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Comercializadoras se preparam para atender consumidor do grupo A
Empresas estão revendo processos, investindo em marketing, tecnologia e na abertura de comercializadoras varejistas
FONTE: Canal Solar
O ano de 2023 será de oportunidades para os consumidores que desejam economizar na conta de energia, mas também será desafiador para as comercializadoras que estão se preparando para receber os clientes do Grupo A.
De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), usado como referência para precificar a energia no mercado livre, deverá ficar no patamar mínimo (R$ 69,04) ao longo dos anos de 2023 e 2024. Isso significa que o cenário hidrológico é positivo, o que garante a oferta de energia barata das hidrelétricas.
“O ano de 2023 será marcado por um ano de preço muito baixo e isso acaba influenciando o preço de longo prazo. Para a migração dos consumidores do cativo para o livre é um bom momento, porque você consegue entregar uma economia bastante expressiva. Além disso, no ano que vem tem a abertura para todos os consumidores de alta tensão. Todas as comercializadoras de energia estão em busca desses consumidores”, disse Bernardo Marangon, sócio da Exata Energia.
O Ambiente de Contratação Livre (ACL) é onde o consumidor pode negociar livremente as condições do fornecimento de energia, como preço, prazo e fonte (convencional ou renovável). Hoje o ACL representa 36% do consumo nacional, com 30 mil unidades consumidoras.
“Os preços de hoje voltaram aos níveis de 2016, quando a gente teve um verão muito bom e com alto índice de migração. Certamente a gente está vendo esse fenômeno novamente em 2023”, disse José Antônio Sorge, diretor na Ágora Geradora e Comercializadora de Energia.
A partir de janeiro de 2024 todos os consumidores atendidos em alta tensão (grupo A) poderão optar pela compra de energia elétrica de qualquer fornecedor no mercado livre. A CCEE estima um universo de 106 mil unidades consumidoras que se enquadram neste grupo. Se todos migrassem, isso representará um crescimento de 350% no número de consumidores do mercado livre.
Porém, os consumidores com carga menor que 500 kW obrigatoriamente serão representados por um comercializador varejista. Para não ficar de fora desse mercado, empresas como a Ágora Energia, Delta Energia e Comerc Energia estão abrindo sua unidade varejista, reforçando o time de vendas, marketing e investindo em tecnologia.
“Será um ano desafiador porque a gente tem que ampliar e adaptar os processos, o que já estamos fazendo, mas será um ano bom porque os preços baixos estimulam o consumidor a ir para o mercado livre”, disse Sorge.
“Estamos entendendo qual é o perfil desse consumidor, qual tipo de produto ele demandará, para depois desenhar os processos e sistemas para atendê-los”, disse Marcelo Ávila, vice presidente da Comerc Energia. “Já estamos nessa pegada há um ano e meio, trabalhando internamente para que a gente possa oferecer energia adequadamente, ajustando os produtos para que tenham uma pegada digital”, completou.
Para Luiz Fernando Leone Vianna, vice-presidente Institucional e Regulatório do Grupo Delta Energia, 2023 será um ano intenso e de aprendizados para as empresas que desejam cativar este novo consumidor. “A abertura do mercado para clientes de alta tensão é um preparativo para o que vem no futuro”, avaliou.
“Oferecer um atendimento diferenciado, levar informação de qualidade e investir em inovação e tecnologia são essenciais nessa fase de abertura do mercado. Este é um processo gradual que resultará no desenvolvimento e fortalecimento do setor e, consequentemente, para a economia do país”, destaca Vianna ao exemplificar que, no ano passado, a Delta Energia adquiriu uma empresa de tecnologia dedicada ao desenvolvimento de produtos para o mercado de telecomunicações, energia e indústria e se tornou também principal sócia de uma comercializadora varejista.
Baixa tensão
Segundo Vianna, a abertura da alta tensão também será um “treinamento” para quando o mercado livre for totalmente aberto, incluindo consumidores de baixa tensão. Hoje só podem mirar os clientes com demanda superior a 500 kW.
Pelo cronograma do Governo, a partir de janeiro de 2026, os consumidores atendidos na baixa tensão, à exceção daqueles integrantes das classes residencial e rural, poderão optar pela compra de energia elétrica de qualquer fornecedor. Já a partir de janeiro de 2028, todos os consumidores poderão migrar para o mercado livre.
Mas a abertura da baixa tensão só será possível depois de mudanças na legislação. Essa autorização para escolher o fornecedor de energia pode ocorrer por dois caminhos. No âmbito do governo federal, há consulta pública (137/2022) realizada pelo Ministério de Minas e Energia para estabelecer um cronograma com os prazos para a abertura completa do mercado. No Congresso Nacional, há dois projetos de lei (PL 414/2021 e PL 1.917/2015) que tratam do tema.
A expectativa é que o PL 414 avance no primeiro semestre de 2023, disse Rodrigo Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Consumidores de Energia (Abraceel), principal defensora da abertura do mercado livre. “A gente espera que essa pauta possa evoluir no primeiro semestre deste ano, motivada por uma legislatura que possa endereçar as principais reformas econômicas.” E completou: “É um projeto muito amplo, que foi discutido no Senado e que já está muito amadurecido na Câmara. Poderia passar rapidamente se tivesse vontade política para que isso aconteça.”