Etanol de milho: empresas ampliam e diversificam produção
FONTE: Revista OE.
O mercado de etanol de milho no Brasil tem mostrado crescimento significativo nos últimos anos, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos e tecnológicos. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), a produção saltou de 500 milhões de litros, em 2017, para 6,3 bilhões de litros na última safra, com previsão de atingir 7,3 bilhões de litros no ciclo 2024/2025. Esse boom é sustentado por robustos investimentos. Empresas como Inpasa, FS – Fuel Sustainability e ADM estão investindo na produção do etanol e de seus subprodutos, como nutrição animal, agregando valor ao milho.
Tal crescimento é ainda mais relevante quando se levam em conta as inovações tecnológicas implementadas nas usinas. Novos processos de fermentação e o uso de biomassa para geração de energia têm aumentado a eficiência e a sustentabilidade do etanol brasileiro em comparação com o produzido em outros países, como os EUA (maior produtor mundial), que utiliza gás natural. Segundo os especialistas, além de reduzir os impactos ambientais, o uso do milho de segunda safra para produzir etanol amplia a eficiência agrícola.
Entre os subprodutos da produção de etanol a partir do milho, destacam-se o DDG (grãos secos de destilaria, na sigla em inglês) e o DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis, idem), ricos em energia e macro e microminerais, que podem ser utilizados em dietas de alto desempenho para múltiplas espécies de animais (aves, suínos, equinos, bovinos, ovinos, caprinos, peixes e animais domésticos). Durante o processo de fermentação do milho para produzir etanol, os açúcares do grão são convertidos em álcool e o que sobra é uma mistura de fibras, proteínas, óleo e minerais. Após a remoção do álcool, o restante é seco, resultando no DDG.
Já o DDGS é uma forma mais completa do DDG, em que os solúveis condensados – parte líquida rica em nutrientes que é separada durante a produção de etanol – são misturados de volta ao DDG antes do processo de secagem. Isso resulta em um produto com um valor nutricional mais alto, especialmente em termos de conteúdo proteico e energético, o que o torna mais atrativo como ração animal.
Uma das maiores produtoras de etanol de milho do país, a Inpasa investirá até R$ 4 bilhões na construção de duas novas biorrefinarias, uma em Sidrolândia (MS) e outra em Balsas (MA), além de ampliar sua unidade de Sinop (MT). De acordo com a empresa, foram investidos R$ 1,2 bilhão na primeira fase da obra de Sidrolândia, expandindo para R$ 2,5 bilhões com a finalização da segunda fase, no quarto trimestre deste ano. A planta tem capacidade para processar até 2 milhões de toneladas de grãos, para uma produção anual de 450 mil toneladas anuais de DDGS, 44 mil toneladas de óleo, 800 milhões de litros de etanol e 400 Gwh de energia elétrica.
Em Balsas – cuja influência atinge a microrregião conhecida como Matopiba, que liga partes dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – foram investidos R$ 1,2 bilhão para o processamento de 1 milhão de toneladas de grãos, convertidas em 225 mil ton/ano de DDGS, 22 mil ton/ano de óleo, 400 milhões de litros/ano de etanol e 200 Gwh de energia elétrica.
Já em Sinop, a capacidade de operação foi duplicada neste ano, chegando a 4,3 milhões de toneladas de milho processados em quatro fases. A partir das plantas instaladas, a Inpasa fechará 2025 processando 12,2 milhões de toneladas de grãos, com uma produção de 5,5 bilhões de litros de etanol, 4 milhões de toneladas de DDGS, 300 mil toneladas de óleo e 1.513 GWh de energia elétrica.
“Em nossa estratégia de verticalização inserimos novos negócios ao grupo, entre eles, a diversificação da produção de óleos vegetais, além da construção de uma indústria de etanol neutro, que trará novas alternativas para indústrias farmacêuticas, cosméticas e muitas outras”, conforme anunciou em seu relatório de sustentabilidade”, informa a empresa, em nota.
Foi concluída recentemente a construção da planta de óleo semirrefinado e ácido graxo na unidade de Dourados (MS), “um marco importante na estratégia de verticalização, adicionando dois produtos ao portfólio da Inpasa, possibilitando acesso a novos segmentos e mercados como a indústria de biopolímeros, química, de ração animal e biocombustível”, diz o comunicado.
Com investimento de R$ 160 milhões, a planta de Dourados produzirá 400 m3/dia de etanol neutro ainda neste ano. Trata-se de um tipo de álcool com alto grau de pureza, não interferindo em aromas ou sabores. Sua aplicação é destinada às indústrias de bebidas, farmacêutica e de cosméticos.
Entre 2022 e 2023, a produção de DDGS da Inpasa cresceu 45%. Foram comercializados mais de 1,4 milhão de toneladas do produto, cerca de 50% a mais que no ano anterior. Além da fatia de 73% do mercado interno, a Inpasa exportou 680 mil toneladas em 2023. No ano passado também, a empresa comercializou quase 3 bilhões de litros de etanol no mercado nacional, o que representou 8% de participação no volume total de etanol (anidro+hidratado) do mercado brasileiro. Apenas com a ampliação da unidade de Nova Mutum, a Inpasa teve um crescimento de 48% na produção de biocombustível. Além disso, fez a primeira exportação de etanol de uma planta brasileira para a Coreia do Sul – foram embarcados mais de 7 mil m3 do produto.
FS aposta em novas tecnologias
Pioneira na indústria de etanol do Brasil que utiliza exclusivamente o milho como matéria-prima, a FS inaugurou a primeira unidade industrial em 2017, em Lucas do Rio Verde e atualmente possui outras duas operações, em Sorriso e Primavera do Leste, todas no Mato Grosso – o Estado responde por quase 70% da produção nacional de etanol de milho.
Englobando a três unidades, a FS tem capacidade anual para produzir 2,3 bilhões de litros de etanol, 4,9 milhões de toneladas de milho processadas, 80 mil toneladas de óleo de milho e 1,8 milhão de toneladas de DDG, além de gerar, a partir da biomassa, 650 mil MW de energia elétrica.
Os planos de expansão da empresa contemplam a abertura de mais unidades industriais em Mato Grosso, com o objetivo de atingir capacidade produtiva de 5 bilhões de litros de etanol por ano. “A FS tem projetos em desenvolvimento em Querência, Campo Novo do Parecis e Nova Mutum. Podemos ampliar nossa capacidade operacional com a instalação de novas unidades ou ampliação de nossas indústrias atuais”, afirma Daniel Lopes, vice-presidente executivo de Sustentabilidade e Novos Negócios da FS, destacando também o foco em inovação. “Com o uso da tecnologia FST (fiber separation technology), que permite a separação das fibras do milho, os produtos para nutrição animal apresentam como diferencial o alto nível de proteínas, fibras e boa digestibilidade”, diz.
Há um projeto na empresa de captura de carbono que prevê injetar dióxido de carbono (CO2) em poço de até 2 km de profundidade, como explica o vice-presidente. “A FS concluiu estudos técnicos que comprovam condições geológicas adequadas para injetar no subsolo o CO2 emitido na fase de fermentação da produção do biocombustível. A conclusão aponta que a formação rochosa Diamantino, localizada na Bacia dos Parecis (MT), tem condições adequadas de porosidade e permeabilidade para receber o CO2 e mantê-lo estocado com segurança, abaixo de uma camada de rochas selantes capazes de evitar que o gás retorne à superfície.”
Com isso, segundo o executivo, a empresa pode se tornar a primeira produtora de etanol com pegada negativa em carbono do mundo e a primeira a desenvolver a tecnologia BECCS (sigla em inglês para produção de bioenergia com captura e armazenamento de carbono) na produção de etanol fora dos EUA. “A adoção da tecnologia vai evitar o lançamento na atmosfera de aproximadamente 423 mil toneladas de CO2 por ano pela operação da indústria em Lucas do Rio Verde. Posteriormente, a solução poderá ser implantada em outras unidades, atingindo um potencial de remoção de CO2 da atmosfera de mais de 1,8 milhão de toneladas de carbono por ano”, frisa Lopes.
ADM foca em nutrição animal
Uma das maiores companhias de agronegócio do mundo, a norte-americana ADM anunciou a construção de uma fábrica de premix (mistura de minerais, aminoácidos, vitaminas e aditivos) em Apucarana (PR), que ampliará sua capacidade de produção em 40%. A companhia está entre as dez maiores fabricantes de produtos de nutrição animal no País e pretende ficar entre as três primeiras.
“A construção da nova planta já começou”, revela Fernando Bocabello, diretor comercial de Premix e Aditivos da ADM para América Latina. O cronograma das obras da nova instalação da ADM está avançando, sendo que a fase de infraestrutura civil já foi concluída, passando agora à fase de construção industrial. “Toda a engenharia envolvida no projeto é de responsabilidade própria da ADM e a previsão é que a produção na nova fábrica inicie em setembro de 2025”, diz Bocabello.
De acordo com ele, a unidade será inovadora e tecnológica. “A fábrica de 7.500 m² contará com equipamentos modernos, possibilitando atendimento a mercados de avicultura, suinocultura, aquicultura e bovinocultura de leite e corte”. Ela terá tecnologia de rastreamento e mapeamento de todos os ingredientes inseridos nas formulações do premix e poderá produzir formulações personalizadas também, sem o risco de contaminação cruzada.
A divisão de nutrição animal da ADM passou por uma evolução estratégica nos últimos anos, focando em transformação operacional, otimização de fábricas, reposicionamento de marca e expansão de mercado. “Esse esforço conjunto impulsionou a posição da ADM no dinâmico cenário de nutrição animal do Brasil, que está testemunhando um crescimento substancial”, conclui Bocabello.
Como se extrai o etanol de milho
O milho recebido é classificado conforme seu padrão de qualidade e enviado para armazéns graneleiros. Em seguida, os grãos passam por um sistema de pré-limpeza e são encaminhados para a moagem seca, onde se transformam em uma espécie de farinha, a que são adicionadas água quente e enzimas. “O objetivo é converter o amido do milho em açúcares fermentáveis”, explica Daniel Lopes, da FS.
O mosto, que é resultado desse cozimento, passa pelo processo de separação de fibras. “A tecnologia usada permite a fabricação de três tipos diferentes de produtos para nutrição animal, além de garantir uma coloração uniforme e a eliminação de resíduos de açúcar”, observa Lopes. Esse mosto contendo amido, proveniente da separação das fibras, segue para fermentação. Cerca de um terço do produto é convertido em etanol e água.
O produto oriundo da fermentação é transportado para a destilaria, onde parte é transformada em etanol. O restante é centrifugado e transferido para a evaporação, onde a vinhaça grossa se transforma em um xarope rico em gordura, proteína, aminoácidos e outros componentes que aumentam o valor nutricional dos produtos para alimentação animal.
Por fim, o etanol anidro passa por um processo adicional de purificação para garantir sua qualidade como biocombustível. Isso pode envolver a remoção de impurezas, como aldeídos, ésteres e outros compostos indesejados, a fim de obter um produto de alta qualidade.