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Fusões e aquisições em 2022 foram dominadas por minerais críticos

Estudo da PwC mostra que os negócios no setor envolveram metais de alta relevância na transição energética, caso de lítio, cobre, níquel, nióbio, titânio e silício

FONTE: Valor Econômico

As transações de fusões e aquisições envolvendo a área de minerais críticos dominaram os negócios da mineração em 2022. São considerados minerais críticos ou estratégicos aqueles usados em segmentos de alta relevância, como na produção de carros elétricos, painéis solares e outros equipamentos ligados à transição energética. A lista inclui itens como cobalto, cobre, estanho, lítio, nióbio, níquel, silício, tântalo, titânio, urânio, vanádio e minério de terras raras.

O relatório anual de mineração da PwC – uma gigante global do setor de consultoria e auditoria -, que considera o desempenho das 40 maiores companhias de mineração do mundo, apontou um aumento de 151% nas fusões e aquisições com negócios de minerais críticos no ano passado. As transações nesse segmento responderam por 66% do total negociado no ano, ante os 27% de 2021.

O cobre foi o principal destaque, com participação de 85% das transações de minerais críticos e 56% das fusões e aquisições das 40 maiores mineradoras. Em segundo lugar ficou o ouro, respondendo por 34% das transações, ante 70% do total em 2021. As transações com mineradoras de ouro recuaram 50%, mas a PwC vê ainda uma tendência de fusões e aquisições relevante nessa categoria.

O cobre também deve ser muito procurado nos próximos anos, por ser um metal essencial em eletrificação e energia renovável.

Adriano Correia, sócio e líder do setor de energia e serviços de utilidade pública da PwC Brasil, observa que a transição energética e a busca por descarbonização devem orientar a indústria nas próximas décadas. “Aqui há uma preocupação porque muitas mineradoras sequer definiram metas de descarbonização. Outro ponto é a escassez de minerais críticos importantes na redução da pegada de carbono. Há expectativa de escassez de minerais críticos já em 2025 no mundo. As indústrias estudam alternativas. Uma delas é a mineração em águas profundas, que tem um impacto no ecossistema marítimo, fonte importante de oxigênio”, afirma Correia.

Patrícia Seoane, sócia líder na área de mineração da PwC Brasil, observa que as grandes mineradoras trabalham para reduzir as emissões de carbono. “As empresas investem, por exemplo em frotas de caminhões autônomos, que consomem menos combustível fóssil, e em matriz energética renovável”, afirma Seoane.

A analista aponta um esforço crescente das mineradoras em se desfazer de negócios de carvão mineral. Grandes investidores, como BlackRock e Fidelity Investments já se comprometeram publicamente a vender suas participações em negócios de carvão térmico. A Teck Resources recebeu proposta da Glencore de fusão e posterior divisão dos negócios de metais básicos e carvão para futura venda da área.

A PwC observou uma nova tendência no setor de minerais críticos nos últimos anos, que é a preferência pela aquisição de 100% do negócio, em vez da formação de joint ventures. Um exemplo foi a compra da Turquoise Hill Resources, com sede no Canadá, pela Rio Tinto, por US$ 3,3 bilhões.

Há um esforço crescente para se desfazer de ativos de carvão mineral” — Patrícia Seoane

Outra tendência é a aposta em negócios transformacionais. As 40 maiores mineradoras buscam desbloquear valor nas suas carteiras para comprar ativos estratégicos. Um exemplo é o esforço da Vale para vender participação de 10% no negócio de metais básicos. Outro exemplo é a compra da Oz Minerals pela BHP, por US$ 6,4 bilhões, para fortalecer sua posição em cobre e níquel.

Além das mineradoras, fundos soberanos, fundos de pensão e indústrias de bens de consumo também têm demonstrado interesse em empresas de minerais críticos.

A Volkswagen, por exemplo, planeja construir um fábrica de baterias à base de lítio, no Canadá, em parceria com empresas de mineração. A General Motors está investindo US$ 650 milhões na Lithium Americas, para garantir matéria-prima para produção de quase 1 milhão de veículos elétricos por ano. A Mercedes-Benz demonstrou interesse em investir em minas para garantir a oferta de matérias-primas.

A LG Energy Solution também anunciou um plano com o Sichuan Yahua Industrial Group, da China, para produzir hidróxido de lítio no Marrocos, aproveitando que o país tem acordo de livre comércio com EUA e União Europeia, o que pode facilitar as exportações do produto.

Governos também empreendem esforços para estimular projetos na área de minerais críticos, como Austrália, Canadá, EUA, além de União Europeia e Reino Unido.

Ainda segundo o estudo da PwC, as 40 maiores mineradoras do mundo devem ter uma queda de 9% nas receitas de 2023, devido sobretudo à queda nos preços das principais commodities. A consultoria também prevê queda de um ponto percentual na margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), para 28%.

Em 2022, as 40 maiores mineradoras registraram uma receita de US$ 711 bilhões, estável em relação a 2021. O Ebitda caiu 6%, em um contexto de aumento de custos e incertezas econômicas (ver infográfico acima). O carvão liderou em receita, com fatia de 28% do total, ante 23% em 2021. O avanço foi relacionado à escalada nos preços internacionais em decorrência da guerra da Rússia contra a Ucrânia. “O esperado é que a receita volte a cair, porque o carvão mineral tem perdido demanda devido às emissões de carbono”, disse Seoane.

A analista afirmou ainda que as mineradoras devem aproveitar as oportunidades que a transição energética proporciona. Para isso, devem buscar implantar soluções de baixo carbono e engajar toda a cadeia minerária nesse esforço.

As empresas também precisam atrair força de trabalho mais jovem, especialmente profissionais de tecnologia. “Não é uma força de trabalho que estava acostumada a atuar nessa indústria, então é um desafio muito grande atrair essa força de trabalho”, disse Seoane.