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Porto do Açu cresce de olho em energia e agronegócio

Projeto de crescimento contempla fábrica de fertilizantes e novo gasoduto

FONTE: Valor Econômico

O Porto do Açu, localizado no município de São João da Barra (RJ), inaugura nesta quarta-feira (8) a expansão de um terminal, em busca de expandir a atuação no agronegócio e de se tornar um polo logístico ainda mais relevante para o setor de energia. A necessidade de aumento da capacidade do terminal surgiu depois que o porto passou a importar fertilizantes, em 2020.

A expectativa agora é seguir com a implantação de uma unidade misturadora de fertilizantes para atender a clientes, principalmente, do Estado de Minas Gerais. O projeto prevê ainda a possibilidade futura de construção de uma fábrica de fertilizantes nitrogenados, investimento que depende de um gasoduto, já que o gás é o principal insumo para esses produtos.

A expansão do terminal também aproxima o Açu ainda mais da transição energética, pois a área vai exportar produtos ligados a esses negócios, como o lítio, usado em baterias, e o concentrado de cobre, aplicado na fabricação de carros elétricos.

A oportunidade para o porto atuar na produção de fertilizantes está relacionada à disponibilidade de gás

Quanto ao gasoduto que pode viabilizar a construção da fábrica de fertilizantes, a expectativa é tomar uma decisão sobre a transportadora que será parceira no projeto até o fim de 2023, segundo o CEO do Porto do Açu, José Firmo. A Gás Natural Açu (GNA), responsável pela operação do complexo termelétrico localizado no porto, assinou no fim do ano passado acordos com a Nova Transportadora Sudeste (NTS) e a Transportadora Associada de Gás (TAG) para estudos de viabilidade da construção do gasoduto que vai conectar o porto à malha nacional.

Com dois terminais, o Porto do Açu é hoje o segundo maior do país em termos de volume de carga movimentada, atrás do Porto de Santos (SP). As cargas que passam pelo porto no norte fluminense incluem o minério de ferro e a exportação do petróleo. Além disso, o Açu conta com um complexo industrial onde estão instaladas empresas que prestam serviços ao setor de petróleo e gás, dada a proximidade com as bacias de Campos e Santos, as duas maiores regiões produtoras do país.

A Porto do Açu, responsável pela operação dos terminais do porto, é uma empresa operada pela Prumo Logística, em parceria com o Porto de Antuérpia, que tem 1% de participação. Ao todo, a companhia investiu R$ 600 milhões até o momento no terminal multicargas. Segundo Firmo, há espaço para mais R$ 200 milhões em investimentos na área em cinco anos.

Em operação desde 2016, o terminal multicargas fica ao lado do terminal de petróleo e nasceu voltado para operações em granéis sólidos, sobretudo coque, carvão e bauxita. Nos últimos três anos, entretanto, surgiram demandas de importação e exportação para o agronegócio. Como a conexão ao porto se dá por meio de rodovias, a combinação das cargas que chegam e saem do país foi uma das medidas tomadas pelos clientes para reduzir o custo do frete, o que ajudou a manter a alta ocupação do terminal em 2021 e 2022.

O Açu começou a realizar as primeiras importações de fertilizantes em 2020, por meio de um armazém com 25 mil toneladas de capacidade estática. Agora, a expansão inclui dois novos armazéns cobertos que vão quadruplicar a capacidade do terminal para armazenar até 110 mil toneladas, além de dobrar área alfandegada para 360 mil metros quadrados.

Nesta quarta, o Porto do Açu inaugura um desses novos galpões, com capacidade estática de 45 mil toneladas. Esse terminal, que vai atuar na exportação de cobre proveniente de Goiás, foi implantado em parceria com a Lundin Mining Brasil. Ainda no primeiro semestre de 2023, será inaugurado o terceiro armazém, que terá capacidade estática de cerca de 40 mil toneladas. Os galpões estão ao lado do cais, o que acelera a velocidade para carga e descarga.

O porto passou a ser uma solução logística principalmente para empresas do agronegócio localizadas nos Estados do Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, região que responde por quase metade da demanda nacional de fertilizantes.

A oportunidade para o Porto do Açu atuar no futuro na produção de fertilizantes está relacionada à disponibilidade de gás. O complexo de geração de energia termelétrica localizado no Açu é abastecido pelo gás proveniente de um navio regaseificador com capacidade de 28 milhões de metros cúbicos por dia (m3 /dia). As duas usinas termelétricas do complexo vão consumir 11 milhões de m3 /dia, por isso, parte do gás pode ser direcionado para outros projetos, como a fábrica de fertilizantes.

Hoje, o Brasil importa mais de 90% dos fertilizantes que consome, por causa sobretudo do histórico de alto custo do gás natural para produção nacional. Com isso, a produção de fertilizantes no porto vai depender, sobretudo, do preço do gás. “Nos últimos anos o mercado evoluiu muito e o gás está muito mais competitivo no Brasil agora”, diz Firmo.

De acordo com o diretor de terminais e logística do Porto do Açu, João Braz, a companhia tem parcerias com os fornecedores de tecnologia para uma planta de nitrogenados e os estudos estão concluídos. Antes de prosseguir com esse projeto, contudo, o Porto do Açu analisa a implantação de uma planta misturadora para os fertilizantes importados. Segundo Braz, o estudo de viabilidade já foi feito e a expectativa é fechar o contrato para a construção ainda em 2023.

Hoje, as unidades misturadoras são instaladas próximas aos clientes. A possibilidade de ter plantas maiores, para atender a mais consumidores, pode ser viabilizada por um convênio que vai entrar em vigor em 2025 e que prevê isonomia tributária do ICMS para o fertilizante importado e produzido no Brasil. “Com a isonomia tributária, dependendo do local, faz sentido ter isso em escala maior, dentro dos portos”, diz Braz.

O diretor lembra que, mesmo que ocorra um aumento da produção nacional de fertilizantes, as compras do exterior ainda vão ser importantes para suprir o agronegócio brasileiro. “Há alguns produtos que têm características que não têm produção no Brasil, como o potássio”, diz.

Segundo Braz, na atual década existe espaço para o Açu atender metade da demanda de ureia estimada para a região de influência do porto, projetada em 1,6 milhão de toneladas. A atuação do Porto Fluminense na importação de fertilizantes complementa as atividades de exportação de grãos. De acordo com o diretor, um estudo da fundação Dom Cabral mostrou que o Açu pode movimentar até 20 milhões de toneladas de grãos em 2035, caso seja concluída a conexão do porto à malha ferroviária.

Em janeiro do ano passado, o Ministério da Infraestrutura assinou acordo com o Açu para construção de uma ferrovia, que vai ligar o porto a Anchieta (ES). “O potencial é gigantesco, tanto na exportação de grãos, principalmente do Noroeste mineiro, assim como na importação de fertilizantes. Começamos com a rodovia e, num futuro, com a chegada da ferrovia, isso é potencializado”, diz Braz.

O projeto da ferrovia está incluído no programa de parcerias de investimentos (PPI). Segundo o CEO do Porto do Açu, ainda não houve novas sinalizações sobre o projeto desde que o governo Lula assumiu, no mês passado. “O projeto continua, está nos planos do governo federal, mas ainda não tem um anúncio definitivo de início de construção. Temos dois Estados extremamente interessados, Rio e Minas Gerais. Para escoar a produção agrícola na próxima década, Minas depende dessa ferrovia conectada ao Açu”, diz Firmo.