Leilão do pré-sal de dezembro atrai pelo menos 9 empresas
FONTE: Valor Econômico
Rodada envolve R$ 11,1 bilhões em bônus de assinatura
Ao menos nove petroleiras manifestaram o interesse no leilão dos volumes excedentes da cessão onerosa dos campos de Sépia e Atapu, no pré-sal da Bacia de Santos. A licitação está marcada para 17 de dezembro e envolve o pagamento total de R$ 11,1 bilhões em bônus de assinatura pelos ativos.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) informou ontem que habilitou oito empresas para a rodada: Chevron, Enauta, Equinor, ExxonMobil, Petrogal, Petronas e TotalEnergies estão aptas a participar como operadoras e a colombiana Ecopetrol como não operadora. A elas se soma a Petrobras, que exerceu o direito de preferência pela aquisição das duas áreas, com percentual mínimo de 30%. A estatal desponta como protagonista da licitação. Segundo a ANP, outros pedidos de habilitação ainda poderão ser analisados.
Os excedentes são os volumes descobertos de petróleo que ultrapassam os 5 bilhões de barris que a Petrobras tem direito de produzir no pré-sal, como parte da cessão onerosa – contrato assinado em 2010, dentro da operação que culminou no aumento da fatia da União no capital da estatal.
Os volumes excedentes de Sépia e Atapu foram ofertados, pela primeira vez, em 2019. Na ocasião, as áreas não despertaram o interesse das petroleiras, que viram muitos riscos nas regras da rodada, sendo o principal deles a necessidade de negociar com a Petrobras, depois da assinatura dos contratos, o valor da compensação financeira pelos investimentos já feitos nos ativos.
Com o insucesso no leilão de 2019, o governo reviu algumas regras. A principal novidade é que, depois de negociações entre a Petrobras e a estatal Pré-Sal Petróleo SA (PPSA), o valor da compensação financeira a ser paga à petroleira brasileira foi calculado previamente ao leilão. Os bônus de assinatura também foram reduzidos em 70%, em relação aos termos da licitação de 2019.
Na avaliação da Wood Mackenzie, o leilão dos excedentes de Sépia e Atapu será um “teste emocionante” para a disciplina de capital das empresas, num momento em que as petroleiras aproveitam a valorização da commodity para recuperarem o caixa, depois de um 2020 difícil para o setor, e assumem compromissos crescentes com a transição energética.
Em relatório sobre o leilão, a consultoria internacional destaca que houve melhorias nos termos da licitação, mas que os resultados econômicos de Atapu e Sépia “ainda não são convincentes”.
Num cenário de US$ 35 o barril do petróleo e em que as áreas sejam licitadas sem ágio no excedente em óleo (parcela de óleo da União), a Wood Mackenzie calcula que a taxa interna de retorno (TIR) de Atapu fica um “pouco acima de 10%”, enquanto a área de Sépia “falha em entregar retornos de dois dígitos”. Embora os preços do barril estejam acima de US$ 80, as petroleiras globais costumam “testar” a atratividade econômica de ativos num cenário de preços mais baixos, antes de decidir se avançam com novos projetos.
Por outro lado, do ponto de vista da qualidade dos ativos, a Wood Mackenzie ressalta que Atapu e Sépia são campos já em fase de produção e contam com poços de alta produtividade. Esse perfil, segundo a consultoria, é atrativo para empresas que ainda não contam como geração de caixa no país, como a ExxonMobil, Chevron e BP.
Outras petroleiras que estão em fase de expansão em águas profundas, como CNOOC, CNPC, Ecopetrol e Petronas também podem se interessar pela licitação. Shell, TotalEnergies e Petrogal, por sua vez, atuam junto com a Petrobras na jazida compartilhada de Atapu – que se conecta à concessão BM-S-11A (Oeste de Atapu) – e são candidatas naturais ao leilão. “Há chances de concorrência, mas não esperamos movimentos agressivos na oferta. Esperamos mais disciplina em termos de óleo lucro oferecido à União, nada exuberante como 40%, 60%, 70%”, afirmou o chefe de pesquisa de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis.