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Petrobras diz que 10% do gás reinjetado é por “falta de mercado”

Metade da produção é devolvida aos poços, sendo que a maior parte se deve a estratégia comercial da petroleira

FONTE: Poder 360

A falta de mercado consumidor, em função da rede de gasodutos limitada, tem feito com que 10% do gás natural produzido no Brasil seja reinjetado nos poços. A justificativa foi dada pela Petrobras, que vive um embate com o Ministério de Minas e Energia sobre o alto percentual de gás que é devolvido aos poços no país. O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) tem cobrado que a prática seja reduzida, destinando mais gás para os consumidores.

Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o Brasil produziu 137 milhões de metros cúbicos (m³) por dia de gás natural em 2022. Do total, metade da produção foi reinjetada nos poços.

Eis os números:

  • Gás disponibilizado ao mercado: 47,5 milhões de m³/dia;
  • Gás reinjetado: 68,3 milhões de m³/dia
  • Gás consumido nas plataformas: 18,4 milhões de m³/dia
  • Gás queimado em tocha: 3,4 milhões de m³/dia

O assunto tem causado debate. Como mostrou o Poder360, em 19 dias, Silveira e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, trocaram farpas 6 vezes, sendo que a principal divergência foi a técnica de injetar o gás associado ao petróleo do pré-sal. Silveira tem defendido o aumento da oferta de gás no mercado como a principal pauta do ministério e critica a prática da estatal de usar o produto para extrair mais óleo. Segundo ele, a redução faria aumentar a oferta de gás e reduzir os preços.

Prates, por sua vez, afirma que se trata de uma decisão técnica e correta ao se analisar o perfil das reservas de petróleo e gás no Brasil. Ele argumenta que a técnica aumenta a produção de petróleo –carro chefe da indústria energética no Brasil–, evita a emissão de gases poluentes à atmosfera e aumenta arrecadação de tributos dos Estados.

MERCADO NÃO CONECTADO

A Petrobras afirma que 10% da sua reinjeção é por falta de mercado. O problema, porém, não é falta de consumidores interessados em ter gás, mas sim que a rede de gasodutos de transporte brasileira não chega para todos (veja no infográfico). A malha está concentrada basicamente no litoral do país, com exceção do Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil).

A estatal explica que o maior problema é o escoamento da produção no sistema isolado de Urucu, no Amazonas. Descoberta em 1986, a província petrolífera fica próxima do rio Urucu, no município de Coari, a 650 km de Manaus. Trata-se da maior reserva provada terrestre de petróleo e gás natural do Brasil.

Apesar de ser a maior região produtora de gás onshore (em terra) do Brasil, não existem gasodutos que conectem o polo à malha nacional, por estar situado no meio da selva amazônica. Não há conexão da produção nem mesmo até Manaus, onde está situada a Zona Franca com diversas indústrias que poderiam ampliar a competitividade com o gás natural. Apesar disso, o alto volume de investimento que seria necessário em um local de difícil acesso e licenciamento ambiental faz a interligação ficar no sonho.

Do total que é reinjetado, outros 10% são temporários, segundo a petroleira. Essa parcela corresponde a uma limitação de escoamento da produção do pré-sal que será resolvida com gasoduto da Rota 3, que teve a construção finalizada e que começou a operar parcialmente nesta semana.

A nova rede possui aproximadamente 355 km de extensão total, sendo 307 km no fundo do mar e 48 km referentes ao trecho terrestre. O gasoduto escoará gás natural do pré-sal da Bacia de Santos até o Comperj (Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro).

INTERESSE COMERCIAL

No entanto, a maior parte do gás que é reinjetado (80%) se deve a fatores técnicos e comerciais, fazendo com que a petroleira tenha pouca margem para reduzir a prática.

Do total reinjetado:

  • 40% é para armazenar o dióxido de carbono presente do gás extraído de volta aos reservatórios, já que o CO2 não deve ser liberado na atmosfera por ser um causador do efeito estufa;
  • 40% é para aumentar a produção de óleo.

A parcela que é aplicada para aumentar a produção que é o grande motivo das discussões. A estatal se justifica afirmando que ao reinjetar gás combinado com água, aumenta o fator de recuperação do óleo que está nos poros das rochas localizadas nas reservas, elevando a produção.

A parcela que é aplicada para aumentar a produção que é o grande motivo das discussões. A estatal se justifica afirmando que ao reinjetar gás combinado com água, aumenta o fator de recuperação do óleo que está nos poros das rochas localizadas nas reservas, elevando a produção.

Estudos indicam que a rejeição alternada de água e gás pode elevar de 25% a 30% o volume recuperável de petróleo de alguns campos do pré-sal, quando comparado ao cenário de injeção de apenas água.

A Petrobras defende o argumento de que, antes mesmo de um projeto de petróleo e gás ser lançado, isso já é definido seguindo critérios técnicos e econômicos. Como o projeto precisa ser viável economicamente, são estudadas previamente várias alternativas para se chegar a um modelo que permita maior retorno financeiro para o projeto.

Entre as alternativas que são levadas em conta estão as características dos reservatórios, a estratégia de produção e o índice de reinjeção de gás. A combinação entre esses 3 fatores que resultar na maior produção de petróleo e assim, de retorno financeiro, é a escolhida. Isso ainda é aprovado pela ANP.

Ainda segundo a Petrobras, em alguns projetos a arrecadação com royalties e participações especiais de petróleo poderiam ser reduzidas em 25% se a reinjeção deixasse de ser feita.