Brasil pode ser gigante em baterias, mas precisa de regulação abrangente, diz Atlas Renewable Energy

Guerra comercial pode beneficiar mercado de armazenamento na América Latina, na visão da empresa, mas cenário ainda é incerto

FONTE: Eixos.com.

Calama (CL) — O Brasil tem potencial para ser um dos maiores mercados para baterias na América Latina, segundo o diretor Comercial da Atlas Renewable Energy, Luis Pita.

Para isso, no entanto, o país precisa desenvolver uma regulação abrangente que permita diferentes aplicações, além de viabilizar o desenvolvimento da cadeia nacional para esse segmento. “É um mercado gigantesco”, diz.

A expectativa é que o armazenamento possa substituir parte da potência que é atendida por termelétricas ao final do dia, quando a geração solar cai.

O Ministério de Minas e Energia (MME) indicou a possibilidade de realizar um leilão para contratação de sistemas de armazenamento ainda este ano. O ministro Alexandre Silveira (PSD) viajou à China para reunir com executivos do setor esta semana.

A Atlas Renewable Energy acaba de inaugurar um projeto em larga escalada no Chile e acredita que a regulação adequada para remunerar as baterias é mais importante que a contratação via leilões.

Uma das principais preocupações da operação hoje no Brasil é a confiabilidade do sistema. “A bateria ajuda muito a poder manter essa confiabilidade”, afirma Pita.

Além disso, o executivo ressalta que o país pode desenvolver a cadeia de construção e montagem das baterias, desde que haja demanda no mercado. Nesse sentido, ele aponta que é necessário rever os impostos aplicados ao setor.

“Se tivesse uma tônica de criação de indústria nacional, um programa de nacionalização progressiva, como aquele que acompanhou a indústria fotovoltaica, tem todo sentido começar com os importados, mas daqui a pouco tentar ter uma indústria nacional competitiva”, afirma.

Pita acredita que a América Latina tem potencial para se beneficiar da guerra comercial entre Estados Unidos e a China. Os EUA são o maior mercado global hoje para as baterias, enquanto os chineses são um dos principais produtores dos equipamentos.

Entretanto, o cenário é incerto. Até o momento, as tarifas de importação entre os dois países não resultaram em alterações nos preços da tecnologia.

“Se isso se mantiver por muito tempo, pode ter efeitos de sobrecapacidade de baterias. Porque o que vai acontecer é que haverá menos baterias nos Estados Unidos”, diz o CEO global da companhia, Carlos Barrera.

Projeto no Chile

A empresa inaugurou na quinta-feira (24/4) uma planta de armazenamento em baterias, o BESS Del Desierto, na região de Antofagasta, no Chile. Com capacidade instalada de 200 MW e armazenamento de 800 MWh, o projeto é um dos maiores da América Latina e está ligado a uma usina solar já existente da Atlas na região.

A intenção é desenvolver projetos semelhantes no Brasil, de modo a complementar o portfólio brasileiro de 1,6 GW em potência instalada de geração solar fotovoltaica, entre ativos em operação e construção. A companhia projeta alcançar 2,7 GW de capacidade em geração fotovoltaica no país até o final do primeiro trimestre de 2026.

De acordo com o country manager da Atlas Renewable Energy no Brasil, Fábio Bortoluzo, a companhia iniciou o desenvolvimento dos projetos na região pelo Chile porque o país já tinha uma regulação estabelecida para o armazenamento, além de sinais econômicos que viabilizaram o contrato de fornecimento da energia estocada.

Regulação é mais importante que leilão

Os executivos são unânimes em defender que o principal passo para destravar o mercado de baterias no Brasil é a publicação da regulação para o armazenamento, atualmente em elaboração pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A expectativa é que a regulação seja publicada em maio, antes da divulgação da portaria  do primeiro leilão brasileiro de armazenamento, que o governo pretende realizar ainda este ano.

“A regulação é mais importante do que o próprio leilão público”, ressalta Bortoluzo. Na visão dele, o certame não vai ser suficiente para destravar todo o potencial da tecnologia no país.

Por isso, defende, é importante que a regulação seja abrangente e não foque apenas na aplicação das soluções que serão contratadas no certame.

“Se a regulação for mais abrangente, você não fica dependente do leilão para viabilizar a tecnologia. A nossa visão é que a regulação seja mais abrangente e permita o uso da bateria, por exemplo, com projetos existentes ou novos projetos”, diz.

Um dos aspectos importantes em discussão na regulação para viabilizar os projetos, por exemplo, são as regras das ordens de despacho.

Para conseguir incluir as baterias em projetos de geração existentes é importante a possibilidade de editar o parecer de acesso existente, sem necessidade de emissão de um novo parecer.

“A bateria não é uma fonte, é uma tecnologia, é um equipamento adicional ao sistema”, ressalta.

Ele reconhece, no entanto, que o leilão vai ser importante para atender às necessidades de potência do sistema elétrico brasileiro. Além disso, também vai ser uma oportunidade para desenvolver linhas de financiamento para esse modelo de negócios.

“É uma primeira ignição para pautar a regulação e para ter uma primeira experiência, para ensinar o mercado de capitais e os bancos de desenvolvimento, para nascer uma indústria de montagem desses sistemas”, afirma.

Reforma do setor

Em relação à proposta de reforma do setor elétrico apresentada pelo Ministério de Minas e Energia, Bortoluzo pontua que eventuais alterações nas regras de autoprodução precisam ser bem discutidas para não restringir novos empreendimentos.

“Uma das grandes dificuldades da economia brasileira é o custo de energia para os eletrointensivos. Então, esse arranjo viabiliza não só indústrias, mas vários setores. E é importante que a gente não mate o que já existe”, diz.

Ele lembra que é importante manter a segurança jurídica do mercado. “E que essa discussão seja uma discussão transparente e com números sérios. Que a gente realmente estude os impactos das decisões a serem tomadas e, se houver uma mudança, que seja bem medida e bem discutida”, complementa.


A jornalista viajou ao Chile a convite e com despesas pagas pela Atlas Renewable Energy