Europa retoma planos para produzir energia nuclear limpa

FONTE: Correio do Povo

Para atingir metas climáticas, seus defensores querem que ela seja reconhecida como energia limpa

Os países europeus, desesperados por uma fonte de energia confiável e de longo prazo para ajudar a alcançar as ambiciosas metas climáticas, estão se voltando para uma alternativa que causou imenso pavor nas gerações anteriores: a energia nuclear.

A Polônia quer ter uma rede de usinas nucleares menores para ajudar a acabar com sua dependência do carvão. A Grãbretanha está apostando na Rolls-royce para produzir reatores modulares baratos para complementar a energia eólica e solar. E, na França, o presidente Emmanuel Macron planeja desenvolver um enorme programa para seu país.

Embora os líderes mundiais prometam evitar uma catástrofe climática, a indústria nuclear vê nisso a oportunidade para um renascimento. Deixados de lado por anos após os desastres em Fukushima e Chernobyl, os defensores da ideia estão lutando para ganhar o reconhecimento da energia nuclear, ao lado da solar e eólica, como uma fonte aceitável de energia limpa.

Países europeus anunciaram recentemente planos para construir uma nova geração de reatores nucleares. Alguns são menores e mais baratos do que os modelos mais antigos, ocupando o espaço de dois campos de futebol e custando uma fração do preço das usinas nucleares padrão. O governo de Joe Biden também está apoiando essa tecnologia como uma ferramenta de “descarbonização em massa” para os Estados Unidos.

“A energia nuclear está se tornando predominante no movimento climático”, disse Kirsty Gonga, membro do Conselho Consultivo e de Pesquisa em Inovação Nuclear da Grã-bretanha e fundadora da Terrapraxis,

organização sem fins lucrativos que apoia a energia nuclear na mudança para uma economia verde. “Esta é uma década crucial e acho que veremos mudanças reais.”

Mas nem todo mundo está aceitando a ideia de que a energia nuclear é uma solução para as mudanças climáticas.

Dez anos atrás, poucos meses depois que um terremoto e um tsunami causaram o colapso da usina nuclear de Fukushima, no Japão, que forçou a retirada de mais de 150 mil pessoas da região, o governo alemão anunciou que encerraria gradualmente seu programa nuclear. Agora, a Alemanha está à frente de um grupo de nações que desejam neutralizar os esforços para incluir mais energia nuclear na matriz energética verde da Europa. Eles estão preocupados com a proliferação de usinas nucleares em solo europeu e com os resíduos radioativos que elas produzem.

TENSÃO

A reação está criando tensões com a França, o maior produtor de energia nuclear da Europa, que formou uma aliança incomum com países do Leste Europeu que desejam atrair mais investimentos para a energia nuclear, incluindo Bulgária, República Checa, Hungria, Polônia e Romênia.

O grupo está pressionando a União Europeia para classificar a energia nuclear como

Controvérsia das plantas nucleares Enquanto países como a França defendem a tecnologia, Alemanha se diz preocupada com o lixo atômico gerado

“sustentável”, medida que desbloquearia bilhões de euros de ajuda estatal e investimento de fundos de pensão, bancos e outros investidores que buscam colocar dinheiro em causas ambientais. Áustria, Dinamarca, Luxemburgo e Espanha se juntaram à Alemanha para tentar conter a iniciativa em Bruxelas.

ESCALA MENOR

O principal ponto de venda da indústria nuclear é uma tecnologia que envolve usinas em escala reduzida, ou pequenos reatores modulares, que seus defensores dizem ser seguros, baratos e eficientes. O argumento é que a energia eólica e solar sozinhas não serão suficientes para ajudar os países a cumprir as metas delineadas na cúpula do clima das Nações Unidas em novembro, em Glasgow.

Quase 200 países prometeram novas ações para evitar que a Terra esquente mais de 1,5 grau Celsius em comparação com os níveis pré-industriais. Depois desse limite, o risco de ondas mortais de calor e tempestades, escassez de água e colapso do ecossistema aumenta enormemente, alertam os cientistas.

Mas os países estão aquém do esperado, mesmo tendo aumentado os investimentos em energia eólica e solar, cuja produção varia conforme a incidência solar e os ventos. A reabertura da economia global após a pandemia do coronavírus causou um recente aumento nos preços da energia e fez com que os governos europeus lutassem para garantir fontes alternativas de energia.

Defensores da energia nuclear dizem que a experiência mostra a necessidade de uma nova geração de energia nuclear.

“A energia nuclear tem um papel realmente importante a desempenhar para chegar à emissão zero em muitos países”, disse Tom Samson, executivo-chefe da Rolls-royce SMR, que trabalha há seis anos em um projeto de reator nuclear pequeno, modular e comercial – e sente que o momento já chegou.

Samson apresenta o empreendimento como uma nova abordagem para um setor famoso por atrasos e derrapagens nos custos e, principalmente, evitado pelos investidores. A Rolls-royce, que fabrica motores a jato e fornece a usina de energia para a frota de submarinos nucleares da Marinha Real, espera construir 16 das usinas na Grã-bretanha e também gerar vendas de exportação.

Os componentes pré-fabricados serão montados e transportados por caminhão ou navio. Inicialmente, as usinas deverão custar 2,2 bilhões de libras cada, o equivalente a US$ 3 bilhões, em comparação com um preço estimado de 22,5 bilhões de libras para uma usina de tamanho real agora em construção no oeste da Inglaterra.

Na França, o presidente Macron anunciou que reiniciaria o programa atômico do país para “cumprir” os compromissos da França de reduzir as emissões de carbono. Um recente relatório encomendado pelo governo concluiu que a França provavelmente não conseguirá atingir emissões líquidas zero até 2050 apenas com energia renovável.

Espera-se que seu governo autorize a Electricité de France a construir seis novos reatores pressurizados e gaste bilhões para ajudar a EDF a produzir pequenos reatores nucleares modulares até 2030. •

Caminho Argumento de defesa é que energias eólica e solar não serão suficientes para as metas de emissão zero.