Magda Chambriard destaca a importância da Margem Equatorial e afirma que infraestrutura existente será usada para mitigar impactos ambientais na região
FONTE: PetroNotícias
O tema da nossa entrevista desta quarta-feira (28) é a Margem Equatorial brasileira. A Petrobrás já está explorando a região na Bacia Potiguar, onde recentemente já encontrou indícios de hidrocarbonetos e realizou a perfuração de dois poços na Bacia Potiguar. Mas essa nova fronteira exploratória abriga ainda outras áreas com grande potencial, como é o caso da Bacia da Foz do Amazonas. No entanto, a questão ambiental tem impedido a Petrobrás de perfurar a área, já que o Ibama reluta em conceder a licença ambiental. Para quem participou de perto do processo de licitação desses blocos na Bacia da Foz do Amazonas, é preciso ter certa agilidade para poder, enfim, avaliar o potencial de reservas da área. Esse é o caso da ex-diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP) , Magda Chambriard. Ela esteve à frente do órgão regulador durante a realização da 11ª Rodada de Licitações, quando os blocos da Bacia da Foz do Amazonas foram leiloados. “Aquele leilão teve a intenção de descentralizar parte do investimento exploratório em benefício do Norte e Nordeste. Mas, para além disso, a preocupação maior está no fato de que o Brasil precisa repor suas reservas de óleo”, lembrou. A entrevistada ressalta que estamos a menos de dez anos do pico do pré-sal e, por isso, é preciso repor as reservas brasileiras. “Foi muito difícil alcançar o nível atual de exportações de óleo do país, que são muito importantes para a nossa balança comercial. Daí a importância de explorar novas fronteiras e manter nosso patamar de produção”, pontuou. Por fim, Magda lembra que nessa fase exploratória, não será preciso construir uma “megalópole” na região. A própria infraestrutura existente na costa da Margem Equatorial poderá ser usada, mitigando o impacto ambiental.
Para começar, poderia falar aos nossos leitores sobre a importância estratégica de realizar a exploração da Margem Equatorial, tendo em vista a manutenção das reservas brasileiras de óleo e gás?
A Margem Equatorial é uma fronteira ainda pouco explorada. Como tenho dito, o esforço da ANP nesse sentido data de 2013, com a realização da 11ª Rodada de Licitações, na qual foram ofertados 289 blocos com risco exploratório. Aquele leilão teve a intenção de descentralizar parte do investimento exploratório em benefício do Norte e Nordeste.
Mas, para além disso, a preocupação maior está no fato de que o Brasil precisa repor suas reservas de óleo. Estamos diante de uma questão: qual fronteira poderá garantir a continuidade da produção e das exportações do país a partir do momento em que a produção do pré-sal começar a declinar?
Quando esse declínio deve acontecer?
Estamos a menos de dez anos do pico do pré-sal. Com o término do desenvolvimento do campo de Búzios, é muito provável que já comecemos a enfrentar o risco de não conseguir manter o nível de produção do Brasil. Além disso, foi muito difícil alcançar o nível atual de exportações de óleo do país, que são muito importantes para a nossa balança comercial. Daí a importância de explorar novas fronteiras e manter nosso patamar de produção.
Existe então uma certa urgência em explorar essas novas fronteiras para descobrir onde há reservas?
A exploração é uma atividade de risco para o investidor, tendo em vista que ninguém garante que ele vai conseguir encontrar petróleo. Mas essa atividade tem que ser feita com muita antecedência, sob o risco de chegarmos ao pico da produção nacional e não termos possibilidade de reposição de reservas depois. Minha preocupação principal é essa.
Essa preocupação estava muito bem expressa nas resoluções da ANP. É preciso sempre licitar uma área de alto potencial, como foi feito no pré-sal, bem como licitar áreas com oportunidades de negócios para as pequenas empresas. Além disso, sempre buscamos licitar e explorar áreas em novas fronteiras, com o objetivo de identificar as futuras bacias produtoras. Então, a questão da Margem Equatorial entra nesse escopo.
O tema da perfuração de poços na Margem Equatorial envolve sentimentos aflorados. De um lado, muitos defendem explorar o potencial econômico da região, mas outros apontam para o risco ambiental. Qual será a infraestrutura necessária para a atividade e quais seriam os potenciais impactos?
O primeiro ponto é descobrir se há petróleo ou não. Então, o primeiro passo para isso é a utilização de um navio-sonda para a perfuração de um poço exploratório. É óbvio que uma embarcação dessa também demanda o uso de barcos de apoio e helicópteros, por exemplo. Mas é evidente que toda essa movimentação acontecerá em algum lugar da costa onde já existe alguma infraestrutura. O Pará possui um porto grande e o Amapá também tem alguma estrutura portuária, por exemplo.
Certamente não será construída do zero uma base em uma área isolada de floresta. Isto é, será escolhida uma área que já está desenvolvida para abrir a infraestrutura necessária para a atividade exploratória. Até porque é muito mais caro fazer de outra maneira.
Tendo em vista a sensibilidade ambiental da área, qual seria a melhor opção de escoamento? Via dutos ou por meio de navios aliviadores?
Em geral, plataformas de águas profundas realizam o offloading para navios aliviadores, os quais transportam esse óleo para qualquer lugar do mundo.
O óleo, se descoberto e produzido, pode ser exportado para diversos destinos ao redor do mundo. Além disso, a Refinaria Abreu e Lima (RNEST), localizada em Pernambuco, poderia ser uma opção viável para o processamento desse óleo, embora haja outras possibilidades a considerar.
É importante destacar que, nesse primeiro momento de exploração da Margem Equatorial, não será construída nenhuma megalópole. Isso não aconteceu nem mesmo na vizinha Guiana, onde a atividade petrolífera está em uma etapa mais avançada, pois lá já existem plataformas produzindo.