Cinco reflexões energéticas para 2022 — com enfoque inconsciente no gás natural, por Luiz Felipe Coutinho

FONTE: EPBR

Equilíbrio e sustentabilidade do planejamento energético depende de diversificação e integração com outras soluções energéticas

Somos, ao tempo presente, um conjunto de lições e ensinamentos que moldam a nossa capacidade de pensar e refletir. Entre folclores populares, lições escolares e filosofia profunda, um velho clichê seguidamente repetido pela minha avó sempre me marcou: “a verdade é uma esfera”.

Este é um resumo do atual debate acerca do sistema energético brasileiro envolto em uma das piores crises de sua história, muitas versões em torno de poucos fatos. Gostaria de refletir sobre alguns.

Um problema estrutural exige uma solução integrada

Não é segredo a opção do Brasil no passado por uma matriz energética baseada em seus recursos hídricos. A abundância de uma fonte energética limpa, segura, barata e principalmente estocável tornavam a decisão óbvia.

Abusamos da nossa natureza privilegiada. O país se desenvolveu, nossa população cresceu e a vocação para celeiro do mundo aflorou em nossa economia. O recurso abundante tinha outros usos concorrentes. A baixa diversificação da matriz cobrou um preço.

Outra verdade veio à tona, o preço da energia se transformou em um dos principais gargalos de crescimento do país.

O combustível dos tão propagados voos de galinha. Com a baixa diversificação energética, tornamos nosso desenvolvimento econômico refém de variáveis incontroláveis, como, por exemplo, o regime de chuvas.

Um preço alto demais para um país do nosso porte econômico. A diversificação tornou-se mandatória e descobrimos nossa vocação também para uma matriz baseada em energias renováveis. Limpas e baratas como a água, porém não estocáveis.

Um terceiro fato emerge desta história. O Brasil migrará para uma matriz preponderante em energias renováveis. Temos os recursos e a mudança tem sentido ambiental, social e econômico.

Entretanto, o equilíbrio e sustentabilidade deste caminho escolhido depende da diversificação e integração com outras soluções energéticas. A escassez hídrica e a intermitência das energias renováveis exigem novas formas de estocagem de energia.

O gás natural é solução tão óbvia quanto a escolha pelas renováveis, mas narrativas distorcem fatos, o que nos leva ao nosso segundo ponto de reflexão.

Ruídos políticos nos afastam dos fatos

Não é de hoje que a Petrobras figura no centro do debate político, seja como raiz ou solução dos problemas. Faz parte do jogo. No entanto, o clamor social disfarça as mazelas mais profundas sob as quais deveriam se orientar as políticas públicas.

Isto torna-se ainda mais latente em um país em que a formação de preços esteve historicamente amarrada a políticas fomentadas pela empresa monopolista. Sendo ela uma estatal, também é natural a associação que o cidadão médio faz destas decisões com o ocupante do principal cargo político do país.

Mas, por trás das máscaras, há os fatos, e o Brasil, apesar de sua crescente produção bruta, é importador de gás natural e outros combustíveis. Sendo uma commodity dolarizada, o preço dos combustíveis está, sim, atrelado a decisões centrais do país.

Flutuações do câmbio e arcabouço fiscal e tributário dizem mais sobre o preço da energia do que a estratégia corporativa dos produtores. O cidadão médio está certo, pelos motivos errados. Em ano eleitoral, faz-se por bem corrigir esta distorção, até pelos riscos que se avizinham na nossa terceira reflexão.