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UE divulga regras para definir hidrogênio verde
União Europeia quer que hidrogênio seja produzido de forma sustentável, usando energias limpas. Medida deve destravar bilhões de euros em investimentos no setor
FONTE: Valor Econômico
A União Europeia (UE) emitiu regulamentação rígida para definir o que considera hidrogênio verde ou renovável, segundo seu plano de transição para essa energia limpa. Isso vai afetar como empresas mobilizarão bilhões de euros em investimentos em fábricas de hidrogênio nos próximos anos.
Governos do mundo inteiro estão olhando para o hidrogênio como substituto dos combustíveis fósseis em processos industriais e na geração de energia elétrica. Os atuais suprimentos de hidrogênio vêm, na maior parte, da decomposição de moléculas de gás natural. EUA, UE e outros países planejam investir centenas de bilhões de dólares em fábricas que usam energia elétrica para mover máquinas chamadas de eletrolisadores, que produzem o hidrogênio pela decomposição de moléculas de água.
A questão é quanto da energia elétrica usada nesse processo de produção deve vir de fontes renováveis para que o hidrogênio seja considerado renovável. Na UE, a resposta determinará se as produtoras de hidrogênio poderão ser consideradas aptas a receber incentivos financeiros e se seu produto poderá ser usado para atender às metas de energia renovável do bloco. O Departamento do Tesouro dos EUA está redigindo regras que definirão quais produtoras estarão aptos a receber bilhões de dólares em incentivos fiscais para produzir hidrogênio verde.
Produzir hidrogênio verde ou renovável exige enormes quantidades de energia elétrica renovável. A UE quer produzir 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável, amônia e outros combustíveis limpos por ano até 2030. Isso exigirá quase 14% do total de energia produzida pela UE em 2030.
As regras emitidas ontem pela Comissão Europeia, o braço executivo da UE, pretendem aproveitar a demanda por hidrogênio renovável para estimular uma nova onda de investimentos em parques de captação de energia eólica e solar, em vez de absorver grandes volumes da atual capacidade do bloco em energia renovável. As regras também visam garantir que o hidrogênio renovável seja produzido por energia renovável, e não por usinas a gás ou a carvão.
“A comissão teve de realizar um exercício de equilíbrio difícil entre garantir que a produção de hidrogênio renovável não resulte em geração adicional de combustíveis fósseis – o que poderia ser considerado ‘greenwashing’ – e permitir que o mercado cresça”, disse Christopher Jones, especialista em energia e eis antitruste do escritório de advocacia Baker McKenzie.
Para garantir a designação de renovável, as fábricas europeias de hidrogênio têm de firmar contratos de abastecimento de energia elétrica com projetos de energia renovável relativamente novos – operantes há não mais do que três anos – localizados na mesma região ou em região adjacente do mercado de energia europeu.
Produtoras de hidrogênio renovável terão de mostrar que a quantidade total de hidrogênio produzida e de energia elétrica limpa consumida estão alinhadas num período de 30 dias, apesar de as quantidades de energia eólica e solar flutuarem no dia a dia devido às condições climáticas.
Os produtores de hidrogênio também podem obter a classificação verde se operarem numa área com muita capacidade de energia renovável. Fábricas de hidrogênio verde localizadas em áreas da rede europeia em que mais de 90% da energia é renovável podem simplesmente comprar da rede sem assinar contratos com projetos de energia renovável. Hoje isso ocorre apenas em certas partes da Escandinávia com abundância de energia hidrelétrica e eólica.
As fábricas também podem obter a classificação verde se mostrarem que a produção de hidrogênio ocorreu quando os preços da energia são tão baixos que usinas movidas a combustíveis fósseis não podem operar de forma lucrativa. Isso pode acontecer quando há ventos fortes numa área com grande número de turbinas eólicas, o que reduz o preço da energia.
As regras divulgadas ontem não permitem que os produtores de hidrogênio se beneficiem do rótulo de renovável com a assinatura de contratos com usinas nucleares, embora os reatores nucleares quase não emitam gases de efeito estufa. Mas as regras também oferecem um benefício indireto a países que geram muita energia nuclear: os produtores de hidrogênio em regiões com redes de energia de baixo carbono podem assinar contratos com quaisquer parques eólicos e solares existentes. A França, onde a energia nuclear é responsável por cerca de 70% de toda a eletricidade, fez lobby por essa provisão.
Para a Hydrogen Europe, entidade do setor, as regras rígidas devem tornar os projetos de hidrogênio renovável mais caros e limitar o potencial de expansão do setor. Essas regras não devem ser aplicados a outros usuários de energia, como os veículos elétricos.
“Se você é o único que precisa provar de hora em hora de onde exatamente vem sua eletricidade, isso tem seu custo”, disse o executivo-chefe da Hydrogen Europe, Jorgo Chatzimarkakis.
Ele ressalvou que ainda assim é positivo que a UE avance com as novas regras, porque isso deve dar mais clareza para que as empresas possam tomar decisões de investimentos e modelos de negócios.
Algumas empresas europeias da área de hidrogênio elogiaram as novas regras.
Nils Aldag, executivo-chefe da Sunfire, que fabrica eletrolisadores, disse que a publicação das regras é um grande passo na direção de uma estrutura regulatória previsível para o hidrogênio verde europeu. “Isso ajudará a desbloquear uma pilha de decisões de investimentos em projetos de eletrólise.”
A startup sueca H2 Green Steel, que busca produzir aço usando hidrogênio verde em vez de carvão, se disse satisfeita com o fato de que as regras da UE não exigirão produção adicional de energia renovável em regiões que já têm uma concentração alta de renováveis.