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Papeleiras vivem novo ciclo de investimento em logística

Companhias investiram recentemente R$ 3 bilhões em novos terminais portuários e ferroviários, vias férreas e vagões

FONTE: Valor Econômico

Com projetos que somam ao menos R$ 3 bilhões, entre novos terminais portuários e ferroviários, linhas férreas e aquisição de centenas de vagões – sem incluir desembolsos menos significativos e os relativos ao Projeto Cerrado, da Suzano -, a indústria brasileira de celulose e papel está vivendo um novo ciclo de investimentos robustos em transporte e logística.

Nos próximos anos, segundo estimativa de fontes do setor, mais R$ 3 bilhões em novos ramais ferroviários já estão engatilhados e outros projetos sairão do papel, dando sequência ao movimento que consolidou a indústria de base florestal como um dos grandes investidores em ativos de infraestrutura de transportes no Brasil.

A busca por eficiência, com reflexo em mais redução do já competitivo custo caixa de produção de celulose no país, o estabelecimento de metas de redução da pegada de carbono e a instalação de novas fábricas são os principais motores das iniciativas atuais.

Roberto Bisogni: “É uma questão de produtividade, de competitividade e de sustentabilidade” — Foto: Divulgação

Esses investimentos também são turbinados pela limitação da malha ferroviária em um país de dimensões continentais, que se firmou como maior exportador de celulose do mundo, com 19,1 milhão de toneladas embarcadas no ano passado, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

“O déficit de infraestrutura é fruto de erros que o Brasil cometeu por muito tempo. Alguns setores foram buscar soluções próprias, e não foi só o caso do setor de árvores cultivadas. Para ampliar a capacidade competitiva no mundo, foi preciso olhar também da porteira para fora”, diz o presidente executivo da entidade, Paulo Hartung.

Maior produtora de celulose de mercado do mundo, a Suzano responde por mais de um terço dos desembolsos realizados em grandes projetos logísticos nos últimos três anos, com R$ 1,3 bilhão em dois novos terminais portuários, em Santos (SP) e Itaqui (MA), inaugurados entre 2020 e 2022.

“Investir em logística faz parte do planejamento estratégico”, diz o diretor comercial de celulose, Marketing e Logística da empresa, Leonardo Grimaldi. “Faz parte da busca incansável por ter o menor custo de produção, aliado ao melhor serviço para os clientes.”

No porto paulista, a Suzano instalou um megacomplexo para movimentação de celulose com a DP World, com volume anual que deve chegar a 3,3 milhões de toneladas. Em Itaqui, inaugurou um novo berço no ano passado para escoar a celulose produzida em Imperatriz (MA). “Buscamos, sempre que possível, não usar terminais generalistas no porto e ter o nosso próprio”, conta o executivo.

A produção das unidades de Mucuri (BA) e Aracruz (ES) é embarcada a partir do Portocel, terminal em Barra do Riacho (ES) que é especializado em produtos florestais e tem a companhia e a Cenibra como sócias. Agora, a Suzano estuda nova rodada de investimento para construir ramais ferroviários que conectem a fábrica de Três Lagoas até o terminal intermodal de Aparecida do Taboado e a futura unidade de Ribas do Rio Pardo a Inocência, em Mato Grosso do Sul. As autorizações já foram concedidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Klabin, Eldorado, LD Celulose e Bracell também têm projetos relevantes em curso ou recém-inaugurados. É da Klabin, por exemplo, a maior operação privada de contêineres não refrigerados do país, no Paraná. Em três anos, a maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do país investiu R$ 420 milhões em logística.

“É uma questão de produtividade e competitividade, mas também de sustentabilidade. Ao colocarmos toda a carga por ferrovia até Paranaguá, estamos evitando ao menos 40 mil viagens de caminhão por ano e garantindo nosso escoamento, independente de qualquer intercorrência”, diz o diretor de Planejamento Operacional, Logística, Suprimentos e TI da companhia, Roberto Bisogni.

Voltando a 2016, com a primeira fase do Projeto Puma – as obras de Puma II estão em vias de ser concluídas -, os investimentos da Klabin com logística se aproximam de R$ 1 bilhão. Conectando Puma II por ferrovia ao Porto de Paranaguá (PR), onde a companhia inaugurou um novo terminal em março, o “Projeto KBT” compreende um pátio de contêineres junto à fábrica em Ortigueira.

O novo terminal portuário (PAR-01), com 27,53 mil m2, tem capacidade de recebimento de 1 milhão de toneladas por ano de papel e celulose, atendendo tanto à unidade Puma (I e II) quanto Monte Alegre, em Telêmaco Borba (PR).

A Eldorado Brasil, por sua vez, está investindo R$ 500 milhões em um novo terminal em Santos (SP), elevando a 3 milhões de toneladas por ano a capacidade de movimentação da companhia no porto. Hoje, a maior parte do trajeto entre a fábrica de Três Lagoas e Santos ainda é feita em caminhões.

A LD Celulose, joint venture entre Lenzing e Dexco que produz celulose solúvel no Triângulo Mineiro, firmou acordo com a VLI para transportar, por meio da malha da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), toda sua produção até o Portocel. Na aquisição da frota de vagões, a VLI investiu R$ 400 milhões.

A Bracell está aplicando R$ 300 milhões no antigo STS 14A, também em Santos. A celulose (de eucalipto ou solúvel) produzida em Lençóis Paulista (SP) é escoada de caminhão até um terminal intermodal em Pederneiras (SP), construído em parceria com a MRS, e, de lá, segue de trem para Santos. O próximo passo deve ser a construção de um ramal conectando fábrica e ferrovia.

Joint-venture entre Suzano e Stora Enso, a Veracel está investindo R$ 95 milhões em uma nova rodovia no sul da Bahia (BA-658), com 25 quilômetros, e uma ponte de 360 metros de comprimento sobre o Rio Jequitinhonha, reduzindo o trajeto entre fábrica e base florestal. No sul do país, a CMPC, que usa barcaças via Lagoa dos Patos para levar 90% da produção da fábrica de Guaíba até o Porto do Rio Grande, está avaliando investimentos para incrementar a infraestrutura do terminal.

Para Hartung, da Ibá, os investimentos da indústria não representam solução definitiva para o problema de infraestrutura no país. “Tem sido eficiente para o setor, mas a solução passa por modelos que permitam trazer capital privado intensivamente para essa área, com agências reguladoras e marcos regulatórios de boa qualidade”, defende.