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Série Sustentabilidade: indústria de O&G é parte da solução

FONTE: TN Petróleo

Com um passivo histórico socioeconômico, com forte impacto geopolítico, e produtor de um energético apontado hoje como um dos vilões das mudanças climáticas, a indústria de óleo e gás tem assumido a dianteira em debates sobre os caminhos para a sustentabilidade, reiterando que terá forte protagonismo na transição energética e na construção de uma economia de baixo carbono.

O que parece um paradoxo para os mais ferrenhos ambientalistas é um fato inegável: a indústria de óleo e gás ‘faz parte da solução’. A TN Petróleo, que há duas décadas vem discutindo a questão da sustentabilidade no setor de energia, criou a série SUSTENTABILIDADE: INDÚSTRIA DE O&G É PARTE DA SOLUÇÃO.

Hoje ela traz a primeira parte da entrevista com Priscila Moczydlower (foto), diretora de Sustentabilidade da Society of Petroleum Engineers – Seção Brasil, entidade que congrega cerca de 170 mil profissionais dessa indústria nos cinco continentes. Ela é chair do comitê executivo do SPE Brazil Sustainability Symposium (https://sbs2.spebrasil.org/), que a SPE Brasil realiza entre os dias 3 e 5 de outubro, no Rio de Janeiro. A TN Petróleo é mídia suporte desse evento que vai reunir  especialistas e stakeholders da cadeia produtiva de óleo e gás.

A TRANSIÇÃO TAMBÉM É NOSSA TAREFA

Atuando há mais de duas décadas no setor, Priscila Moczydlower, diretora de Sustentabilidade da SPE Seção Brasil, afiança que a indústria tem três papéis cruciais a desempenhar na transição: garantir a segurança energética, gerar recursos financeiros para a infraestrutura e desenvolvimento tecnológico que vão suportar a transição e auxiliar no sequestro de carbono.

Vocês enfatizam que a “sustentabilidade é o único caminho possível para o futuro da indústria, principalmente os setores que atuam na exploração de recursos naturais, como o de petróleo e gás, mineração etc.” Por que a indústria tornou esse tema uma bandeira e passou a conduzir debates dessa ordem?

Priscila Moczydlower – A relevância de discutirmos a sustentabilidade da indústria de óleo e gás é que hoje passamos por uma situação complexa: a redução de emissões de gases de efeito estufa é urgente e necessária para evitar uma catástrofe climática ao mesmo tempo em que é crucial assegurar o fornecimento de energia para 8 bilhões de pessoas em todo mundo. Saliento que a transição energética é exatamente isso: uma transição. Hoje não é possível simplesmente parar a produção de óleo e gás, porque há necessidade de se movimentar e transportar e de gerar energia para produzir bens para as pessoas viverem.

E as energias renováveis?

Ainda não há infraestrutura no mundo suficiente para vivermos somente com energia renovável. Hoje prevê-se que o pico de demanda de petróleo no mundo deverá acontecer no final da década de 2030, mas isso não significa que vai cair abruptamente após essa data, mesmo nos cenários mais otimistas de cumprimento das metas de net zero ao redor do mundo. Ou seja, ainda vamos continuar precisando de óleo e gás por algum tempo. A questão toda é que se pode e se deve, fazer isso de forma ambientalmente e socialmente responsável.

Vocês afirmam que a forte sinergia entre os entes desse ecossistema possibilitará mobilizar toda a cadeia produtiva em torno dessa questão, principalmente no ambiente offshore…

Definitivamente. Problemas complexos requerem soluções complexas que não estão nas mãos de apenas uma ou um único grupo de empresas. É necessário haver forte integração entre operadoras, fornecedores de bens e serviços, institutos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico bem como parcerias e incentivos do governo em todas as esferas para que essas soluções de sustentabilidade sejam desenvolvidas e implementadas. Não adianta uma empresa olhar somente para suas próprias ações, no escopo de suas operações. É necessário considerar toda a cadeia de fornecedores de uma dada atividade para construírem juntos os princípios de respeito ao meio ambiente e às pessoas. Afinal, a sustentabilidade é um uma construção coletiva.

Porque a indústria de O&G deve ser protagonista dessa transição energética e de que forma é a tecnologia, mais além da mudança de mindset, que vai assegurar esse protagonismo?

Como já disse, a indústria de O&G é parte da transição e tem três importantes papéis nesse processo. O primeiro é garantir a segurança energética durante as próximas décadas, promovendo a inclusão econômica de bilhões de pessoas de países em desenvolvimento que precisam de muita energia para elevar as condições de vida de suas populações. Mas não devemos fazer isso de qualquer jeito. Temos que, individualmente, cada empresa em seu processo, e coletivamente, buscarmos soluções tecnológicas e processos que possam tornar a indústria mais sustentável enquanto existir, buscando reduzir as emissões de gases de efeito estufa, preservando o meio ambiente e a biodiversidade e causando impacto social positivo.

E os outros dois papéis?

O segundo papel da indústria de O&G é o de gerar recursos financeiros. A transição energética vai requerer trilhões de dólares em investimentos de infraestrutura e desenvolvimento tecnológico. A nossa indústria tem o porte e o fôlego para ser um relevante financiador desses investimentos, sendo ela própria, uma impulsionadora para a transição. O terceiro é a contribuição nos processos de sequestro de carbono. É uma atividade intrínseca à nossa indústria modelar reservatórios e lidar com gases contendo CO2. Já estamos acostumados a esse tipo de processo. Claro que CCUS requer desafios adicionais de trapeamento por longo prazo e outros, mas para a indústria de petróleo e algo mais próximo à sua realidade. Dessa forma, acredito que podemos assumir também uma posição de protagonista na implementação de projetos de CCUS.