Após ano histórico, Unigel eleva aposta em agro e fertilizante

FONTE: Valor Econômico

Com fornecimento do insumo ameaçado pela guerra na Ucrânia, grupo define planos para 2022

A Unigel, uma das mais tradicionais petroquímicas brasileiras, pôs o agronegócio no foco após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Meses depois de reiniciar a operação das duas fábricas de fertilizantes arrendadas da Petrobras, o que contribuiu para que 2021 tenha sido o melhor ano de sua história, a companhia vai ampliar a produção local de insumos estratégicos para fertilizantes nitrogenados e produtos químicos que hoje são importados.

“No médio prazo, temos planos de crescimento nos três negócios: agro, acrílicos e estirênicos. Mas hoje o foco maior está no agro, porque se enxerga a dependência do Brasil dos fertilizantes importados. Essa exposição nos faz querer investir mais”, diz o diretor financeiro da Unigel, Daniel Zilberknop.

A própria companhia, maior produtora de acrílicos e estirênicos da América Latina, poderia estar exposta aos riscos de desabastecimento decorrentes da guerra. Com o arrendamento das Fafens da Petrobras na Bahia e em Sergipe, que estavam desativadas, a Unigel assumiu o posto de única produtora local de ureia e maior em amônia, usada em fertilizantes e na cadeia de acrílicos. Desde que a estatal hibernou as fábricas de fertilizantes, essa matéria-prima era 100% importada e a Rússia responde por 23% da oferta global.

Conforme Zilberknop, a Unigel Agro veio para completar o portfólio de negócios, mas também para integrar as demais operações da companhia, primeiro no caso da amônia e, agora, do ácido sulfúrico. Haverá mais desdobramentos à frente: hidrogênio verde e amônia verde estão no radar da empresa.

Também receberão atenção eventuais oportunidades relacionadas ao Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) ou a ativos industriais disponíveis no mercado – ainda não há desdobramento prático, mas a guerra gerou questionamentos sobre a venda recente do projeto de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas (MS) para a russa Acron.

Neste momento, a Unigel está investindo US$ 100 milhões (cerca de R$ 520 milhões) em uma nova fábrica do produto em Camaçari (BA), que será usado para reativar uma unidade de sulfato de amônio (um fertilizante nitrogenado) que veio no pacote de ativos arrendados da Petrobras – o ácido sulfúrico é usado tanto na produção de fertilizantes quanto de acrílicos e o vapor gerado no processo produtivo é aproveitado como energético na operação de estirênicos.

Para reativar as Fafens, a companhia já havia desembolsado cerca de US$ 100 milhões. “Antes, navegávamos mais o ciclo petroquímico. Com a Unigel Agro, também mudou a escala. Temos a intenção de expandir o agro em produção, integrando ainda mais o nosso negócio”, explica o executivo.

No ano passado, enquanto os spreads petroquímicos mais fortes impulsionaram o desempenho no primeiro semestre, a operação plena das Fafens puxou os resultados em um momento de spreads mais fracos – no ano, os resultados em acrílicos e estirênicos também cresceram frente aos anos anteriores, com o maior foco em eficiência operacional.

A Unigel encerrou 2021 com receita bruta de R$ 8,49 bilhões, mais que o dobro do que foi registrado no exercício anterior, e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 1,7 bilhão, com crescimento de mais de três vezes. O lucro líquido chegou a R$ 882 milhões e o caixa gerado pelas atividades operacionais mais que dmais que dobrou, a R$ 1,1 bilhão.

Com o fim do processo de “ramp-up” das Fafens em agosto, a Unigel se tornou a maior fabricante de fertilizantes nitrogenados do país. O negócio teve contribuição relevante nos resultados consolidados em 2021, responsável por 25% da receita bruta e 33% do Ebitda ajustado.

Hoje, a capacidade instalada da Unigel Agro está em 925 mil toneladas por ano de amônia, 1,125 milhão de toneladas de ureia, 670 mil toneladas de sulfato de amônio e 220 mil toneladas de Arla, usado para reduzir as emissões de veículos de grande porte.

Na avaliação do executivo, a guerra na Ucrânia traz consequências diretas para os mercados de óleo e gás e fertilizantes, mas inicialmente não é motivo de preocupação para a Unigel Agro, que usa o gás na produção de ureia e amônia.

Com contratos de suprimento locais, com Petrobras e Shell, demanda assegurada e hedge de matéria-prima, a operação deve navegar com tranquilidade em tempos de conflito. A Rússia é a maior exportadora de amônia e ureia no mundo e um dos maiores players em fertilizantes NPK, o que fez com que os preços desses insumos disparassem com a imposição de sanções pela invasão á Ucrânia.

A Unigel encerrou 2021 com caixa de R$ 849 milhões e terá condições de fazer frente ao investimento em ácido sulfúrico com os recursos gerados por seus negócios. A companhia estava a caminho de vender ações em bolsa, mas suspendeu o IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações) na segunda metade do ano passado em meio à deterioração das condições de mercado.

“A companhia está em seu melhor momento e tem condições de investir em crescimento com desalavancagem”, ressalta o executivo. No fim do ano, a dívida líquida da Unigel, de cerca de R$ 2,1 bilhões, correspondia a 1,2 vez o Ebitda anualizado, índice considerado confortável pelas agências de rating.