Bracell vai ampliar fábrica de papel recém-inaugurada

Instalada em Lençóis Paulista, unidade tem capacidade de produção de 240 mil toneladas por ano e vai receber mais 120 mil toneladas em 2025

FONTE: Valor Econômico

Mais nova competidora no mercado brasileiro de papéis de higiene (tissue), a Bracell, do grupo asiático Royal Golden Eagle (RGE), vai ampliar em 50% a capacidade da megafábrica que acaba de colocar em operação em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, ao lado da unidade de produção de celulose do grupo.

Com investimento inicial de R$ 2,5 bilhões, a fábrica de papel tissue entrou em operação no fim de 2023, apta a produzir 240 mil toneladas por ano com quatro máquinas, de 60 mil toneladas cada. A aposta da gigante de Cingapura, que já trouxe US$ 6,5 bilhões em investimentos desde que chegou ao país, há cerca de duas décadas, contudo, vai além desse volume.

Ainda não há um valor fechado para o novo investimento, que envolve a instalação de mais duas máquinas de 60 mil toneladas de papel tissue, elevando a 360 mil toneladas por ano a capacidade ali instalada. A estimativa de mercado é que um projeto desse porte demande desembolso da ordem de R$ 1 bilhão, mas a estratégia é aproveitar a estrutura já construída e as utilidades da fábrica de celulose da Bracell, que já servem às operações atuais de tissue.

“O mercado está em ebulição. Estamos muito confiantes com o Brasil”, disse ao Valor o diretor-geral da empresa, Eduardo Aron, em sua primeira entrevista no cargo. Ex- Kimberly-Clark e ex- Santher, o executivo, que vem da área de consumo, foi convidado a assumir a posição há pouco mais de um ano.

Hoje, a fábrica paulista já é a maior instalação única do mundo para produção de papel higiênico. Com a ampliação, que vai começar a ser executada em 2025, serão adicionadas 120 mil toneladas por ano à capacidade de produção de papel, que poderá ser convertido em papel higiênico e toalha ou ser vendido em bobinas, inclusive a clientes internacionais. A proposta é usar o Brasil também como plataforma de exportação de bobinas, além de produzir para terceiros que têm marcas próprias de tissue.

Olhando para o mercado brasileiro, a ambição da Bracell é estar entre as líderes de mercado, com uma participação, em valor de vendas, entre 20% e 25% em três ou quatro anos. Segundo ranking da empresa de inteligência em varejo Scanntech, três empresas disputavam de perto o topo desse mercado até abril: a chilena Softys, com 19,8% considerando-se também a fatia da Sepac (comprada em 2019); a Suzano, com 19,2% e a Mili, com 19,1%. Na sequência, aparece a Santher, com 12,3%.

A estratégia para alcançar as líderes, segundo Aron, está calcada em ter um portfólio completo em papel higiênico, de folha simples a folha tripla, com o lançamento nesta semana da marca Supra para concorrer no mercado de maior valor agregado (“high-end”), nas versões folha dupla e folha tripla. Em termos de preço, não está nos planos da empresa oferecer descontos agressivos para deslocar a concorrência. “Entramos no jogo normal da indústria”, afirmou.

Estar no Estado de São Paulo, que responde por quase 50% do consumo de tissue no país, e ao lado da fábrica de celulose que abastece suas linhas, também é uma das fortalezas da estratégia comercial, segundo Aron. “Vamos atender com proximidade o cliente, atacando custos e garantindo qualidade de serviço”, explicou.

Neste momento, apenas uma das quatro máquinas de papel de Lençóis está em operação. O plano é acioná-las gradativamente até o fim do ano que vem, evitando potencial desequilíbrio entre oferta e demanda, e então iniciar o projeto de ampliação. O mercado local, que cresce entre 3,5% e 4% ao ano e movimenta cerca de 1,5 milhão de toneladas por ano, segue competitivo, mas a valorização da celulose trouxe pressão às margens.

A Bracell iniciou sua jornada no mercado nacional de tissue há um ano, com a compra da OL Papéis, vice-líder regional e com capacidade de produção de 50 mil toneladas por ano de papel – o que leva a 290 mil toneladas a capacidade total da empresa atualmente.

Na OL, que tem operações em Feira de Santana (BA), São Gonçalo dos Campos (BA) e Pombos (PE), a companhia está investindo R$ 100 milhões para modernização operacional, incluindo também a compra de mais uma máquina de conversão (que vai transformar o papel em rolos de papel higiênico, toalha ou guardanapos).

A Bracell decidiu manter as marcas Familiar, de papel higiênico, e Absoluto, de papel toalha, que vieram com a OL, e usá-las em seu portfólio nacional para disputar o mercado intermediário – grandes redes de varejo paulista já têm o produto em suas prateleiras. A OL é dona ainda da Velud, de papel higiênico, e das fraldas Fofura. A companhia não pretende trazer esse negócio para o Sudeste.

Grupo com negócios diversificados, a RGE está entre os cinco maiores produtores globais de tissue. Neste ano, firmou a compra da Vinda International, a segunda maior produtora de papéis de higiene da China, por US$ 3,5 bilhões. A primeira sinergia com a operação brasileira foi a adoção da tecnologia 3D e de cápsulas de ar entre as camadas de papel da linha Supra.