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CSN prepara um plano para ficar com Samarco
Grupo da família Steinbruch tem proposta de entrar na mineradora comprando fatias de ações de Vale e BHP e créditos detidos pelos fundos estrangeiros
FONTE: McKinsey & Company
O grupo CSN, da família Steinbruch, que tem ambição de se tornar uma gigante mundial da mineração de ferro, está preparando um plano que seja uma solução para o imbróglio em que se transformou a recuperação judicial da Samarco Mineração. A produtora de pelotas de minério de ferro listou mais de R$ 50 bilhões em dívidas no pedido contra credores feito em 9 de abril do ano passado.
A ideia, apurou o Valor, é convergir os interesses tanto das acionistas Vale e BHP Billiton Brasil quanto dos credores financeiros da empresa. Os dois lados não chegaram a um acordo sobre o plano de recuperação elaborado pela Samarco, e suas donas. Fruto disso, ele foi rejeitado na assembleia de credores de 18 de abril.
A CSN contratou a consultoria de Ricardo K. – como antecipou o colunista Lauro Jardim, de O Globo -, especializada em reestruturações financeiras e disputas societárias, como se tornou o caso Samarco. A avaliação de uma fonte é que um acerto das partes é melhor do que uma judicialização de anos, o que poderá acontecer.
Contatos preliminares já foram endereçados tanto às sócias da Samarco quanto a representantes dos credores financeiros – 17 fundos estrangeiros conhecidos como “distressed funds”. Entre eles destacam-se Oaktree e Goldentree.
O grupo detém bonds emitidos pela empresa em valor acima de R$ 23 bilhões, referentes a empréstimos feitos antes de 2015. Esses credores não concordaram com os termos do plano da empresa e levaram ao juiz um Plano Alternativo, que está em análise.
O plano do grupo contempla, entre vários pontos, uma capitalização de 38% da dívida na forma de debêntures, o que tira Vale e BHP da gestão da mineradora. O plano é tratado como “Nova Samarco” e um objetivo é buscar, logo depois, um investidor estratégico – uma empresa de mineração. Um prato cheio para a CSN.
Vale e BHP, que aportaram R$ 24 bilhões na Samarco, apoiaram um segundo plano alternativo – bem menos radical que o dos credores – de dois sindicatos de trabalhadores de Minas Gerais e do Espírito Santo. Basicamente, eles fizeram algumas melhorias no plano de recuperação feito pela Samarco.
Entregues em 17 de maio ao juiz de Belo Horizonte responsável pelo caso Samarco, uma decisão ainda pode demorar de 45 a 60 dias, segundo fonte a par do andamento. Hoje está marcada audiência pública de conciliação de acionistas e credores com o juiz. Num primeiro momento, o que se busca é definir se vai haver ou não processo de mediação.
A CSN tem uma tarefa difícil pela frente – convencer, principalmente, a Vale a ouvir sua proposta, que compreende a injeção de recursos e compra de créditos dos fundos. Uma operação em que a CSN seria o “Stalking Horse”, operação conhecida no mercado financeiro e usada na Oi. A mineradora é refratária. Os demais parecem mais abertos. “Vale e BHP correm o risco de serem ‘tratoradas” pelos bondholders se não acharem uma solução”, diz fonte.
Se tiver êxito com uma proposta atrativa será uma grande oportunidade de a CSN assumir o controle da Samarco. É sabido que o dono da CSN, Benjamin Steinbruch, não entra num negócio se não for para ser sócio majoritário.
A Samarco tem condições de voltar a ser, em cinco anos, a grande produtora de pellets que foi antes de 2015, quando se afundou na lama que saiu da barragem de Fundão rio Doce abaixo. A empresa, apta a fazer 30 milhões de toneladas por ano, só voltou a operar no fim de 2020.
As pelotas, ou pellets, como são conhecidas, são um produto premium no mercado mundial.
A CSN Mineração, que abriu o capital em fevereiro de 2021 e que já produz em torno de 33 milhões de toneladas de minério ao ano, vai passar a fazer material superfino (pellet-feed) em grande quantidade em Congonhas (MG). Esse minério é matéria-prima na fabricação de pelotas. Dessa forma, a empresa integraria sua produção, como já faz a Vale.
Congonhas fica distante 45 km, em linha reta, e 69 km por rodovia, de Mariana, onde estão as instalações de beneficiamento do minério da Samarco, que é transformado em polpa e levado por mineroduto até Anchieta (ES).
Sobre o propósito do grupo de Steinbruch, BHP e Vale se manifestaram em nota conjunta. “BHP Brasil e Vale informam que a Samarco não está à venda e reafirmam seu apoio ao plano de reestruturação protocolado pelos sindicatos de empregados da Samarco e outros credores em 18 de maio. Ambos acionistas estão focados nos preparativos para a audiência de conciliação amanhã [hoje] e em garantir a sustentabilidade da Samarco e sua responsabilidade com os esforços de reparação, que não são endereçados pelo plano dos credores.”
Procurados, CSN, os credores financeiros e Ricardo K. não se pronunciaram sobre o assunto.