Um olhar do gás sobre a possível fusão 3R-PetroReconcavo
Transação, se vingar, consolida um dos maiores produtores de gás onshore do país e mexe com a dinâmica do midstream
FONTE: EPBR
PIPELINE 3R Petroleum e PetroReconcavo acenam positivamente para fusão. Transação, se vingar, consolida um dos maiores produtores de gás onshore do país e mexe com a dinâmica do midstream.
Governo prevê leilão de reserva de capacidade em agosto. Orizon e Urca formam sociedades para explorar biometano no Rio. Delta fecha contratos na Bolívia e mais. Confira:
FUSÃO NO GÁS ONSHORE
3R Petroleum e PetroReconcavo sinalizaram esta semana que têm interesse e estão abertas a avançar nas negociações para uma fusão entre as duas empresas na produção de óleo e gás onshore.
Se confirmada, a transação criará um dos dez maiores produtores de gás natural do Brasil; e tende a mudar também a dinâmica do midstream.
Novos contornos. No próximo dia 20, acionistas da 3R elegem o novo Conselho de Administração da companhia – cuja formação atual foi destituída pela Maha logo após a sueca adquirir 5% do capital da produtora brasileira e colocar sobre a mesa a proposta da fusão.
Também está na pauta da assembleia de acionistas a proposta de reforma do CA, para redução do número de membros, de sete para cinco cadeiras. No mercado, a mudança é entendida como um movimento da Maha para aumentar seu poder de influência na gestão da 3R no momento em que as avaliações internas sobre a fusão ganham tração.
3R e PetroReconcavo evitam falar em prazos para a negociação – a intenção original da Maha era concluir as conversas no 2º trimestre.
A seguir, a gas week faz uma breve leitura sobre as repercussões da possível fusão para a indústria do gás.
OS ACENOS
Executivos de ambas as empresas acenaram positivamente esta semana, para o avanço das conversas, ao comentarem sobre a possível fusão.
O CEO da PetroReconcavo, José Firmo, disse na quarta (6/3) que a diretoria e o Conselho da companhia “vêem mérito na potencial transação”.
As partes assinaram um termo de confidencialidade, para troca de dados técnicos entre as partes. A proposta de fusão está, hoje, sendo do avaliada separadamente pelas empresas em conjunto com seus respectivos consultores – a PetroReconcavo contratou o Jefferies para assessorá-la, enquanto a 3R recorreu ao Itaú.
“Nesse momento ainda é muito cedo para definir nossos passos ou qualquer outra questão” afirmou o diretor de Comercialização, Regulação e Novos Negócios, João Vitor Moreira, durante teleconferência com analistas e investidores sobre os resultados de 2023.
O diretor financeiro da 3R, Rodrigo Pizarro, por sua vez, comentou na quinta (7/3) que a operação “faz sentido” e que a empresa quer acelerar a análise da proposta.
“Estamos pensando de maneira global na criação de uma grande empresa onshore que tem números financeiros imbatíveis comparando com a América Latina, muita reserva provada, muita complementaridade, por ter ativos nas mesmas bacias (…) É uma soma de forças, do que tem de melhor nas duas áreas onshore, para que de forma conjunta crie essa nova entidade onshore que tem muito potencial”, afirmou, também em teleconferência.
“Ainda não há uma visão consolidada sobre estrutura de governança e prazo máximo para essa negociação”, ponderou.
Segundo ele, é importante acelerar o processo para evitar eventuais efeitos sobre os planos em execução pela petroleira.
O sucesso das negociações, claro, depende não só da vontade das administrações das empresas envolvidas, mas do aval dos acionistas de ambas as partes.
A PROPOSTA
A proposta de fusão entre as duas companhias partiu da Maha, petroleira sueca cujos ativos no Brasil foram comprados pela PetroReconcavo em 2022… e que é acionista da 3R.
A Maha propôs uma fusão restrita ao onshore (Potiguar e Recôncavo). Para isso, os campos de produção de óleo e gás e os ativos de midstream e downstream da 3R seriam segregados e transferidos para a empresa combinada. E a petroleira passaria a operar somente no offshore.
A transação se daria por meio de uma troca de ações (os acionistas da 3R passariam a deter ações da PetroReconcavo). Além disso, parte da dívida da 3R seria absorvida pela nova empresa.
Os acionistas da PetroReconcavo passariam a deter 50% da empresa combinada e os acionistas da 3R outros 47.5%. A Maha ficaria com 2,5%. A PetroReconcavo lideraria a operação dos ativos, reforçada pelo time 3R.
Estamos falando aqui de uma empresa combinada cuja produção de gás somaria cerca de 2,9 milhões de m3/dia (de acordo com os dados mais atualizados da ANP, de janeiro).
E operaria toda a infraestrutura associada, como a UPGN de Guamaré (além da Refinaria Clara Camarão e do terminal de Guamaré).
O QUE MUDA NO GÁS?
A fusão, em tese, tende a diminuir as opções por parte dos compradores. Sobretudo entre as distribuidoras do Nordeste, 3R e PetroReconcavo são, hoje, concorrentes na comercialização de gás.
Em termos de volumes, contudo, os ativos onshore da 3R não chegam a exercer grande peso na atual composição do mercado.
A maior parte da produção do gás da 3R vem de Peroá – ativo offshore que está de fora, num primeiro momento, da proposta de fusão. O gás onshore da empresa, na Bacia Potiguar, por sua vez, é voltado prioritariamente para uso interno, na produção de petróleo.
A companhia produz 1,1 milhão de m3/dia em terra, mas nem todo esse gás é de fato comercializado. Hoje, o volume firme de gás onshore da 3R contratado pelas distribuidoras estaduais de gás (Bahiagás e Potigás) é de 240 mil m3/dia. Para efeitos de comparação, a PetroReconcavo tem contratos da ordem de 1,4 milhão de m3/dia.
O impacto mais significativo de uma eventual fusão está na dinâmica do midstream. A Maha estima sinergias de US$ 1,1 bilhão a serem apropriadas pela nova empresa pós-fusão, na operação de óleo e gás onshore.
Uma das sinergias mais evidentes está no compartilhamento da UPGN de Guamaré, que pertence à 3R, mas que tem a PetroReconcavo como principal usuária.
QUEM GANHA
Na avaliação da Genial Investimentos, a fusão deve destravar valor para ambas as empresas – mas principalmente para 3R Petroleum, que é um ativo subavaliado.
Cita que o plano de negócios da 3R é mais ambicioso e a empresa tem um portfólio maior; maior proporção de óleo em relação a gás em sua carteira; e maior crescimento de produção esperado.
A implicação disso é que os acionistas de referência da 3R podem alegar, portanto, subavaliação do ativo na transação, tendo em vista todo o seu potencial de reprecificação em relação ao preço de tela atual.
Além disso, a operação reduziria o nível de alavancagem financeira da 3R – e ampliaria o da PetroReconcavo.
Mas do ponto de vista operacional, é a PetroReconcavo que deve colher os ganhos mais evidentes com as sinergias.
A PetroReconcavo, hoje, contrata a infraestrutura da 3R para processamento do gás da Bacia Potiguar – acesso que vem se mostrando um gargalo para empresa, devido a interrupções operacionais nos dutos e UPGN em Guamaré.
Além disso, a companhia se queixa dos custos de acesso às instalações (dutos e processamento) – de US$ 2,2 o milhão de BTU, segundo dados da própria 3R.
A fusão, destaca o Citi, reduziria os riscos de construção de uma UPGN pela PetroReconcavo na região – o que destruiria valor para ambas as empresas, como admite o próprio comando da PetroReconcavo.
A petroleira tem interesse em entrar como sócia da 3R na UPGN, mas as partes nunca avançaram num acordo. A 3R já manifestou anteriormente que se sente confortável na posição de prestadora de serviço para terceiros.
Diante disso, a PetroReconcavo vem estruturando um projeto de construção de uma UPGN própria no Rio Grande do Norte.
“Sabemos que, obviamente, a construção de uma UPGN exclusiva não é uma alternativa comercialmente boa. Melhor seria fazermos um acordo para a UPGN atual. Entretanto, a companhia tem que ter alternativas e colocar os planos de ação para estudar todas as alternativas disponíveis” comentou Firmo, na quarta.
A petroleira espera avançar no planejamento nos próximos seis meses, para avaliar, então, as opções de investimento.
O Citi avalia que a Bacia Potiguar é, justamente, onde reside o maior probabilidade upside (valorização de um ativo), com a fusão, porque a operação diminui a chance de uma nova UPGN na região, melhora a estratégia de comercialização de ambas as empresas e pode diminuir os custos do negócio de exploração e produção.
“No entanto, alcançar uma taxa de câmbio justa e boas condições para ambas as partes são os principais desafios para o potencial sucesso deste acordo”, pondera.
GÁS NA SEMANA
Leilão de potência em agosto. O Ministério de Minas e Energia abriu consulta pública para debater as regras do Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência de 2024. Concorrência é para unidades de geração, novas e existentes, que acrescentem potência elétrica ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Prazo para contribuições vai até dia 28 de março.
– Leilão incluirá, pela primeira vez, a possibilidade de contratação de energia hidrelétrica existente (para 2028). Também poderão ser contratadas termelétricas novas e existentes, para início da disponibilidade de potência a partir de 2027 e 2028.
– A Petrobras avalia participar do leilão, para negociar as termelétricas da estatal que estão descontratadas. Companhia descarta, contudo, incluir no leilão o projeto da UTE Polo Gaslub, o antigo Comperj, em Itaboraí (RJ).
Mais tempo para o Gás para Empregar. MME adiou por 30 dias a conclusão do grupo de trabalho do programa. A previsão agora é que os relatórios sejam finalizados até 8 de abril, para apresentação ao CNPE.
Delta fecha contratos na Bolívia. Empresa assinou dois acordos com a YPFB, para importação de gás até dezembro de 2026: um deles para sua comercializadora, de olho em oportunidades no mercado livre; e o outro para abastecer a UTE Willian Arjona (MS). Ambos os contratos preveem a aquisição de até 1,551 milhão de m3/dia cada.
New Fortress busca clientes para TGS. Companhia começa a operar o Terminal Gás Sul, em Santa Catarina, de olho nos novos leilões de termelétricas e na demanda do setor industrial para monetizar a planta de regaseificação.
Shell fecha contrato com a Gasmig. Major vai fornecer gás natural para a distribuidora mineira de gás canalizado até 2025. Petroleira chega a 1 milhão de m3/dia contratados junto às distribuidoras estaduais em 2024.
GNR Fortaleza inicia projeto piloto. Empresa acredita ser possível aumentar em 20% a produção de biometano do aterro de Caucaia (CE) a partir das flexibilização das regras de especificação do gás renovável pela ANP – projeto de sandbox regulatório autorizado pela agência.
Orizon e Urca juntas. As empresas vão criar duas sociedades para investir em plantas de gás renovável nos ecoparques Nova Iguaçu e São Gonçalo, no Rio. Produção inicial das unidades é estimada em 180 mil m3/dia.
Unigel para fábricas de fertilizantes (de novo). Empresa anunciou mais uma paralisação de suas duas unidades, em Sergipe e na Bahia, por causa do alto preço do gás. Demitiu 255 funcionários. Contrato de tolling entre Unigel e Petrobras está sob análise do TCU.
Consumo de gás cai na Europa. A demanda por gás natural no continente europeu diminuiu 19% nos últimos dois anos e chegou ao nível mais baixo em 10 anos, mostra o relatório “European LNG Tracker”, do Instituto de Economia Energética e Análise Financeira (IEFFA). O movimento foi impulsionado pelo aumento da eficiência energética e da renováveis após a Guerra da Ucrânia.