.
Vibra e Comerc entram na comercialização de créditos de carbono
Comercializadora do mesmo grupo da dona dos postos BR quer ir além da energia renovável e oferecer plataforma completa de descarbonização para clientes
FONTE: Reset
Uma das maiores comercializadoras de energia renovável do Brasil, a Comerc Energia lançou hoje uma mesa de negociação de créditos de carbono, em parceria com a Vibra, sua maior acionista, com um bloco de 50% do capital.
A lógica é oferecer uma solução de descarbonização completa para os clientes, indo além das emissões associadas à energia (o chamado Escopo 2) e se estendendo para soluções de compensação para os Escopos 1 e 3, de emissões diretas e indiretas.
Aberta para empresas que não integram sua carteira de clientes, a expectativa é que a mesa de carbono contribua para dar maior liquidez a esse mercado e garanta uma nova fonte de receita.
“Assim como compramos e vendemos energia elétrica e a Vibra compra e vende combustíveis, vamos comprar e vender créditos de carbono de Projetos que estão se desenvolvendo esses créditos e clientes que estão desejando comprá-los para fazer sua descarbonização”, disse o CEO da Comerc, André Dorf, a jornalistas.
“Não é um produto para atrair clientes ou fazer marketing. Essa é uma nova linha de negócio e esperamos ter retornos atrativos com ela”.
Os créditos a serem negociados podem ser de quaisquer tipos, a depender da disponibilidade do mercado e da demanda de clientes, diz Tiago Natacci, diretor de comercialização de energia e carbono da Comerc.
Hoje, os offsets mais abundantes no Brasil são os florestais, que negociam com prêmio em relação aos demais no mercado e de energias renováveis.
Num momento em que os créditos de carbono vêm sendo questionados quanto a sua efetividade, a Comerc quer ter um filtro para garantir a integridade dos projetos.
A companhia vai avaliar os principais nomes do mercado e qualificação, a partir de critérios próprios e do que considera as melhores práticas do mercado.
“Um deles é seguir os Carbon Core Principles. Temos acompanhado a maturidade e integridade do mercado”, disse Natacci. “Vamos entrar em contato com empresas que fazem ratings desses projetos, por exemplo”.
A partir desses critérios, é feita uma curadoria dos projetos que formam um cardápio para clientes.
“É muito importante para o cliente saber o que está comprando, de onde vem o crédito. Isso é muito difícil para um cliente avaliar sozinho”, disse Cristopher Vlavianos, presidente do conselho de administração da Comerc.
Além dos créditos de carbono, a Comerc irá negociar i-RECs, certificados internacionais que garantem que a energia consumida está vindo de fontes renováveis.
A estratégia também está em linha com o plano de transição energética da Vibra Energia, dona dos postos de combustíveis BR.
“A Vibra está se consolidando como uma plataforma multienergia. Nos últimos anos, investimos R$ 4 bilhões no crescimento de transição energética e esse é mais um passo”, disse o presidente da Vibra, Ernesto Posada.
Cada vez mais as empresas de energia buscam se tornar um ‘one-stop-shop’ para a descarbonização, alavancando as competências e contatos comerciais abertos pela atividade principal.
A Auren Energia, geradora que inclui as hidrelétricas da antiga Cesp e os ativos de solar e eólica do grupo Votorantim e do CPP, também quer avançar sobre o mercado de carbono.
Da mesma forma, a 2W Energia, geradora de energia eólica que mira os pequenos e médios negócios, também tem uma divisão mais ampla de descarbonização.
Consultoria na geração de créditos
Geradora de energia eólica e solar, a Comerc também anunciou que prestará serviços para outras empresas de geração de energia renovável para que elaborem seus próprios projetos de carbono, com apoio nos processos de certificação e comercialização.
Esse tipo de crédito lida com críticas constantes por conta da sua baixa adicionalidade – um princípio importante do mercado de carbono. Um projeto só é considerado ‘adicional’ se dá incentivo financeiro a uma atividade que não aconteceria na sua ausência.
Verra e Gold Standard, as principais certificadoras do mercado, não aceitam esse tipo de crédito há alguns anos, mas um novo padrão criado no Catar em 2019 conferiu a eles sobrevida.
O Global Carbon Council (GCC) ainda é novo e precisa conquistar a confiança do mercado consumidor, mas a Comerc avalia que ele pode deslanchar.
“De fato, esse standard é novo, mas está em conversas com o Corsia [acordo por descarbonização no setor de aviação internacional]. Sendo o GCC aceito na Corsia, esse é um motivador para gerar liquidez [no mercado]. Estamos ajudando nossos parceiros e a própria Comerc para esse padrão”, disse Natacci.
Do Brasil, 42 projetos já passaram por uma avaliação inicial no GCC e têm seu processo disponível para consulta pública – os dois maiores foram submetidos pela Casa dos Ventos, nos complexos Rio do Vento e Babilônia Sul, no Rio Grande do Norte e sul da Bahia.