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Qualificação e emprego da mão de obra local é desafio
Cerca de 2 milhões de vagas poderão ser criadas a partir da implementação dos projetos de energia renovável
FONTE: Valor Econômico
Apesar dos avanços na última década, a qualificação profissional ainda é uma preocupação das empresas diante do rápido crescimento do volume de obras previsto para o Nordeste. Cerca de 2 milhões de vagas poderão ser criadas a partir da implementação dos projetos de energia renovável na região, segundo estimativa do Plano Nordeste Potência. Para os nove Estados da região, que historicamente têm as maiores taxas de desemprego do país, a oportunidade está batendo à porta.
O Brasil já é o terceiro maior empregador do setor de energia limpa do mundo, com 10% do estoque de empregos em 2021 – ou 1,27 milhão de vagas – mesmo percentual de toda União Europeia, segundo relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena). Sozinha, a China responde por 42% dos empregos na área, que somaram 12,7 milhões no mundo em 2021. O segmento solar é o maior empregador, seguido pelo eólico e hidrelétrico.
O grosso das vagas surgem na fase de construção das plantas. Uma vez instalados, os parques precisam de equipe reduzida para manutenção e operação. “Os equipamentos a serem instalados são de alta tecnologia, nem sempre há uma mão de obra qualificada no local”, afirma Gustavo Rodrigues Silva, diretor de operações da multinacional francesa Qair no Brasil.
Em alguns de seus empreendimentos no Brasil, a Qair conseguiu que 70% da mão de obra empregada fosse oriunda das proximidades, mas também houve casos em que essa taxa foi de apenas 40%, afirma o executivo.
Ricardo Barros, vice-presidente de geração centralizada da Absolar, diz que, de modo geral, tem conseguido preencher mais da metade das vagas da fase de construção dos projetos com trabalhadores locais. “Ainda não é 100%. Treinamentos precisam ser dados em parcerias e dentro da própria empresa”, afirma.
O custo com transferência, hospedagem e qualificação de pessoal de fora pesa na equação financeira dos projetos. Em relação à oferta de mão de obra, Rio Grande do Norte e Bahia, líderes na produção, seguidos pelo Piauí e Ceará, estão em vantagem por terem sido pioneiros. Em termos de condições climáticas – sol de dia e vento à noite – todos os Estados nordestinos são competitivos, afirma o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PE), que lidera o Consórcio Nordeste. “A diferença entre os Estados líderes e os demais tende a cair nos próximos anos. Estamos só no início”, diz Câmara.
O setor tem agido rapidamente para atender a demanda por trabalhadores nas empresas, por meio de convênios com instituições do sistema S, principalmente. “Em havendo falta, existe recurso para desenvolver a mão de obra nas regiões mais remotas. A minha visão é que isso é papel da indústria”, diz Adriana Waltrick, presidente da SPIC Brasil.
No Piauí, as redes estadual e federal oferecem cursos técnicos, graduação e mestrado voltados para energias renováveis. No Ceará, foram criados cursos específicos para a demanda do setor, como montagem de sistemas fotovoltáicos e manutenção de projetos eólicos. Além disso, universidades públicas e privadas no Estado já possuem cursos de graduação e pós-graduação em energias renováveis e engenharia de energias.
Na Bahia, quando um protocolo de intenção de investimentos é assinado, a empresa firma um compromisso com a destinação de vagas para primeiro emprego. A exigência beneficia estudantes e egressos dos cursos técnicos de nível médio da rede estadual de educação profissional e também do ensino médio e fundamental. Eles são qualificados por programas governamentais executados pelo Estado da Bahia.