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Chilena Arauco vai investir R$ 15 bi em fábrica de celulose no Brasil

Grupo está presente no país, com operações florestais e quatro plantas de painéis de madeira, e há anos avaliava a produção de celulose

FONTE: Valor Econômico

Cinco anos depois de ter sido superada pela Paper Excellence (PE) na disputa pela Eldorado Brasil, a Arauco caminha para ter sua primeira fábrica de celulose no Brasil. Mediante investimentos de US$ 3 bilhões, mais de R$ 15 bilhões ao câmbio atual, o conglomerado chileno assinou ontem um termo de acordo com o governo de Mato Grosso do Sul e prevê erguer a nova unidade no município de Inocência, a 337 quilômetros de Campo Grande.

A fábrica, cuja instalação depende do atendimento de alguns pré-requisitos, terá capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas por ano de celulose de eucalipto e deve entrar em operação no primeiro trimestre de 2028. A partir da assinatura do acordo, a Arauco dará início ao licenciamento ambiental do projeto, uma das condições que devem ser alcançadas para que o investimento seja executado.

“A Arauco tem mais de 40 anos e aposta sempre no longo prazo. O grupo gosta de planejar com antecedência e ainda tem um bom tempo para lidar com os principais desafios”, disse ao Valor o presidente da companhia no Brasil, Carlos Altimiras.

O grupo está presente no país com operações florestais e quatro plantas de painéis de madeira, e há anos avalia a produção de celulose no Brasil. Em 2017, chegou a apresentar proposta de compra da Eldorado à J&F Investimentos, dona da JBS, mas foi superada pela oferta de R$ 15 bilhões da PE, do empresário indonésio Jackson Widjaja. Antes disso, começou a montar uma base florestal para produzir celulose no país, mas a restrição à compra de terras por estrangeiros acabou atrapalhando os planos.

Segundo Altimiras, a previsão é que o projeto Sucuriú seja submetido à aprovação do conselho de administração no segundo semestre de 2024, com início das obras em janeiro de 2025. Em nota, o CEO da Arauco, Matias Domeyko Cassel, destacou que o Brasil representa “um polo importante para a estratégia global do grupo”.

Além do licenciamento ambiental e da confirmação do investimento pelo conselho, a execução do projeto está sujeita à disponibilidade de madeira para a produção de celulose. Serão necessários cerca de 380 mil hectares em área bruta para desenvolver o projeto e a companhia já tem 60 mil hectares, dos quais 40 mil plantados com eucalipto.

Conforme Altimiras, há várias frentes de negociação abertas para garantir madeira suficiente para início de operação em 2028. “Estamos bastante avançados nesse plano”, comentou. A expectativa é chegar a 2024 com 70% a 80% da área total necessária.

Com distância média de 150 quilômetros entre fábrica e florestas, a unidade será a mais competitiva do grupo. Instalada na margem esquerda do rio Sucuriú, contará com acesso rápido a canais de escoamento da celulose, incluindo a rodovia MS 377, o rio Paraná (100 quilômetros distante) e malha ferroviária (a 47 quilômetros).

Cerca de 95% da produção da futura fábrica deve ser exportada, principalmente para Ásia e Europa. Com o aval para seguir em frente com o investimento no Brasil, a Arauco vai avaliar quais são as melhores opções de abastecimento dos mercados internacionais a partir de seus ativos. A maior parte da capacidade instalada está no Chile, com 4,1 milhões de toneladas anuais, mas o grupo também tem fábricas na Argentina e no Uruguai, onde é sócio da Stora Enso na joint venture Montes del Plata.

Conforme o diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Arauco no Brasil, Mario José de Souza Neto, a estrutura logística foi essencial na escolha do município de Inocência. “Há a Malha Oeste, a Malha Paulista da Rumo e também a possibilidade de escoar celulose pelo rio. Estamos avaliando as alternativas para ver quais são as mais viáveis”, explicou.

Além disso, conforme Altimiras, Mato Grosso do Sul traçou um plano de desenvolvimento como potência de base florestal. “O Estado tem plano e clara visão onde quer chegar. Isso ajuda muito”, acrescentou. A futura fábrica será autossuficiente em energia, usando fonte renovável, com capacidade de geração de 400 megawatts (MW) a partir do reaproveitamento de biomassa. A energia excedente, ou 200 MW, será comercializada no mercado livre.

Durante a fase de obras, o projeto Sucuriú vai empregar mais de 12 mil trabalhadores, beneficiando cerca de 20 mil famílias na região, segundo o grupo. Em operação, a unidade empregará 2,35 mil pessoas, das quais 550 na fábrica, entre diretos e indiretos, e 1,8 mil na área florestal.

Globalmente, a nova fábrica elevará em cerca de 50% a capacidade de produção de celulose pelo grupo, de 5,2 milhões de toneladas por ano incluindo a expansão em curso no Chile, para 7,7 milhões de toneladas anuais. Com o Projeto Mapa, que deve entrar em operação no segundo semestre, a Arauco já se tornará a segunda maior produtora de celulose de mercado no mundo, atrás da Suzano e à frente da atual vice-líder, a chilena CMPC.

Fundado em 1979, o grupo opera globalmente e alcançou receita de US$ 6,4 bilhões no ano passado, dos quais 44% gerados pela venda de celulose e 56%, de produtos de madeira. Com mais de 18 mil funcionários, tem fábricas em onze países, 1,6 milhão de hectares brutos de florestas (plantadas e preservadas) na América do Sul e mais de 4,6 mil clientes em todo o mundo.