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Demanda global por biocombustíveis deve aumentar 22% nos próximos anos, aponta IEA

Relatório da Agência Internacional de Energia indica consumo crescente de biocombustíveis até 2027. No Brasil, falta de previsibilidade pode afetar mercado de renováveis

FONTE: EPBR

LUÍS CORREIA — A demanda global de biocombustíveis deve crescer cerca de 22% nos próximos quatro anos, mostra o relatório Renewables 2022, da Agência Internacional de Energia (IEA). O percentual é equivalente a 35 milhões de litros anuais durante o período de 2022 a 2027.

Segundo a projeção, publicada no último mês, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Indonésia e Índia representam 80% da expansão total de uso de biocombustíveis.

Os cinco países estão se empenhando em impulsionar políticas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) para atingir as metas de segurança climática e energética. Tanto os requisitos de mistura obrigatória quanto os incentivos financeiros sustentam o crescimento da demanda nos países.

De acordo com a IEA, um terço da produção dos novos biocombustíveis serão oriundos de resíduos como matérias-primas. O biodiesel representa a maior parte do crescimento ano a ano.

Em 2021, aproximadamente 70% do diesel renovável e do combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês) eram provenientes de resíduos.

biojet, obtido a partir de biomassa, emite menor quantidade de material particulado em relação aos equivalentes fósseis. As previsões da IEA revelam que a demanda do biocombustível expandirá significativamente para 3.800 milhões de litros por ano, cerca de 35 vezes mais do que o nível de 2021.

No geral, a agência estima uma aceleração de até 85% na taxa de aumento de fontes limpas no período, como resultado de esforços para reduzir a dependência de combustíveis fósseis russos após a crise energética global causada pela invasão da Ucrânia. Na geração elétrica, a expectativa é que a utilização de renováveis aumente de 11% para 14% — quase 2.400 GW de capacidade — até 2027, diz a análise.


Cenário da produção no Brasil

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), na atual safra, o Brasil deve colher cerca de 150 milhões de toneladas de soja, ante 142 milhões de toneladas da produção anterior. Neste ano, a associação projeta o maior volume de processamento do grão já registrado em toda a série histórica, alcançando 52,5 milhões de toneladas.

No acumulado da safra de 2022/2023, a moagem de cana para a produção de etanol totalizou 538,98 milhões de toneladas, um aumento de 3% em relação ao ano anterior. Os dados são da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).


Biocombustíveis enfrentam impasses

Apesar do ritmo de crescimento na geração, os setores de biocombustíveis enfrentam falta de previsibilidade na oferta de renováveis, embargando investimentos destinados às indústrias.

Em 2022, a redução do ICMS contribuiu para o aumento de preços do etanol e resultou em queda de 15,7% nas vendas do biocombustível, em relação a 2021, favorecendo o crescimento de fósseis. A StoneX estimou um consumo total de hidratado de 15,13 milhões de m³, em 2022, representando queda de 0,7%.

Com a baixa na oferta, o álcool perdeu competitividade frente ao seu equivalente fóssil. Em razão disso, as indústrias sucroalcooleiras estão cobrando do governo a derrubada da MP 1157, que mantém a desoneração dos combustíveis.

Já a produção de biodiesel, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia (MME), sofreu baixa de 7,5% somente no ano passado.

Associações do setor sinalizaram que o corte na mistura de biodiesel deve diminuir o volume do esmagamento da soja para 10,1 milhões de toneladas; enquanto a retomada do cronograma estabelecido em 2017 pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) elevaria a produção para 43 milhões de toneladas. O calendário inicial previa o mandato de 14% (B14) neste mês e 15% (B15) a partir de março deste ano.