APLICAÇÃO DE NORMAS E ESCALA AQUECERÃO MERCADO DE EÓLICAS OFFSHORE, PROJETAM AGENTES
FONTE: Revista Portas e Navios
Abemar acredita que Brasil já possui leis e normas infralegais aplicáveis a projetos eólicos offshore. Fornecedores locais estudam desenvolvimento e parcerias para atividade.
O desenvolvimento de projetos eólicos offshore em águas jurisdicionais brasileiras tem um caminho a ser percorrido, mas possui bons indicadores em diferentes áreas de negócios. Agentes setoriais ouvidos pela Portos e Navios acreditam que a desburocratização do processo e ganhos de escala vão contribuir para viabilizar projetos, atraindo novos players e gerando serviço e encomendas para a indústria nacional. A avaliação é que a geração de energia e atividades secundárias, como dessalinização e hidrogênio verde, devem aumentar as demandas de suporte e construção. Para a indústria naval, o aumento de projetos de eólicas offshore pode representar pedidos de modificação de embarcações existentes, a fim de complementar a frota nacional.
A Associação Brasileira de Eólicas Marítimas (Abemar) considera que o país já possui normas gerais necessárias em vigor, mas ainda falta a busca por consenso para a aplicação delas por alguns órgãos de governo. A associação é a favor do sistema de autorização de projetos, como acontece em outros setores, como o ferroviário. “O Brasil tem leis e normas gerais que se aplicam à eólica offshore e permitem o direito de usar espaços físicos com base na legislação, sem licitação”, disse o presidente da Abemar, Marcello Storrer. Ele comparou que, no setor ferroviário, a concessão é sempre fruto de autorização à iniciativa privada.
O entendimento da Abemar é que a Constituição Federal não permite licitação se não houver igualdade de condições, pois todos precisam começar do mesmo páreo. “A Abemar defende a aplicação de normas gerais e fazer com que normas específicas novas venham a ajudar, e não atrapalhar a iniciativa privada”, afirmou Storrer. Além de contratos de energia firme, a Abemar aponta que projetos de eólicas offshore vão permitir, de forma secundária, a dessalinização de água e hidrogênio verde como subprodutos que vão ajudar a viabilizar a geração dessa fonte de energia no mar.
Storrer acrescentou que o país tem volume de projetos que permitirá futuramente a escala da produção de itens como pás, geradores e outros grandes componentes. Ele disse que o Brasil ainda não tem fornecedores nacionais para alguns itens, como tubulão de aço, mas que os empreendedores podem vir a ser atendidos pela indústria brasileira. Outros itens como fundação por concreto teriam abundância de fornecimento. Já os geradores ainda não são feitos no Brasil.
O presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais, Offshore e Onshore da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSENO/Abimaq), Bruno Galhardo, observa a necessidade de novos tipos de embarcação operando no Brasil da família dos OWSVs (Offshore wind support vessels), que inclui SOVs (Service operations vessels) e os WTIVs (Wind turbine installation vessels). Ele prevê demanda para futuras conversões de embarcações num primeiro estágio que, no futuro, devem demandar a construção de novas embarcações de suporte à geração eólica offshore no Brasil.
“Os projetos de ‘wind offshore’ necessitam de embarcações de apoio que não existem no Brasil atualmente. Desta forma, vejo grande potencial para conversões de embarcações no país”, destacou Galhardo. Ele acrescentou que a transição energética vem transformando também as próprias embarcações que estão migrando para projetos com propulsão mais limpa, como híbridas, elétricas e nucleares.
A Wärtsilä acredita que o segmento de eólicas offshore ainda deve demorar a maturar. A fabricante tem participado de discussões em grupos e eventos com agentes setoriais sobre o tema. A avaliação é que esse mercado é promissor e vai demandar embarcações específicas. “No Brasil, temos um potencial [para o offshore] tão grande quanto para o onshore (terra), olhando para o médio e longo prazo”, projetou o gerente sênior de inovação de mercado da Wärtsilä, Lucas Corrêa.
As embarcações para esse novo mercado possuem algumas semelhanças com barcos de apoio offshore que tenham algum tipo de equipamento que possibilite suporte para manutenção nas torres eólicas. A Wärtsilä vê esse nicho como uma oportunidade futura de diversificação para as empresas atuantes no mercado de suporte marítimo e que pode trazer algum tipo de benefício para a cadeia, principalmente armadores acostumados a operar embarcações complexas, como PSVs (transporte de suprimentos), AHTS (manuseio de âncoras) e PLSVs (lançamento de linhas). Corrêa ressaltou que essa oportunidade para os armadores entrarem num novo tipo de negócio ainda esbarra na falta de uma regulamentação ambiental sobre a atividade.
O gerente da Wärtsilä explicou que tem havido buscas por projetos de conversões de embarcações que estão ‘sobrando’ no mercado para embarcações mais complexas, o que pode abrir caminho para o caso de desenvolvimento do mercado de geração por essa fonte de energia no mar. “Acredito que possa ser um dos mercados para o futuro. Pode ser uma boa possibilidade para os armadores. A grande diferença é que o engajamento deverá ocorrer com players que hoje não fazem parte do ecossistema de apoio marítimo”, comentou Corrêa.
A expectativa da Macnor Marine é que a consolidação desse mercado no Brasil seja uma oportunidade importante para potenciais negócios de conversões de embarcações e novas construções no país. O diretor da Macnor, Pedro Guimarães, observa que esse é um mercado que já acontece a todo vapor na Europa e caminha a passos largos na América. “O case de desenvolvimento dessa indústria nos EUA servirá como bom termômetro pro Brasil, já que estão na mesma direção, alguns passos na frente comparado ao Case Brasil”, disse Guimarães.
Ele acrescentou que a geração eólica em parques terrestres no Brasil já possui uma indústria desenvolvida e consistente para fabricação e manutenção dos componentes principais das torres, visto que a fonte representa 10% da matriz elétrica nacional, e que o país ocupa a 8ª posição do ranking mundial de capacidade instalada. Guimarães lembra que alguns itens ainda são importados e que a diferença está na logística de instalação das torres e sistemas no mar. Ele considera que a logística de manutenção preventiva e corretiva são fundamentais para o funcionamento e eficiência da produção.
A Macnor aposta em oferecer soluções e suporte em todos os estágios desde a instalação das torres no mar, comissionamento, operação e manutenção. Algumas das empresas norueguesas representadas já possuem em seu portfólio de soluções, projetos dedicados à indústria eólica offshore para atender globalmente essa indústria. Guimarães cita a empresa é representante exclusiva da Ulstein, que já atua no mercado eólico offshore desde 2006, como projetista de novas construções e conversões de navios existentes. Para a logística de pessoal dedicada à manutenção preventiva e corretiva, ele destacou que outra empresa que a Macnor representa (Maritime Partner), possui em seu portfólio de barcos dedicados ao mercado eólico, rápidos, chamado de Walk-To-Work.
Guimarães vê que a sinergia com a indústria naval existente será fundamental para o sucesso dessa nova indústria. “Com essa sinergia posta em prática, outras discussões construtivas serão convenientes como, por exemplo, unir o mercado eólico offshore ao plano de descomissionamento de plataformas, em que poderíamos desinstalar apenas o topside e reutilizar a estrutura já existente, para instalações de torres eólicas”, projetou.