.

Conexão com distribuidoras ainda é desafio para térmicas a biomassa de cana de açúcar

Obras de interligação para escoamento de energia para as distribuidoras podem representar 15% dos custos e demorar até dois anos para serem completadas, segundo Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da Unica

FONTE: Brasil Energia

A capacidade instalada das usinas térmicas (UTEs) a biomassa de cana de açúcar atingiu 12,2 GW em janeiro desse ano, segundo Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade na União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).

As estatísticas mostram um aumento de 2,5% em relação ao mesmo mês de 2022. Hoje, 40% das UTEs integradas plantas de produção sucroalcooleira geram energia apenas para atender a demanda interna, enquanto 60% disponibilizam o excedente. A maior parte dos contratos é direcionado para o mercado livre.

Apesar dos números, o setor pode avançar mais, na avaliação de Souza. O especialista lembra que a produção de energia no setor é pouco superior à capacidade de geração da usina de Belo Monte (11,2 GW). Quando somada a outras fontes de biomassa, com destaque para o licor negro da indústria de papel e celulose, a capacidade de geração de energia a biomassa chega a 17,4 GW. São Paulo, com 6,1 GW responde pela metade da capacidade de produção de energia do segmento sucroalcooleiro. Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul somam 32% e outros 16 estados completam o quadro.

Com a indústria paulista saindo na frente, Souza avalia que o planejamento a longo prazo do segmento merece uma abordagem regionalizada. O foco seriam os desafios de atender a conexão das UTEs às distribuidoras de energia. Além de representar cerca de 15% dos custos de construção de uma usina de geração térmica, as obras podem demorar até dois anos, o que complicaria o posicionamento desse tipo de geração em leilões para o mercado cativo ou ainda a oferta no mercado livre.

“Qualquer forma de expansão do setor encontra as redes normalmente carregadas. O segmento deveria ter uma atenção setorizada como acontece com o norte de Minas Gerais em relação à demanda de transmissão para atender a geração solar”, argumenta Souza. No caso da indústria de álcool e açúcar, as barreiras são burocráticas e estão concentradas no relacionamento com as distribuidoras locais. O atendimento regionalizado, na avaliação dele, envolveria o nordeste de São Paulo, Minas e o Mato Grosso do Sul.

O ponto de vista do especialista da Unica faz sentido, ao se considerar os dados mais recentes da EPE, que aponta um potencial técnico de exportação de eletricidade proveniente do bagaço de cana-de-açúcar de 6 GW médio em 2032, podendo ser ampliado com a consideração de palhas e pontas, segundo o relatório PDE 2032, publicado no ano passado.

Souza acredita que o planejamento com foco na região produtora de energia a biomassa de cana-de-açúcar também precisa ser integrado, pois o segmento tem avançado para a produção do biometano e, futuramente, pode integrar a cadeia de produção do hidrogênio verde. “Essa visão estruturante integrada é muito importante para o setor, porque a usina quando faz o investimento não pensa só no etanol, mas também em outros produtos”, resume.

O executivo lembra ainda que, ao contrário da geração solar e eólica, a de biomassa a cana-de-açúcar não é intermitente. A moagem da cana, que vai de abril a novembro, pode muitas vezes ser antecipada para março e terminar em dezembro. Como as plantas demandam pelo menos um mês para manutenção, elas podem produzir no período seco e crítico da geração hidrelétrica.

Outro dado importante é que 25% do parque instalado das usinas termelétricas a bagaço de cana-de-açúcar opera com turbinas de condensação, o que viabiliza a produção de energia inclusive na entressafra. “Esse grupo poderia operar o ano inteiro, produzindo a partir da biomassa armazenada”, finaliza Souza.