A UE finalmente se tornou independente do gás russo. Agora enfrenta uma dependência igualmente incerta: o GNL dos EUA

Bruxelas reiterou seu objetivo de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis russos até 2027, mas o alto preço do GNL americano continua sendo um obstáculo

FONTE: terra.

Nos últimos cinco anos, o fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) na Europa dependia principalmente das reservas russas, que representavam quase 40% das importações graças aos preços competitivos e uma extensa rede de gasodutos. No entanto, a Europa tem buscado reduzir a dependência do gás russo devido à guerra na Ucrânia, enfrentando um cenário energético incerto. Além disso, o bloco ainda importa quantidades recordes de GNL russo por navio.

As reservas, que haviam atingido níveis históricos no ano passado devido às políticas de armazenamento, agora começam a cair. Diante dessa situação, a Europa optou por diversificar suas fontes e aumentar as importações de GNL de outros países, sendo os EUA um dos fornecedores emergentes. No entanto, essa transição não será nada fácil.

Como o fim de um dos grandes paradoxos da guerra afetará o conflito na Ucrânia: o gás russo não flui mais na Europa
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Assim que assumiu, em menos de 24 horas, Donald Trump assinou uma ordem executiva com as diferentes medidas que tomaria imediatamente. O presidente dos EUA fez uma advertência à União Europeia, exigindo que comprem mais petróleo e GNL de seu país ou, caso contrário, enfrentarão a imposição de tarifas.

Essa ameaça ocorre em um contexto de tensões comerciais e energéticas, onde os EUA buscam ganhar terreno no mercado europeu, que historicamente depende das importações de energia da Rússia. No entanto, a UE não tem um poder de compra centralizado que permita negociar contratos em grande escala, já que são as empresas individuais que decidem de onde comprar o gás.

Evolução das importações de GNL da Europa nos últimos anos
Evolução das importações de GNL da Europa nos últimos anos

A evolução do fornecimento de gás

O gráfico acima representa o fornecimento de GNL na Europa, que passou por mudanças notáveis. Há mais de 15 anos, o gás natural liquefeito vinha, em sua maioria, de países como o Catar e outros produtores. No entanto, a dependência da Rússia foi se estabelecendo ao longo do tempo.

A posição dos EUA como fornecedores da Europa começou a se consolidar a partir de 2020, quando ficou evidente sua ascensão. Isso ocorreu, em grande parte, devido às sanções e restrições comerciais impostas ao Kremlin, o que obrigou a UE a diversificar suas fontes. Em 2024, as importações dos EUA atingiram níveis históricos, superando até mesmo os fornecedores tradicionais.

A posição da Europa

Embora Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, tenha mostrado disposição para substituir o gás russo pelo GNL dos EUA, a UE não tem capacidade de compra centralizada em grande escala, de modo que cada país membro negocia independentemente. Por sua vez, Hungria e Eslováquia, mais alinhadas com o Kremlin devido aos seus acordos energéticos, podem não concordar com essas medidas da UE.

Bruxelas tem como objetivo reduzir a dependência dos combustíveis fósseis russos até dentro de dois anos, mas o alto preço do GNL dos EUA, em comparação ao gás russo, continua sendo um obstáculo significativo. Além disso, a UE luta para proteger suas indústrias e reduzir os altos preços da energia, especialmente em países como a Alemanha, que dependem do gás para sua indústria.

E a Rússia?

A pesar da guerra na Ucrânia e das sanções impostas pelos EUA e pela UE, a Rússia continua sendo o maior fornecedor de gás da União Europeia. O motivo é que as empresas europeias continuam importando grandes volumes de GNL russo devido aos preços mais baixos e à falta de alternativas acessíveis a curto prazo. Por sua vez, o Kremlin está buscando novos mercados para sua energia e se aproximando cada vez mais do continente asiático.

A capacidade de produção de GNL dos EUA está aumentando e espera-se que mais plantas de gás natural entrem em operação nos próximos anos. Até 2026, os Estados Unidos, o Canadá e o Catar poderão atender grande parte da demanda europeia de GNL, reduzindo assim a necessidade do gás russo. Além disso, a UE busca reduzir seu consumo de gás natural em 25% até 2030, alterando os padrões de importação e mercado. No entanto, os preços continuarão sendo um obstáculo considerável para uma mudança total para o GNL americano.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.