CSN Mineração visa ser líder global em minério premium

FONTE: Valor Econômico

Meta da empresa é vender produto com 67% de teor de ferro a um mercado crescente; expansão R$ 12 bilhões prevê dobrar capacidade de produção até 2026

A mineradora de ferro de Benjamin Steinbruch, que listou suas ações na B3 em fevereiro de 2021 e é uma grande geradora de caixa, espera em cinco anos dobrar sua participação no mercado global da commodity do aço. Com plano de R$ 12 bilhões que começa a ser executado, a CSN Mineração se vê como a empresa do setor que tem um plano de expansão delineado até 2032. Na primeira fase, até 2026, duplica a capacidade. Em outro salto, até 2032, prevê crescer mais 75%, indo a 116 milhões de toneladas por ano.

O foco, neste momento, está centrado no projeto de expansão de cinco anos. Segundo a empresa, já está estruturado e com grande parte dos equipamentos encomendada. Eneas Diniz, ex-diretor executivo da área de aço da CSN, alçado à presidência da CMIN, comanda os planos com o suporte da principal acionista, a própria siderúrgica, que têm sócios asiáticos.

Está previsto em várias fases, começando em 2023 com uma primeira ampliação da oferta de minério. Parte do funding para os aportes nas obras e instalações já está encaminhada, diz Pedro Oliva, diretor financeiro (CFO) e de relações com investidores, e novas idas ao mercado financeiro para captações estão previstas.

Ao abrir o capital um ano e um mês atrás, a empresa levantou, em ofertas primária e secundária, R$ 5,2 bilhões, considerado, até então, um dos dez maiores IPOs da bolsa paulista. Desse montante, a mineradora colocou R$ 1,7 bilhão em seu caixa.

Em 2021, a CMIN, que opera uma das maiores e mais ricas minas de ferro do mundo – Casa de Pedra, em Congonhas-MG -, beneficiou-se da escalada do preço da commodity no mercado internacional, assim como suas concorrentes. O minério atingiu média histórica de US$ 160 a tonelada.

A empresa fechou o ano com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 10,38 bilhões – margem de quase 58% ante a receita líquida. O lucro líquido atingiu R$ 6,4 bilhões. E virou 2021 com caixa líquido de mais de R$ 6 bilhões – ou seja, dívida negativa.

As ações da mineradora, porém, com exceção de um pico de alta ocorrido por volta de maio, não acompanharam a evolução dos resultados. Negociada no IPO a R$ 8,50, o papel da CMIN fechou a R$ 6,15 no pregão da B3 na sexta-feira, após ter ido a R$ 5,15 em novembro. (ver gráfico acima).

Em relatório na semana passada, o banco Morgan Stanley cortou recomendação de compra do papel para neutro e o preço alvo de R$ 7,50 para R$ 6,50. Os analistas argumentaram perspectiva de queda do preço do minério nos próximos anos – US$ 110 em 2023 e US$ 66 em 2024. Para eles, o setor, como um todo, pode ser impactado com alta de inflação e baixa perspectiva de crescimento. No caso da CMIN, disseram, “pesou a redução nas metas de investimento até 2026”, vindo a reduzir a capacidade de produção.

A visão da empresa é diferente, ressaltam Diniz e Oliva – a CMIN está levando avante o plano de crescimento traçado antes do IPO. “Ha pouca oferta prevista nos próximos três anos e a China – maior comprador mundial da matéria-prima – relaxou a política monetária e fiscal e sinalizou novos investimentos para a área de infraestrutura do país”, afirma Oliva. “Hoje há essa leitura mais positiva”.

Especialistas veem um vácuo de oferta futura de até cinco anos. No Brasil, a Vale tem capacidade travada de produção da ordem de 100 milhões de toneladas que depende de licenças ambientais para mudanças no sistema de barragens e depósito de rejeitos para retomar produção. As australianas Rio Tinto e BHP não tem projetos; apenas a FMG começa operação de uma mina de 20 milhões de toneladas. A Anglo American, no Brasil e África do Sul, também não tem nada robusto, dizem.

Segundo Diniz, a CMIN já superou a questão dos rejeitos após investir R$ 400 milhões em sistemas de filtragem, depositando todo o material a seco em pilhas próprias. E garante que suas barragens tem nível zero de risco dado pelo órgão fiscalizador e que está trabalhando em linha com legislação. “Nosso crescimento não passa por barragens e já temos as licenças que precisamos para avançar com os projetos, pois já operamos com 100% nessa tecnologia”, afirma.

Uma das fontes de minério na expansão é justamente a recuperação de rejeitos existentes na grande barragem de Casa de Pedra, acumuladas ao longo de décadas – estima-se 140 milhões de toneladas. Vai começar com 3 milhões de toneladas em 2023. O volume subirá gradualmente até 2026, chegando a 8 milhões por ano a partir de 2027. “Há muito rejeito a ser processado e com teor de ferro cada vez mais rico, uma vantagem”, informa o CEO.

O grande salto, segundo a CMIN, se dará em 2024, com a adição de 23 milhões de toneladas de minério pellet-feed, de alto teor de ferro (67% após processo de concentração do material). Os equipamentos para as plantas de beneficiamento P-15 e P-4 já estão adquiridos, informam.

Em 2026, explicam os executivos, a fase 1 de expansão da CMIN se completa com 5 milhões e 2,5 milhões de toneladas, respectivamente, adicionais. “Vamos ter um mix de produto muito mais rico em teor. Vamos sair dos 62% atuais e passar para 67%, ficando na liderança dos players globais com um produto premium em 2032, quando a CMIN será a quinta maior do setor”, afirma Oliva.

Atualmente, há três tipos de produto – o pobre, com 58% de teor de ferro, o referência (benchmark), de 62%, e o rico, com 65%.

No processo de descarbonização das clientes (siderúrgicas) a empresa vai levar vantagem, assegura o CFO, ao dispor de produto com 67%, pois o mercado vai demandar minério de alto teor de ferro para produzir pelotas (pellets) e de briquetes (HBI). “Nosso minério vai para esse mercado crescente de matéria-prima que será cada vez mais usada para fazer aço em fornos elétricos”, diz.

Para dar suporte ao crescimento e escoar a produção, a CMIN vai, nesse pacote de investimentos, elevar a capacidade de seu terminal portuário, o Tecar, situado em Itaguaí (RJ). O plano prevê atingir 60 milhões de toneladas em 2025, com um novo berço no píer, novos pátios e nova correia transportadora para carregamento dos navios. Para carregar desde Congonhas ao Tecar, a ferrovia da MRS, concessionária na qual a CMIN tem 18%, só precisará comprar mais locomotivas e vagões, segundo os executivos.

Na avaliação de Oliva, o plano de investimento não vai afetar a política de pagamento da mineradora, que prevê distribuir aos acionistas R$ 4,8 bilhões, incluindo pagamento de juros sobre o capital, referente ao exercício de 2021. “Vamos acessar fontes de recursos de longo prazo para suportar o plano de expansão e, assim, manter a política de dividendos de 80% a 100% do lucro líquido, suportada pela geração de caixa da companhia”.

Para 2022, a mineradora está prevendo produção mais compras de terceiros de 39 milhões a 41 milhões de toneladas, aumento de 10% sobre o ano passado. No volume de vendas, avalia que a empresa conta a vantagem de ter virado 2021 com volume de 4,8 milhões de toneladas de estoques de produto pronto. Além disso, prevê preço médio comercializado por ela melhor que o do ano passado, que foi de US$ 101,31 a tonelada.

Sobre a perspectiva de preços da commodity no mercado internacional, a companhia trabalha com projeção da consultoria especializada Platts, que aponta cotação de US$ 147 até fim do ano.

Diniz lembra que a empresa tem vastas reservas no Quadrilátero Ferrífero de Minas, para mais de 100 anos de vida, o que garante a segunda etapa de crescimento, no período 2026-2032: serão mais duas instalações aptas a processar, cada uma, 28 milhões de toneladas de minério por ano. Para isso, estão previstas mais duas fases de ampliação da capacidade no Tecar: na primeira, ir a 84 milhões de toneladas; na segunda visa 130 milhões daqui a 10 anos.