CSN vai testar tecnologia à base de hidrogênio verde
FONTE: Valor Econômico
É a primeira aplicação da UC3 numa usina siderúrgica, buscando reduzir consumo de combustíveis fósseis e emissão de CO2 na natureza
A produção de aço e de cimento é, globalmente, a maior emissora de CO2 no setor industrial, somando em torno de 15% do total, e ambos os setores começam uma corrida para cumprir metas de redução de gases do efeito estufa. Nesse caminho, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) inicia um projeto-piloto com tecnologia da empresa portuguesa UTIS, que fará a injeção de hidrogênio verde no processo produtivo de algumas áreas da usina, localizada em Volta Redonda (RJ).
É uma das soluções tecnológicas, entre várias no mundo, que estão sendo desenvolvidas para o corte de emissão de gás carbônico dos processos industriais.
A tecnologia da UTIS já mostrou resultados em cimenteiras, combustão de resíduos sólidos, biomassa, mas é a primeira vez que será aplicada numa siderúrgica, diz Felipe Spiri, executivo-chefe da CSN Inova Open e cofundador da CSN Inova, braço da companhia que investe em projetos de inovação e tecnologias.
Uma diretriz do alto comando da CSN é baixar o uso de combustíveis fósseis (coque de petróleo e carvão metalúrgico) e gás natural, afirma Spiri. Tanto para atender à questão ambiental quanto para se obter economia de custos. Coque e carvão são importados e comercializados em dólar.
Segundo o executivo, formado em economia na Unicamp, mestrado no Insper e com passagens em várias áreas da CSN, o projeto com a UTIS tem grande potencial de ajudar a CSN (bem como outras siderúrgicas) a cumprir metas de descarbonização, usando menos combustíveis fósseis. Ele informa que a empresa adquiriu e implantou, desde 2020, a tecnologia da UTIS na produção de cimento.
A utilização começou na fábrica integrada de Arcos (MG), onde obteve redução de 12 quilos de CO2 por tonelada de cimento produzida. O processo está acoplado, em quatro contêineres, a um dos dois fornos de Arcos, gerando ganhos, além do menor uso de coque, na produtividade do forno de clínquer e consumo de energia. A CSN Cimentos deverá levar a tecnologia também para a fábrica adquirida na Paraíba e futuramente para outras.
Nesta semana, técnicos da UTIS estão em Volta Redonda para iniciar a fase de definição da área que será escolhida para iniciar a aplicação da tecnologia. Essa etapa vai durar três meses, informou Spiri, pois serão mapeados todos os fluxos produtivos para testar a viabilidade técnica e econômica da UC3 (Ultimate Cell Continuous Combustion). Os alvos são o alto-forno (que usa carvão e coque), gases siderúrgicos e gás natural, a sinterização (que aglomera minério fino) e o laminador a quente.
O forno elétrico da usina de aços longos, por exemplo, é uma potencial área de produção a receber a tecnologia UC3 inicialmente. É de porte menor, comparado ao da grande usina de aços planos.
O objetivo é começar a injeção de hidrogênio verde, feita de forma controlada, no segundo semestre, em uma ou mais áreas definidas. O sistema, em contêineres – onde ocorre o processo de eletrólise, que gera hidrogênio -, segundo informa a CSN, tem fácil instalação, utilizando energia elétrica renovável e água de rede e de esgoto. Ficará definido também o porte dos equipamentos, que serão importados da Europa.
Os sistemas, informa Spiri, têm uma variação de preço que vai de € 100 mil a € 1 milhão. Depende da capacidade de hidrogênio verde a ser gerada e injetada. Segundo ele, para o projeto da cimenteira a CSN obteve financiamento da Finep (órgão federal de apoio à inovação nas indústrias). Mas não pôde repetir no projeto do aço. No todo, incluindo outras iniciativas, foram financiados R$ 45 milhões.
Segundo Spiri, a CSN trabalha para atingir, em 2030, a meta de redução de CO2 que o restante do setor fixou para 2050. Uma meta ousada para o tempo de oito anos.
A UTIS foi fundada em 2018, como joint venture entre a ULtimate Cell e o grupo Secil (de cimento). No fim de 2021, o grupo Semapa passou a integrar a empresa. A UC3 visa eficiência energética e nos processos de combustão contínua nas indústrias.