Distribuidoras de gás ainda possuem alto volume não contratado a poucas semanas do fim do ano

FONTE: Brasil Energia

Além do aumento sem precedentes nos preços, setor terá diversos supridores a partir de 2022, mas descontratação requer rapidez contra falta de gás, diz Rivaldo Moreira, da Gas Energy

O ano de 2022 trará um novo cenário para o mercado de gás natural no Brasil. Além do aumento sem precedentes nos preços, o setor passará a lidar com diversos supridores, e não apenas a Petrobras, para abastecer as distribuidoras estaduais e ainda valores diferentes vigorando entre as regiões do País.

Enquanto as concessionárias do Nordeste já fecharam seus contratos com fornecedores privados, empresas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste permanecem com negociações em aberto, muitas com chamadas públicas em andamento, como a Sulgás, (RS), SCGás (SC), Compagás (PR), MSGás (MS), enquanto as demais continuam sem definição a respeito de seus futuros supridores. Em resumo, há elevado volume de gás ainda não contratado a poucas semanas do fim do ano, quando os atuais contratos expiram.

A questão é séria e a solução requer rapidez nas negociações a fim de evitar problemas de desabastecimento a partir de janeiro de 2022. O problema, na avaliação de Rivaldo Moreira, presidente da Gas Energy, consultoria especializada em gás e energia, é que as empresas passam pelo pior momento para negociar preços e prazos. Há muitas incertezas em relação ao movimento da oferta e demanda, logo de custos, para os próximos meses, o que leva o supridor – Petrobras e grupos privados – a adotarem postura conservadora, tendendo a passar o risco da volatilidade adiante.

“Como não se sabe quanto vai custar o gás, eleva-se o preço. Vamos começar a ver preços diferentes em cada Estado porque as negociações são diferentes, mas é sinal de que o mercado está andando”, disse Moreira.

A abertura do mercado, lado positivo desse novo panorama, entretanto, esbarra nessa dificuldade de negociação para novos contratos, agravada com a proposta da Petrobras de reajuste de 200% nos preços do GNL. As condições mudaram drasticamente nos últimos meses, levando a um cenário de incertezas. Algumas distribuidoras estão com partes contratadas e outras ainda não contratadas.

Parcela dos portfólios vence este ano e não está claro para o mercado os resultados das contratações, na avaliação de Moreira, para quem o setor enfrenta, paralelamente, competição por parte dos fornecedores privados, falta de disponibilidade do gás e continuidade do protagonismo da Petrobras no suprimento.

Contratos de distribuidoras de estados da região Sudeste – Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais – ainda estão em discussão. A conclusão das negociações da Gasmig, Naturgy e ESGás, prevista para final de outubro e novembro, foi adiada. A paulista Comgás deveria divulgar as propostas selecionadas nas chamadas públicas em 15 de outubro, o que tampouco foi feito.

A esse fato, soma-se a possibilidade de recuo de propostas já encaminhadas por parte dos supridores, a exemplo da Petrobras, que modificou as condições e reapresentou oferta com novos valores. O período de maior consumo no hemisfério Norte que virá com o início do inverno ainda não chegou e o mercado se mantém em compasso de espera. É esse comportamento da demanda que ditará os preços do gás nos próximos meses, na avaliação do presidente da Gas Energy.

“A expectativa é de alta, podendo haver um arranque maior dos preços nos primeiros meses de 2022. O fato é que como não há clareza sobre para onde o mercado vai, negociar contratos agora está sendo muito difícil”, observou Moreira, ressaltando a relevância da participação do GNL importado no portfólio da Petrobras, que pode ser ampliada nos próximos meses.

Entre julho e agosto de 2021, a receita da estatal com a venda de gás natural cresceu 28,7% em relação ao trimestre anterior. Já os custos com compras e importações no mesmo período quase dobraram. A alta foi de 96,3%, devido ao aumento expressivo do preço e do volume do produto importado. Os números demonstram que a Petrobras faturou mais com a comercialização de gás, mas a margem obtida foi menor.

Diante do atual panorama, resta apenas uma opção para o impasse entre distribuidoras, que entraram com representação no Cade para que a Petrobras mantenha as atuais condições nos novos contratos, e a estatal. “Não tem outro caminho que não seja a mesa de negociação. As distribuidoras não podem ficar sem gás. Em um ano eleitoral, como o de 2022, a Petrobras estará no centro da discussão. Acho improvável que não se chegue a um acordo para evitar interrupção no suprimento. Não vejo outro caminho que não seja o da busca por equilíbrio”, concluiu Moreira. Ou seja, sem intervenção.