara Rosa (GO), o Brasil passará a contar com um novo e moderno corredor logístico – o Corredor Centro-Leste – criando novas perspectivas econômicas para o Mato Grosso e Goiás – como áreas de grande produção agrícola – assim como para a Bahia – que lhes dará o suporte portuário. Este novo corredor, da mesma forma que acontece com o Arco Norte, tornar-se-á um importante fator de desenvolvimento regional, promovendo intensa reconfiguração no ordenamento territorial brasileiro, desconcentrando a economia nacional.
Estradas de ferro são obras caras, demoradas e investimento de longo prazo. Por sua vez, a Bahia precisa, com urgência, da implantação deste corredor, para romper com o isolamento ferroviário de que está sendo vítima. Por isto mesmo, é necessário que, o quanto antes, seja publicado o edital de concessão conjunta da FIOL II, III e FICO I.
Com o objetivo de ganhar tempo, efetividade e racionalidade econômica na solução, a melhor alternativa parece ser deixar a cargo do licitante vencedor a realização dos estudos para definição do percurso mais adequado à articulação entre as duas malhas, em substituição ao traçado original da FIOL III que, seguindo para Figueirópolis (TO), a tornaria tributária da Ferrovia Norte-Sul (FNS) e não do Porto Sul, em Ilhéus.
Por outro lado, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), são ambas ferrovias de bitola larga, dialogando com a FNS – a espinha dorsal do novo sistema ferroviário nacional – e com todas as demais novas ferrovias que se encontram em construção no país. Desta forma, este passa a ser o marco de referência para a definição a ser dada, a partir da renovação antecipada da antiga malha ferroviária baiana, hoje em estado de abandono pela Ferrovia Centro Atlântica (FCA), cuja concessão vence em agosto de 2026.
Siga-se, pois, a este respeito, o Plano Estratégico Ferroviário, estudo realizado pela Fundação Dom Cabral para a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), que apontou a bitola larga como alternativa a ser adotada em toda a malha baiana. Com isto, descartem-se quaisquer soluções do tipo “meia-sola”, como vem sendo discutido há anos, de recuperação da atual via permanente, em bitola métrica, com eventual implantação de terceiro trilho ao longo de algum trecho.
Para ser viável e competitiva, a velha malha ferroviária baiana precisa ser transformada em uma ferrovia nova, com prioridade para a ligação da Região Metropolitana de Salvador com o Sudeste, integrando a Baía de Todos os Santos (BTS) – o maior porto natural do país – à nova malha ferroviária nacional. Requalificada, a malha baiana voltará a ser o elo da única ligação ferroviária entre o Sudeste e o Nordeste, atualmente rompido.
Cabe aqui lembrar que as duas malhas baianas – a da FIOL e a da FCA – cruzam-se à altura de Brumado, podendo ainda dar origem a novos ramais (short lines) que as interliguem com os portos da BTS.
Aliás, para dar desdobramento ao estudo inicial, realizado para a CBPM, a Secretaria de Planejamento do Estado, através da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), acaba de contratar a própria Fundação Dom Cabral, agora com foco também na integração ferrovias-portos, uma conexão de indispensável importância estratégica.
Pelo andar da carruagem, da FCA, restarão apenas os valores da outorga e da indenização a serem pagas, que nunca ressarcirão os enormes prejuízos causados à Bahia, nesse longo e desastroso período da concessão, e servirá apenas de suporte para a requalificação do trecho prioritário. Ao fim da atual concessão, por sua vez, as autorizações ferroviárias certamente passarão a ser o instrumento utilizado para sua reconfiguração, possibilitando maior dinamismo e autonomia.
Tanto em relação à FIOL quanto à FCA, o importante é que as decisões sejam tomadas com presteza e rapidez, e adotadas de imediato as providências de implantação, para salvar, enquanto ainda é tempo, as potencialidades de desenvolvimento do nosso estado.
A Bahia tem pressa!
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.