Setor de óleo e gás vê dificuldades na contratação de mão de obra e investe em iniciativas de formação e capacitação

FONTE: Petronotícias.

O setor de óleo e gás vive um momento de aquecimento e crescimento, impulsionado por anúncios de novas plataformas nas bacias de Campos e Santos, além de planos para unidades de produção em novas fronteiras, como Sergipe Águas Profundas. Com essa retomada, muitas empresas têm manifestado a intenção de expandir suas equipes. No entanto, diversas companhias relatam dificuldades em encontrar mão de obra. Por isso, iniciativas para a qualificação de profissionais têm ganhado força. SBM e Equinor, por exemplo, lançaram recentemente um programa voltado para capacitação de profissionais offshore. Seguindo essa mesma direção, a PRIO, uma das principais operadoras independentes de petróleo no Brasil, está se movendo para atrair novos talentos. Em entrevista ao Petronotícias, a Coordenadora de Gestão de Talentos e Recrutamento da petroleira, Luiza Martin, detalha os programas de qualificação e seleção da empresa e destaca as principais características exigidas pelas companhias do setor de óleo e gás. Ainda segundo Luiza, profissionais que buscam se realocar no mercado devem priorizar a atualização com novas tendências tecnológicas. “O profissional qualificado não perde suas habilidades, ele só precisa se manter atualizado. O setor tem feito grandes investimentos em tecnologia, e muitas inovações surgiram entre o último ciclo e o atual”, avalia.

Para começar nossa entrevista, é importante um contexto. Muitas empresas estão relatando dificuldade para contratar mão de obra no setor de óleo e gás. Gostaria de ouvir suas percepções e as da PRIO sobre esse assunto. A empresa também tem percebido essa dificuldade?

PRIOSim, estamos percebendo esse desafio na contratação de novas pessoas aqui para a empresa. Isso se deve ao fato de que o setor de óleo e gás está em um momento de grande aquecimento. Novos projetos estão surgindo, novos campos de produção de petróleo estão sendo desenvolvidos no Brasil, e isso acaba impactando toda a cadeia do setor. Com mais vagas disponíveis e o mesmo número de profissionais, a contratação se torna mais difícil.

Além disso, na PRIO, levamos muito a sério o fit cultural. Não buscamos apenas as qualificações técnicas; é essencial que o candidato também esteja alinhado com nossos valores e comportamentos internos. Temos uma cultura própria e um modo de operar que, muitas vezes, é diferente do padrão do setor. Esse é um critério importante para nós, e não vamos abrir mão dele. Portanto, o aquecimento do setor e nossas exigências culturais tornam o processo de seleção ainda mais desafiador.

A questão da mão de obra é uma preocupação de várias empresas para o médio e longo prazo, especialmente com novos projetos e investimentos em andamento. Como avalia esse cenário?

Historicamente, o setor de óleo e gás no Brasil é marcado por ciclos. Estamos agora em um momento de expansão, com o início de um novo ciclo de alta. Nesse contexto, as empresas começam a competir por profissionais, o que pode resultar em aumentos salariais. Isso pode acabar criando uma bolha, algo que já vimos acontecer em ciclos anteriores. Quando o ciclo de baixa chega, ocorre a desmobilização de pessoal, algo que também já presenciamos. A longo prazo, existe o risco de que pessoas que hoje estão optando por formações, como engenharia, possam enfrentar um mercado saturado quando se formarem. Esse é um possível impacto futuro que devemos considerar.

Poderia traçar um pouco o perfil do profissional que as empresas do setor estão buscando?

prioAcredito que seja difícil traçar um único perfil, pois cada empresa tem seu próprio ambiente, modo de operar e o que valoriza em termos de comportamento. Posso falar um pouco sobre a PRIO e as habilidades que, de forma geral, as empresas buscam atualmente. Com o avanço da tecnologia, é cada vez mais essencial que os profissionais se desenvolvam nessa área. Além disso, valorizamos pessoas curiosas, que busquem conhecimentos além do técnico.

Um ponto que parece ser comum em todas as empresas do setor é o inglês, que se tornou fundamental, já que estamos em um mercado com fornecedores e interações constantes com empresas internacionais.

Na PRIO, especificamente, buscamos profissionais que sejam curiosos e procurem expandir seu conhecimento, inclusive fora de sua área de atuação, para agregar de outras maneiras. Valorizamos também pessoas ousadas, que proponham soluções inovadoras e que busquem resultados de forma constante. 

Em sua opinião, como estimular a formação de novos profissionais para atender essa demanda crescente do setor?

Na minha opinião, é essencial estarmos próximos dessa nova geração e mostrar as diversas oportunidades disponíveis. A PRIO tem um calendário de iniciativas ao longo do ano para manter contato com estudantes em formação, seja em cursos técnicos ou graduações. Participamos de eventos universitários, feiras e até palestras diretamente nas salas de aula. Nessas ocasiões, abordamos o tema do setor de óleo e gás, explicamos sobre a PRIO e apresentamos o nosso ambiente, que é um pouco mais disruptivo em comparação com a imagem tradicional da indústria. Isso já funciona como um diferencial interessante para atrair os estudantes.

Além disso, mostramos todas as oportunidades de carreira dentro da empresa, não apenas nas áreas de Engenharia, mas também nas funções de back office. Tentamos oferecer uma visão ampla das possibilidades de crescimento dentro do setor de óleo e gás e da PRIO de forma geral. Marcamos presença em universidades do Rio de Janeiro e em outras cidades, mantendo contato com iniciativas estudantis voltadas para o setor. O objetivo é disseminar informações e expandir os horizontes desses jovens, ajudando-os a enxergar novas possibilidades de carreira e propósito.

E qual o caminho para o profissional já formado que está buscando realocação no mercado de trabalho?

prioComo mencionamos no início da entrevista, o setor está em um momento de grande aquecimento, e o que não falta são vagas. Se você acessar qualquer plataforma de divulgação de oportunidades, verá diversas posições no setor de óleo e gás. Minha recomendação para quem está fora do mercado e quer se realocar é focar em uma atualização nas novas ferramentas e tecnologias. Não estou falando de uma nova formação, mas de um refresh, uma reciclagem sobre as tecnologias que estão sendo utilizadas atualmente na indústria. O profissional qualificado não perde suas habilidades, ele só precisa se manter atualizado. O setor tem feito grandes investimentos em tecnologia, e muitas inovações surgiram entre o último ciclo e o atual.

Para encerrar nossa entrevistas, quais são as iniciativas da PRIO voltadas para a formação de novos talentos?

Temos duas grandes frentes voltadas para o desenvolvimento de talentos. Externamente, patrocinamos o curso de qualificação Reação Offshore, uma iniciativa em parceria com o Instituto Todos na Luta, o Instituto Reação e a Firjan Senai. O objetivo é capacitar profissionais para o setor de óleo e gás, e já formamos mais de 300 pessoas por meio desse programa. Os formandos saem prontos para o mercado, atualizados e, em alguns casos, a PRIO contrata alguns desses profissionais. O diferencial desse curso é que, além das habilidades técnicas, ele também foca nas competências socioemocionais, preparando os alunos para os desafios do trabalho offshore, que exige um conjunto específico de habilidades comportamentais.

Internamente, temos nossos programas de entrada, como o programa de estágio, que abrange todas as áreas da empresa e desenvolve tanto hard quanto soft skills. Além disso, contamos com o programa de trainee, voltado para recém-formados sem experiência no setor de óleo e gás. Nele, os participantes passam por uma rotação completa pela empresa, incluindo experiência offshore, para que saiam com uma visão holística e estejam preparados para atuar em diversas áreas.